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Notícias falsas preocupam profissionais em tempos de coronavírus

Simone Barreto é coordenadora do curso de jornalismo no Uniflu, em Campos: "função da imprensa é fundamental contra fake news"

Entrevista
Por Ocinei Trindade
31 de março de 2020 - 18h26

Simone Barreto é jornalista e coordenadora de curso de comunicação no Uniflu (Foto: Reprodução)

A jornalista Simone Barreto é uma das entrevistadas da reportagem especial do Jornal Terceira Via desta semana que trata de fake news e coronavírus. Ela comenta sobre os riscos de notícias falsas em tempos de pandemia mundial da Covid-19. Simone é atualmente a coordenadora do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Fluminense (Uniflu), em Campos. A profissional destaca o papel fundamental dos veículos de comunicação na cobertura sobre a doença que se espalha pelo país e pelo mundo. Para ela, as fake news têm causado uma série de transtornos. “A informação ajuda na prevenção e auxilia as autoridades nas orientações de serviços de saúde para a população. O papel da imprensa é essencial e indispensável”, comenta.

Como jornalista, como lidar nestes tempos digitais com notícias falsas, sobretudo as compartilhadas em ferramentas como WhatsApp?

Em tempos de fake news, ferramentas de mídias digitais, whatsapp, devemos esclarecer nossos amigos, familiares, grupos que participamos que não é para compartilhar informações que não temos certeza, que desconhecemos a fonte. Devemos conscientizar a população e as pessoas que não são da área de comunicação. Às vezes desconhecem a gravidade de compartilhar informações não verdadeiras. Antes da tecnologia, havia o boato. Aquilo que a gente não sabe e tem cara de boato não deve ser passado adiante. Isto é bastante prejudicial. Por último, temos a questão de um remédio para coronavírus sem nenhum embasamento científico. Pessoas que precisam dos remédios para lupus e artrose ficaram sem medicação porque compararam para automedicação e esvaziaram prateleiras. Boato e fofoca causam transtornos. Como jornalista, a gente precisa orientar pessoas que compartilham informações infundadas. Se não temos certeza, precisamos pesquisar e consultar veículos de informação oficiais.

Como professora e coordenadora de curso de jornalismo, como é formar profissionais  que são jovens e  nativos digitais ligados a este tipo de ambiente?

Quando a gente começa a perceber os prejuízos da sociedade com as fake news, o fato desses jovens estudantes de jornalismo saberem lidar melhor com a tecnologia, eles se tornam mais conscientes. Eles percebem o quanto é necessário apurar melhor a notícia, ter confiabilidade dessa fonte que está passando a informação. Eles estão aprendendo a usar tecnologias cada vez mais avançadas, de dados, por exemplo. Tem-se tornado pesquisadores de instituições públicas, dominando e divulgando dados da OMS, do Ministério Saúde. Procuraram checar as fontes mais seguras em ambientes virtuais. Checar aplicativos, se vêm de fontes governamentais ou não. Utilizam as redes para se aproximar de especialistas e secretários de saúde que também se utilizam de tecnologias. Não se debruçam apenas em redes como Facebook e Whatsapp O uso de inteligência artificial tem sido usada para subsidiar melhor o alcance das informaçõees mais seguras, por meio de fontes mais confiáveis. O profissional que e não está no confinamento, está buscando informação dentro ou fora da redação, debruçado na notícia, verificando fatos o tempo inteiro para levar à sociedade a melhor informação  possível. Cursos de jornalismo do mundo inteiro buscam como lidar melhor com a ferramenta digital para divulgar informações de qualidade.

Poderia comparar a questão da apuração e publicação de notícias em veículos atualmente em relação aos anos anteriores?

Como profissional, a maneira de apurar, o tempo é a grande diferença em relação à produção de 10, 20 anos atrás. Antes se estava muito presencialmente na rua, nos locais para contar uma notícia. Hoje, por conta da velocidade da informação, o jornalista precisa estar com as ferramanetas tecnológicas à mão como celular ou computador. Hoje, o jornalista não está a serviço da informação apenas como buscar, selecionar e contar as melhores histórias. O jornalista precisa explicar as informações. Inclusive há indicadores se é fato ou fake news, a nivel internacional. A população produz informações com uso das tecnologias, então a informação circula muito mais. Nem tudo o que é informação é notícia, nem tudo que é informação é comunicação. O jornalista tem a responsabilidade de reunir um tanto de informação e comunicar, proporcionar relação com a sociedade. O que tem a ver a relação da Covid-19 com meu público local em Campos; medidas de saúde, de prevenção, as questões sanitárias que diferem de um país para outro. O jornalismo se especializa cada vez mais para diferentes públicos, variados temas e assuntos.

