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Paralelo do coronavírus com a gripe espanhola

Em 1918, a população do Brasil era de aproximadamente 30 milhões e registrou 35 mil mortes

Guilherme Belido Escreve
Por Guilherme Belido
31 de março de 2020 - 17h04

Em diferentes aspectos, as informações do coronavírus no Brasil são heterogêneas – muitas vezes contraditórias – o que é relativamente normal em se tratando de um pandemia sobre a qual não havia protocolo.

Contudo, quando se fala em projeções, os percentuais exibidos por diferentes pesquisadores são ainda mais disformes. Por outro lado, tomando por base comparativos com episódios já estudados exaustivamente, é possível traçar um certo paralelo.

De acordo com relatos, a gripe espanhola matou cerca de 35 a 40 mil pessoas no Brasil, com maior concentração no Rio e São Paulo, onde teriam morrido 20 mil.

Os números – Entendendo melhor: com uma população de 30 milhões na época, 1% correspondia a 300 mil pessoas. Logo, se o número de mortes registrado variou na faixa de 35/40 mil, a mortalidade foi de 0,1.1% – cerca de um décimo de um por cento.

Já no mundo, a gripe espanhola matou – segundo grande parte das estatísticas divulgadas – cerca de 50 milhões, o que representou mais de um quarto da população do planeta da época (1 bilhão e 800 milhões), ou, em percentuais redondos, 25% da população mundial.

Paralelos – Observa-se, então, a diferença astronômica entre o percentual de mortos no mundo e no Brasil por ocasião da gripe espanhola. E, da mesma forma, que certas projeções ora feitas – algumas especulando que a mortalidade brasileira poderia chegar a 0,5% da população – não tem qualquer base científica.

Seria, ainda, admitir que no Brasil o novo coronavírus mataria muito mais do que a gripe espanhola, o que, uma vez que estejam sendo tomadas as medidas preventivas corretas, não tem qualquer embasamento.

Neste sentido, conforme lembrou a médica e pesquisadora Dilene Nascimento, da Casa de Oswaldo Cruz, unidade da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) voltada para a história da saúde, hoje estamos muito mais preparados, em termos técnicos e científicos, para lidar com uma epidemia de gripe. Mas a pesquisadora enfatiza a importância da política pública de saúde:
– Havia algumas recomendações muito similares na época. Hoje temos muito mais condições técnicas e científicas para combater o coronavírus. Há cem anos, não havia, por exemplo, o volume de informações disponibilizados hoje sobre a evolução da epidemia. Grande parte da população não tinha acesso ao conhecimento sobre o assunto. Agora, a informação de utilidade pública alcança muito mais gente e de maneira muito mais rápida – analisa a pesquisadora da Fiocruz.

(* A gripe espanhola começou numa base militar do Kansas, nos EUA. Na época havia muita censura aos jornais sobre as doenças causadas pela I Guerra Mundial (1914-1918). A Espanha, que se manteve neutra durante o conflito, foi um dos primeiros países a noticiar os casos de epidemia. Por isso, a gripe acabou recebendo o esse nome).