×
Copyright 2024 - Desenvolvido por Hesea Tecnologia e Sistemas

Chikungunya volta a assustar

Quase 600 casos da doença já foram confirmados somente no primeiro trimestre de 2020 em Campos

Campos
Por Redação
27 de abril de 2020 - 6h00

Combate | Cerca de 180 agentes estão fazendo o trabalho de verificação de focos do mosquito. (Foto: Carlos Grevi)

Em tempos de coronavírus, outras doenças, também graves, acabam sendo “esquecidas”. Atingindo milhares de pessoas em Campos nos últimos anos, a chikugunya voltou a ser um alerta em 2020. Dados do Centro de Referência de Doenças Imuno-infecciosas (CRDI) revelam que somente neste primeiro trimestre, 595 casos já foram confirmados no município. O local que recebe frequentemente centenas de pessoas com sintomas como febre, dor de cabeça, dores musculares, nas articulações, inchação e manchas vermelhas pelo corpo, parou de realizar atendimentos desde o último dia 17 de março, por causa dos decretos que impõem restrições, entre elas, a proibição da abertura de repartições públicas por causa da Covid-19.

Nos últimos dois anos, o município viveu um surto epidêmico de chikugunya. No período de abril a agosto de 2019 foram mais de 8 mil casos confirmados da doença pelo CRDI. Em 2018, o índice chegou a 10 mil. O jovem Pedro Henrique Gomes, de 27 anos, trabalha como autônomo e fez parte dessa estatística. “Sentia fortes dores nas articulações e me vi impossibilitado de realizar atividades normais do meu dia a dia. Só queria ficar deitado, pois a dor era insuportável. Até hoje, volta e meia, esse sintoma volta, mesmo depois do tratamento”, conta.

A síndica de um condomínio de luxo da cidade, situado na Avenida Alberto Lamego, denunciou ao Jornal Terceira Via que cinco moradores estão entre os casos confirmados de chikugunya este ano em Campos. Segundo Leilah Cruz, as confirmações começaram a surgir após carroceiros depositarem pneus próximo a um valão que fica ao lado do condomínio. “O valão foi limpo recentemente, mas os carroceiros jogaram pneus e outros materiais e agora há um acumulo de lixo ali. E a gente sabe que o mosquito voa pelo menos uns 300 metros, então chega até as casas do nosso condomínio. Nesse momento em que vivemos, com tantos casos suspeitos de coronavírus, não é recomendado lotarmos os hospitais com casos de chikungunya. Precisamos que algo seja feito logo para evitar mais aglomerações nas unidades de saúde”, comentou.

Uma das moradoras que foi diagnosticada com chikungunya foi Sid Freitas. Com fortes dores no corpo e febre alta, ela não conseguia se movimentar. Entrou em contato com um médico que solicitou um exame de sangue que foi coletado em casa.

Daí veio o diagnóstico: chikungunya. “O mais triste é saber que peguei essa doença dentro da minha própria casa e, pior: sem poder sair por causa da quarentena”, declarou.

Sintomas| Febre e dor nas articulações são os principais sinais

Índice insatisfatório

Para piorar toda a situação, o resultado do primeiro Levantamento do Índice Rápido de Infestação do Mosquito Aedes Aegypti (LIRAa) de 2020 foi considerado insatisfatório, chegando ao total de 5%, o que significa alto risco. Em uma volta rápida pelas ruas da cidade é possível flagrar diversos pontos com acúmulo de lixo, cenário perfeito para aproliferação do mosquito também transmissor da dengue, da zika e da febre amarela. “O LIRAa deu muito alto e a gente tem pedido a colaboração da população também, além do trabalho dos agentes de endemias, para que tire 10 minutos do seu tempo por semana verificar a sua casa e quintal. Mas também, não adianta você limpar dentro do seu espaço, que é a sua residência, e colocar aqueles resíduos na rua”, explica Claudemir Barcelos, coordenador de combate a endemias.

Segundo o coordenador, cerca de 180 profissionais estão nas ruas orientando a população, mas devido à pandemia, eles estão proibidos de entrar nas residências. Entretanto, para reforçar o alerta, carros fumacê e de som estão passando pelos bairros anunciando medidas de prevenção.

CRDI fechado

Um levantamento feito pelo Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) aponta que os bairros com maior número de casos de chikugunya no município são Penha, Turf club, IPS e Goitacazes (margem direita) e Parque Eldorado, Santa Rosa e Guarus (margem esquerda).

Para tentar minimizar a situação, a expectativa é que o Centro de Referência de Doenças Imuno-infecciosas (CRDI) volte a abrir ao final do decreto de restrições, após o dia 30 de abril. Para o diretor, Dr. Luiz José, com a abertura será preciso adotar alguns critérios importantes no atendimento dos pacientes. “Vamos ter que fazer um trabalho muito bom de prevenção e higienização. Será preciso atender o paciente com espaço entre um e outro, uma pessoa por vez, teremos que ter uma triagem bem feita, com máscaras, equipamentos de proteção individual e álcool em gel, para evitar que os funcionários sejam contaminados”, diz.