Estudantes de jornalismo de Campos (Foto: Reprodução)

As redes sociais ajudam ou atrapalham quando se quer divulgar conteúdos jornalísticos? Como o público pode separar do que é fato e fake nas mídias digitais?

As redes sociais ajudam e atrapalham o tempo todo. Quando recebemos uma enxurrada de informação de áudio, vídeo, texto, isso atrapalha, pois nos sobrecarrega psicologicamente e emocionalmente, nos deixa confusos muitas vezes. A informação em excesso pode nos atrapalhar. Às vezes paramos a vida para ficar rolando o dedo em busca de notícias, consumindo informações importantes, pertinentes, mas às vezes não são; e outras são mentirosas ou fake news. Nos ajuda porque a informação está na palma de nossa mão. A gente pode fazer uso quando bem quiser e decidir. O público precisa consultar as fontes para saber se é verdadeiro ou falsa uma informação. Há poucos dias, a voz do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, foi imitada e compartilhada rm mensagem de áudio atribuída a ele. Não era. Fazer uma breve consulta no Google também ajuda para saber se o ministro disse qualquer coisa.

Percebe algum comportamento de novos profissionais inclinados a acreditar em redes sociais como fontes de informação ou independe da geração?

Não percebo esse comportamento, principalmente nos novos profissionais. É mais fácil a gente perceber isso na população em geral que não é da área de comunicação. A gente tem até uma pesquisa do Datafolha sobre a confiabilidade da população que estão com um pé atrás sobre a disseminação de informação nas redes sociais. Os veículos tradicionais têm mais confiabilidade. As novas gerações do jornalismo não são inclinadas a acreditar meramente no que vem das redes. Se for verdade, vai se trabalhar e aprofundar aquela notícia. Se for mentira, também pode se tornar uma pauta para esclarecer e informar a respeito daquele assunto que repercutiu em redes que dão estarte para um tema. Cabe ao jornalismo se aprofundar ou não, se é verdade ou mentira.

O que é importante destacar sobre as pautas da imprensa sobre o novo coronavírus?

É importante destacar o papel da imprensa na cobertura do coronavírus, feita de modo competente. Não vejo em nenhum momento a intenção de criar alarde e histeria, pelo contrário. Em todos os canais de televisão, percebo claramente, independentemente da linha editorial, a preocupação de se mostrar o número de casos, como as cidades têm tratado isso, as autoridades sanitárias e  os serviços de saúde, e como as pessoas podem se proteger em suas casas. Tanto no Brasil, como no exterior. Vimos o que se fez na China para controle do avanço da doença. Nisto, a imprensa é fundamental para informarmos.

Fake News preocupam estudantes e profissionais da comunicação

O que relevante quando o assunto é coronavírus e fake news?

Todo momento de crise é importante para descobrirmos ou relembrarmos sbre determinadas coisas. Nos últimos anos, a imprensa passou a ser rechaçada por conta da política, principalmente no Brasil. A gente percebe que assim como em outros momentos da nossa sociedade, a imprensa cumpriu seu papel, informou com veracidade, com competência, nos períodos de guerra, de pandemia, de epidemia. Lembramos das gripe suína e aviária, da H1N1.  A imprensa destemidamente cumpre seu papel. São homens e mulheres que vão diariamente para a televisão, rádios, sites e jornais. Muitas das vezes não têm onde deixar os filhos agora com aulas suspensas; sem cuidadores para os pais idosos ou doentes. Os jornalistas não deixam para trás o compromisso de levar a informação para a sociedade a melhor informação possível.  É bom lembrarmos que essas notícias que chegam às nossas casas são feitas por pessoas humanas. A gente não deve deixar de lado o reconhecimento das pessoas que buscam informações verdadeiras para instruir as pessoas. Os profissionais da saúde também precisam ser reconhecidos pelo trabalho essencial. Há um grande estresse e sobrecarga. A imprensa sempre está nas situações ruins para informar a população. Espero que voltemos às boas notícias logo, mas no momento precisamos falar da pandemia e suas consequências. As pessoas precisam de informações.