Contudo, quando se fala em projeções, os percentuais exibidos por diferentes pesquisadores são ainda mais disformes. Por outro lado, tomando por base comparativos com episódios já estudados exaustivamente, é possível traçar um certo paralelo.
De acordo com relatos, a gripe espanhola matou cerca de 35 a 40 mil pessoas no Brasil, com maior concentração no Rio e São Paulo, onde teriam morrido 20 mil.
Os números – Entendendo melhor: com uma população de 30 milhões na época, 1% correspondia a 300 mil pessoas. Logo, se o número de mortes registrado variou na faixa de 35/40 mil, a mortalidade foi de 0,1.1% – cerca de um décimo de um por cento.
Já no mundo, a gripe espanhola matou – segundo grande parte das estatísticas divulgadas – cerca de 50 milhões, o que representou mais de um quarto da população do planeta da época (1 bilhão e 800 milhões), ou, em percentuais redondos, 25% da população mundial.
Paralelos – Observa-se, então, a diferença astronômica entre o percentual de mortos no mundo e no Brasil por ocasião da gripe espanhola. E, da mesma forma, que certas projeções ora feitas – algumas especulando que a mortalidade brasileira poderia chegar a 0,5% da população – não tem qualquer base científica.
Seria, ainda, admitir que no Brasil o novo coronavírus mataria muito mais do que a gripe espanhola, o que, uma vez que estejam sendo tomadas as medidas preventivas corretas, não tem qualquer embasamento.
Neste sentido, conforme lembrou a médica e pesquisadora Dilene Nascimento, da Casa de Oswaldo Cruz, unidade da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) voltada para a história da saúde, hoje estamos muito mais preparados, em termos técnicos e científicos, para lidar com uma epidemia de gripe. Mas a pesquisadora enfatiza a importância da política pública de saúde:
– Havia algumas recomendações muito similares na época. Hoje temos muito mais condições técnicas e científicas para combater o coronavírus. Há cem anos, não havia, por exemplo, o volume de informações disponibilizados hoje sobre a evolução da epidemia. Grande parte da população não tinha acesso ao conhecimento sobre o assunto. Agora, a informação de utilidade pública alcança muito mais gente e de maneira muito mais rápida – analisa a pesquisadora da Fiocruz.
(* A gripe espanhola começou numa base militar do Kansas, nos EUA. Na época havia muita censura aos jornais sobre as doenças causadas pela I Guerra Mundial (1914-1918). A Espanha, que se manteve neutra durante o conflito, foi um dos primeiros países a noticiar os casos de epidemia. Por isso, a gripe acabou recebendo o esse nome).