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Lojas pedem abertura para ‘Dia das Mães’

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Guilherme Belido Escreve
Por Guilherme Belido
26 de abril de 2020 - 0h01

Lojas pedem abertura para Dia das Mães

Decisão difícil para o governo, que terá que avaliar nos próximos dias o instável quadro da Covid-19

Esta semana será decisiva para que o município avalie a possibilidade de autorizar a abertura do comércio visando o Dia das Mães. O decreto em vigor mantém as lojas fechadas até a quinta-feira (30), véspera do feriado do Dia do Trabalho.

Antes, já estavam autorizados a funcionar estabelecimentos  essenciais, como supermercados, farmácias, peixarias, açougues, quitandas, postos de gasolina, feiras livres, serviços de delivery, etc. Num segundo momento, foi liberada a abertura de óticas, revendedoras de autopeças, oficinas mecânicas, borracharias, lojas de material de construção e outras.

Contudo, a grande fatia dos estabelecimentos que não está catalogada como essencial ou de utilidade pública – que são as lojas de presentes em geral – permanece fechada. Logo, reside aí a pauta da semana: se Campos terá como conciliar o Dia das Mães com o combate ao Covid-19.

Data – É importante não confundir que a questão não está no dia 10 de maio (2º domingo do mês, Dia das Mães), mas sim na semana anterior. Para que o volume de vendas seja minimamente satisfatório, é necessário que o comércio abra as portas na segunda-feira, dia 04. E, ainda assim, teria as vendas sobremaneira reduzidas em relação aos anos anteriores, visto que seriam apenas seis dias de negócios.

Complexidade – Quase se poderia tratar o momento como ‘de impasse’, levando em conta a questão econômica em suas diferentes vertentes, relativamente à questão da saúde pública.

Mas, de fato, não há impasse. O que existe é a circunstância extremamente complexa ante se adotar uma medida, ou outra.

Por isso, os próximos dias – algo nas fronteiras entre 26 de abril e 02 de maio – serão determinantes na aferição do ‘espalhamento’ do novo coronavírus. Ressalve-se, decisão que traz enorme responsabilidade e dose de risco para o executivo municipal na medida em que o governo Rafael Diniz terá que se posicionar diante do desconhecido, imprevisível e imponderável.

Risco – Até o fechamento desta página, na sexta-feira (24), o boletim – *ainda dependendo de atualização – registrava 48 casos confirmados e dois óbitos em Campos. Sob esse ângulo – apesar de extremamente relativo, diga-se – caberia, talvez, considerar a possibilidade de reabrir o comércio local de forma controlada, administrando o fluxo de pessoas, conciliando o horário com os transportes e fiscalizando para que não houvesse aglomeração nas lojas. Enfim, observando os aspectos logísticos e, em especial, conscientizando os lojistas das medidas preventivas.

Esse caminho levaria um certo alívio para os empresários lojistas, interromperia parcialmente a curva de demissões e, no geral, daria um ‘refresco’ à economia do município.

Mas – pergunta-se – em tão pouco tempo será possível conciliar todos esses fatores, colocando em prática uma estratégia logística que impeça a propagação do vírus?

Contudo, é no outro lado da moeda que se vê o risco. Como dizia o ex-ministro Mandetta, “em abril vamos estar subindo a montanha”.

Na quinta (23), o boletim do Ministério da Saúde registrou recorde de 407 mortes em 24 horas. No dia seguinte (sexta, 24) o boletim contabilizou 357 novos óbitos, o que, apesar da pequena desaceleração,  corresponde a número bastante elevado em relação à média de 200 de poucas mortes/dia que vinha sendo divulgado.

Avaliação – Diante de quadro tão perverso quanto instável, é plausível que os acontecimentos dos próximos dias possam clarear – ou tornar menos turvo – os rumos a serem seguidos. É razoável que o prefeito Rafael Diniz leve em conta orientação do governo estadual, que só irá autorizar a abertura do comércio após a implantação dos hospitais de campanha. É uma medida sensata à luz da saúde, mas que agrava as perdas financeiras.

Por outro lado, se o ponto central da bifurcação está na aglomeração, Campos, tanto quanto outras cidades, tem registrado níveis absurdos de agrupamentos nas filas dos bancos, das casas lotéricas, em pontos de ônibus e, até poucos dias, no Mercado Municipal. Então…

De resto, as lojas precisam vender e o emprego deve ser preservado. Entretanto, a saúde da população vem em primeiro lugar.

Trata-se de uma pandemia cruel, algo sem precedentes. Não há solução ideal.

ARTIGO

O pior momento

Não há apoiador que resista à narrativa indisfarçável de que o presidente Jair Bolsonaro enfrenta o pior momento do governo. Independente das circunstâncias, não enxergar a situação como tal, é não ver um palmo à frente do nariz.

Todos os senões que sempre pairaram sobre Bolsonaro foram absorvidos e contextualizados em favor de um bem maior. Isso, desde a campanha eleitoral.

É flagrante que o ex-deputado federal em momento algum trazia consigo o perfil de presidente ideal para o Brasil ou, ainda mais relevante, que encarnava a figura do verdadeiro Chefe de Estado. Evidente que não.

Dele não se pensava como personalidade de tal estatura. Não se esperava mais do que o capitão reformado mostrara e, fazendo-lhe justiça, ele mesmo não forjava imagem para além daquela que todos viam.

Mas foi eleito pela maioria soberana do povo brasileiro não por guardar qualquer semelhança com a chanceler alemã Ângela Merkel (possivelmente a única a merecer, nos dias de hoje, ser chamada de estadista), ou por reunir as qualificações de Fernando Henrique Cardoso ou, tampouco – recuando a passado distante – por incorporar o Getúlio Vargas do século 21.

Que fique claro, no retrato histórico, nem ele, nem qualquer outro que disputara a Presidência em 2018, poderia se arvorar com tinturas de estadista, da mesma forma que Dilma (nem por brincadeira), ou mesmo Lula, que igualmente não chegou ao Planalto trazendo bagagem senão sofrível.

Assim, afastando-se do texto qualquer cor partidária, o voto em Bolsonaro foi contra a corrupção, contra as asneiras petistas, contra a hipocrisia, contra o chatíssimo politicamente correto e contra a pior recessão econômica já vista.

Nem mais, nem menos. Mas, a postura do capitão, com todas as vênias, tem sido para menos. Os que votaram e os que não votaram nele, não esperavam nada extraordinário. Mas também não contavam com isso.

Das falas pró-regime militar aos tuítes sem nexo; das ofensas e brigas com parlamentares aos pronunciamentos dissociados de quem ocupa a Presidência; das posições intolerantes aos confrontos com governadores…, enfim, Bolsonaro parece não saber o que faz.

Semana passada demitiu o ministro da Saúde que pregava combate à Covid-19 da mesma forma que o mundo está fazendo.

Na sexta (24), a demissão do ministro Sérgio Moro isolou ainda mais o presidente, acusado pelo ex-juiz de tentar interferir na Polícia Federal. Bolsonaro reagiu dizendo que Moro condicionou substituição na PF à indicação no STF. Seja como for, é um desastre político.

FHC pediu a renúncia do presidente para “poupar o Brasil de um impeachment” e a ala militar, que dá sustentação ao governo, já estaria ‘por aqui…’ – como se diz no popular.

E tudo isso, esse quadro politicamente catastrófico, quando o Brasil tem pela frente a Covid-19. Não está fácil.