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Cíntia Ferrini de olho no coronavírus

Secretária de Saúde destaca ações da prefeitura, mas lamenta que existe muita gente circulando

Entrevista
Por Aloysio Balbi
21 de abril de 2020 - 13h06

Cintia Ferrini deixou de ser subsecretária e assumiu o comando da Secretaria de Saúde de Campos (Foto: Silvana Rust)

Administradora e especialista em Auditoria de Saúde Pública, Cintia Ferrini, tem nas mãos a responsabilidade de cuidar da Saúde do Município de Campos no momento mais crítico de toda a história. Nomeada secretária de Saúde pelo prefeito Rafael Diniz, ela não é médica, mas tem um currículo invejável como gestora nesta área. São 25 anos desempenhando essa atividade, período em que já foi diretora de unidades de saúde, coordenadora de Controle e Avaliação, subsecretária geral de Saúde. Coordenadora na Faculdade de Medicina de Campos, no curso de Auditoria de Saúde, professora do mesmo curso, Cintia também é professora na Pós-Graduação do curso de Estratégia de Saúde da Família na UNIG.

Nesta entrevista, ela fala do desafio que tem pela frente e das medidas que está tomando para conter o avanço do coronavírus em um município de mais de 500 mil habitantes. Diz que o coronavírus vem sendo discutido e acompanhado desde as primeiras notícias da doença pela prefeitura. Diariamente realiza reuniões com rede municipal, contratualizada e particular.

Acrescenta que desde que a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou pandemia, o prefeito Rafael Diniz instalou o Gabinete de Crise para enfrentamento do coronavírus, reunindo diversas secretarias. Acrescenta que as ações efetivas estão ocorrendo, antes dos primeiros casos registrados, com compra de equipamentos, treinamento de pessoal, entre tantas outras medidas, com objetivo de preservar vidas, evitar a disseminação descontrolada da doença e possibilitar tratamento àqueles que, eventualmente, fiquem doentes. Defensora do isolamento social, ela diz que ainda existe em Campos muita gente na rua, o que certamente facilita o contágio. Disse que Campos tem 193 leitos de UTIs, mas que esse número pode ser ampliado. Garantiu que todos os esforços estão sendo feitos no sentido de que Campos venha a ter o menor número de casos possíveis do coronavírus.

Como a senhora compara as ações do poder público e a situação em Campos com a de outras cidades consideradas de grande porte, acima de 500 mil habitantes, diante deste quadro?

Posso falar por Campos, onde o assunto coronavírus vem sendo discutido e acompanhado desde as primeiras notícias da doença. Realizamos reuniões com rede municipal, contratualizada e particular. A partir de fevereiro começamos a nos preparar de maneira mais específica. Logo após a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretar pandemia, o prefeito Rafael Diniz instalou o Gabinete de Crise para enfrentamento do coronavírus, reunindo diversas secretarias. E as ações efetivas foram ocorrendo, antes ainda de termos casos confirmados da doença: a criação do Centro de Controle e Combate ao Coronavírus, os decretos que instituíram o isolamento horizontal, reforço na compra de equipamentos, treinamento de pessoal, entre tantas outras medidas, com objetivo de preservar vidas, evitar a disseminação descontrolada da doença e possibilitar tratamento àqueles que, eventualmente, fiquem doentes.

Na sua avaliação, o campista neste momento está seguindo as orientações como isolamento, uso de máscaras?

Embora a Prefeitura de Campos, assim como o orientado pela Organização Mundial da Saúde, Ministério da Saúde e Secretaria Estadual de Saúde, tenha implantado o isolamento horizontal, infelizmente ainda vemos bastante gente nas ruas. Não apenas para alguma atividade essencial, como deveria ser. Mas temos atuando bastante no sentido de conscientizar as pessoas da importância deste isolamento, deste distanciamento, para tentar impedir uma explosão de casos. Mas, acredito que grande parte dos campistas já está ciente da necessidade do isolamento e do uso de máscaras e mais pessoas ficarão conscientes.

Quantos leitos de UTIs do SUS temos em Campos?

Entre rede própria e contratualizada temos, atualmente, 193 leitos de UTI.

A senhora acha que no pico da pandemia previsto para maio ou junho essa estrutura suporta?

Temos estes 193 leitos, mas com possibilidade de ampliação, caso seja necessário. O Gabinete de Crise trabalha com a possibilidade de aumento de número de leitos clínicos e de UTI, caso seja preciso. Também já temos conversado com as instituições contratualizadas no sentido de ampliar o número de leitos, se houver necessidade.

A Prefeitura de Campos tem interagido com outras cidades, para troca de experiência sobre o que realmente funciona neste momento para preservar a vida?

Temos feito contato com nossos vizinhos mais próximos, como São João da Barra. Junto com a prefeitura daquele município e o Porto do Açu foi criada uma barreira sanitária no Cepop, para um controle de veículos com destino ao empreendimento. Campos é um polo regional e é natural que estas trocas de experiências ocorram. Todos estamos irmanados nesta luta.

Alguns defendem a flexibilização do isolamento. Qual a sua posição?

Mais uma vez, seguindo o entendimento da OMS, Ministério da Saúde e Secretaria Estadual de Saúde, temos certeza que somente o isolamento pode minimizar os efeitos desta pandemia. Não é uma coisa pensada por Campos, mas mundialmente. Os países que não optaram por esta medida estão sofrendo graves consequências. Claro que, em certo momento, haverá uma flexibilização, um retorno, mas de maneira gradual, para que os impactos não sejam severos e não se perca todo trabalho realizado.

É possível que existam casos de subnotificação em Campos?

A Secretaria Municipal de Saúde segue os protocolos específicos ao caso. Os exames são encaminhados ao Laboratório Central Noel Nutels (LACEN-RJ), porém, devido à demanda tem havido um atraso nos resultados. Mas todos os casos, ainda que com certa demora em função da situação atual, terão resposta.

O hospital de campanha que o governo do estado está construindo em Campos será para atender os moradores daqui ou será algo regionalizado?

O Hospital de Campanha terá 100 leitos — 80 clínicos e 20 de UTIs — que serão regulados pelo Governo do Estado para atendimento regional.

Existem algumas providências já tomadas ou previstas para uma atenção maior as favelas, onde as condições sanitárias são precárias e a aglomeração doméstica é maior?

A Prefeitura de Campos, seguindo orientação da Vigilância em Saúde, está solicitando à Aguas do Paraíba para que verifique o abastecimento de água a fim evitar desabastecimento. Também iniciou, através da Secretaria de Desenvolvimento Humano e Social, a distribuição de 22 mil sabonetes e 18 mil litros de água sanitária, doados pela concessionária. Também atuamos junto à população de rua, onde a Prefeitura criou um abrigo destinado a eles, onde recebem cinco refeições diárias. Enfim, estamos olhando como um todo, com um olhar mais atento para os mais vulneráveis.

A senhora tem um levantamento de quantos médicos, enfermeiros e auxiliares em Campos estão afastados da linha de frente por suspeita de contágio, grupo de risco ou estresse?

Estamos fazendo este levantamento.

Para terminar, o conselho para a população de Campos:

Peço que não fiquem alarmados, mas sim atentos. Sigam a recomendação para ficar em casa, evitar aglomeração, fazer a lavagem correta das mãos e usar máscaras, caso estejam espirrando ou tossindo. Oriento, ainda, que, apresentando algum sintoma, ligue para a central 192, onde temos médicos que irão orientar e direcionar a todos. Temos confiança de que iremos superar este capítulo triste e preocupante da história mundial.