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Cresce pandemia de Fake News

Notícias inverídicas se propagam na mesma velocidade do coronavírus, principalmente pelas redes sociais

Saúde
Por Ocinei Trindade
29 de março de 2020 - 6h00

O mundo está perplexo com a pandemia do novo coronavírus, causador da doença Covid-19. Em dezembro de 2019, na cidade de Wuhan, China, o surto foi identificado pela primeira vez. No Brasil, o primeiro caso se deu no dia 25 de fevereiro. A primeira morte no país foi no dia 17 de março, em São Paulo. Em Campos, a primeira pessoa infectada foi confirmada no dia 23 de março. Impressiona a velocidade com que o vírus e a doença se espalham. Preocupam também as notícias falsas. Pelas redes sociais, são frequentes os compartilhamentos de fake news sobre a doença e supostos tratamentos. Profissionais da saúde e da comunicação buscam orientar a população com informações seguras e confiáveis.

A necessidade de informações verdadeiras sobre o novo coronavírus se estende a profissionais da saúde, trabalhadores da área de comunicação, mas, sobretudo, para a população em geral. O compromisso de autoridades da área de saúde em orientar as pessoas tem sido reproduzido na cobertura jornalística de jornais, emissoras de televisão e rádios, sites de notícias. As redes sociais digitais ajudam a replicar as informações checadas por profissionais de imprensa. Entretanto, as mesmas redes sociais difundem também notícias falsas que acabam provocando pânico, histeria e equívocos desastrosos para a saúde da população.

Em Campos, o compartilhamento de fake news por meio das redes sociais se assemelha a qualquer cidade brasileira e de qualquer país. A ferramenta WhatsApp se tornou um instrumento tão veloz quanto o contágio do novo coronavírus em se tratando de se espalhar áudios, vídeos, fotos, postagens, links com informações verdadeiras e falsas sobre a pandemia de Covid-19. Como identificar o que é fato e o que é fake. Diversos veículos de comunicação se dedicam também a desfazer informações falsas disseminadas nas redes digitais.

Coronavírus e Whastapp

Jornalista Cláudia Eleonora

O medo toma conta da população em Campos e em toda parte do mundo. Ainda não há vacina ou remédio contra o novo coronavírus. Assusta também a estrutura hospitalar do país, incapaz de suportar tantos atendimentos ao mesmo tempo. Isto também pode ser conferido em países ricos como Itália e Espanha, com milhares de casos da doença e milhares de mortos vítimas da Covid-19. Graças ao jornalismo sério e comprometido, essas informações chegam à população. Diferentemente das fake news. Para a jornalista e gerente da TV Record, Cláudia Eleonora, antes de se divulgar qualquer notícia é preciso checar com insistência as fontes de informação.

“Neste período de pandemia, informações de Whatsapp triplicam. É preciso cuidado e checar bastante. A todo momento recebemos conteúdo, mas sem fonte oficial não se deve publicar, nem repassar. Não importa se eu vou dar depois. Vale a informação de qualidade correta, não o furo de reportagem sem apuração devida”, diz.

Para a médica infectologista, Renata Artilles, as fake news prejudicam bastante a área de saúde, sobretudo neste momento que a cidade e o país atravessam. “Todos têm acesso ao mesmo tempo à informação, seja leigo ou profissional de saúde. Só não sabe quem não procura se informar. Os jornais e a televisão ajudam muito. A Internet é uma faca de dois gumes. Internet é muito rápido, as vezes eu mesma recebo mensagens absurdas em grupos. Uma delas que eu me lembro dizia que água quente com limão mata o coronavírus. Isto não existe, não é verdade”, afirma.

Informações falsas

Assunto foi discutido com profissionais no Especial Terceira Via, jornalístico da Terceira Via TV

A reportagem selecionou algumas mensagens falsas que circulam por redes sociais. Uma delas é que foi descoberta a cura para o novo coronavírus. Isto não é verdade. A própria Organização Mundial de Saúde afirma que, até este momento, não há substância, remédio, vacina ou vitamina que possa prevenir a contaminação pelo coronavírus. São falsas, por exemplo, as afirmações de que comer alho evita contaminação; consumir bastante vitamina C e ingerir minerais; usar produtos químicos para as mãos; beber água potável a cada 15 minutos ou água quente e ficar no sol: nada disso impede o coronavírus.

Disseram que produtos vindos da China poderiam conter coronavírus nas embalagens. Isto é falso. O Ministério da Saúde afirma que o vírus só é transmitido entre humanos e não sobrevive mais de 24 horas fora do organismo humano ou de algum animal.

É falsa a informação de que chás quentes previnem o novo coronavírus. Especialistas afirmam que nenhum alimento impede a infecção da doença. O novo coronavírus não causa pneumonia imediatamente. Antes disso acontecer, o infectado terá sintomas de gripe com tosse seca, febre, coriza e dificuldade de respirar.

Pelas redes sociais, circula a informação de que óleos, uísque e mel são bons para o coronavírus. Isto é falso. Como explicado antes, não há vacina ou tratamento para o vírus. Outra informação falsa é que vinagre seja melhor que álcool para evitar contaminação. É verdade que a lavagem das mãos com água e sabão é a melhor forma de reduzir os riscos de contágio, assim como o uso do álcool em gel ou líquido.

Prefeito Rafael Diniz

Na semana passada, um áudio compartilhado no WhatsApp narrou que uma jovem foi atendida em unidade de saúde de Campos, com sintomas de Covid-19, mas não havia kits para teste, nem estrutura hospitalar. O prefeito Rafael Diniz desmentiu o episódio. “Nós pudemos comprovar que o quadro clínico era uma possível septsemia por via bacteriana e não por vírus. Foi o que acabou sendo confirmado. A gente tem procurado filtrar as informações e responder imediatamente àquelas que podem causar pânico na população. A gente pede para que as pessoas tenham responsabilidade e procurem a imprensa séria para se informar”, comentou.

Orientações médicas

A médica epidemiologista, Beth Tudesco, diz que para evitar fake news é preciso confirmar as fontes. “As vezes a gente pode cair na armadilha de transmitir informações falsas ou equivocadas. Médicos e profissionais de saúde seguem normas técnicas da Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa), Ministério da Saúde, e Secretarias de Saúde. Estamos na fase de crescimento dos casos de coronavírus. Sabemos que, para diminuir os riscos de contágio, é preciso higienizar as mãos com água e sabão, álcool, além do isolamento social”, afirma.

Beth Tudesco considera ainda que os cuidados com a limpeza dos ambientes têm que ser redobrados. “A doença é nova. Muitos estudos serão realizados, mas de janeiro para cá não deu ainda para os pesquisadores chegarem a uma conclusão definitiva. Nós temos que saber o que é um resfriado, uma gripe e o coronavírus. A suspeita pode existir, mas só o exame laboratorial pode apontar. O tratamento é convencional para isolar pacientes com suspeitas, mantê-los isolados e limpar o ambiente comum. Idosos e portadores de doenças crônicas precisam de maior atenção”, destaca.

Infectologista Dra. Elizabeth Tudesco

De acordo com a epidemiologista, qualquer caso suspeito, com sintomas de febre, falta de ar, tosse, a Vigilância em Saúde precisa receber essa notificação. “As pessoas precisam informar aos órgãos competentes qualquer sintoma”, diz.

Fontes confiáveis

Antes de compartilhar qualquer informação sobre coronavírus, usuários de redes sociais podem consultar órgãos oficiais como o Ministério da Saúde na Internet, sites dos governos estaduais de prefeituras, além de veículos de comunicação tradicionais. Dúvidas sobre a doença Covid-19 podem ser esclarecidas com informações disponíveis também pelo WhatsApp.

No site do Ministério da Saúde há uma ferramenta chamada “Saúde sem Fake News”. O órgão disponibiliza o número de telefone (61) 99289-4640, onde qualquer cidadão pode enviar gratuitamente mensagens com imagens ou textos que tenha recebido nas redes sociais para confirmar se a informação procede, ou seja: se é verdadeira ou falsa.

Por uma rede social, o Terceira Via perguntou aos leitores se eles sabem diferenciar uma notícia verdadeira de uma fake news. Gabriela Freitas disse que não costuma compartilhar notícia sem saber se é verdade. “Já recebi várias vezes. Quando sai alguma coisa e eu desconfio, procuro saber a fonte”. Já Lênin Willemen, disse ficar atento. “Atualmente me informo pela imprensa oficial e reconhecida”. Emílio Martins respondeu que basicamente se informa por sites oficiais, Ministério da Saúde e canais de notícias na televisão.

Simone Barreto fala sobre a Imprensa

Em recente pesquisa do Instituto Datafolha, mais de 1500 pessoas foram ouvidas sobre em quais veículos de comunicação confiam a respeito do coronavírus. A pesquisa apontou que 61% acreditam em programas jornalísticos de televisão; 56% em jornais impressos; 50% em programas de rádio; 38% em sites de notícias. Apenas 12% disseram confiar nas plataformas WhatsApp e Facebook. Os que não confiam em informações divulgadas nessas redes sobre a pandemia chegam a 58%(WhatsApp) e 50% (Facebook).

Para a jornalista e coordenadora do curso de jornalismo do Uniflu, Simone Barreto, é importante destacar o papel da imprensa na cobertura do coronavírus. “É feito de modo competente. Não vejo em nenhum momento a intenção de criar alarde e histeria, pelo contrário. Em todos os canais de televisão, percebo claramente, independentemente da linha editorial, a preocupação de se mostrar o número de casos, como as cidades têm tratado isso, o papel das autoridades sanitárias os serviços de saúde, e como as pessoas podem se proteger em suas casas”, avalia.

Para Simone Barreto, as redes sociais ajudam e atrapalham o tempo todo.

“Quando recebemos uma enxurrada de informação de áudio, vídeo, texto, isso nos atrapalha, nos sobrecarrega psicológica e emocionalmente, nos deixa confuso. A informação em excesso pode nos atrapalhar. O público precisa consultar as fontes para saber se é verdadeiro ou falsa uma informação. É preciso valorizar o trabalho de homens e mulheres jornalistas que têm se arriscado nesta pandemia de coronavírus; fora do isolamento social para levarem a melhor e mais completa informação ao público sobre a doença e as decisões dos governos para combatê-la”, conclui.