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Gestores de hospitais contratualizados de Campos falam sobre crise financeira e coronavírus

Eles alegam que prefeitura não está unindo forças para se preparar para receber os casos

Campos
Por Redação
19 de março de 2020 - 14h59

Os responsáveis pelos quatro hospitais contratualizados de Campos – Álvaro Alvim, Beneficência Portuguesa, Plantadores de Cana e Santa Casa de Misericórdia – reuniram a imprensa nesta quinta-feira (19) para falar sobre a falta de pagamento por parte da Prefeitura de Campos e também sobre o coronavírus. Todos os diretores alegaram que a prefeitura não está dialogando com os hospitais contratualizados em busca de um preparo para enfrentar o aumento nos casos de coronavírus, que já acontece em diversas regiões e deve acontecer nos próximos dias também em Campos. Eles também voltaram a falar sobre a dívida que a prefeitura tem com os hospitais, o que estaria causando atraso nos salários dos funcionários.

“Pelo que tudo indica, vai ser necessário o uso dos hospitais da rede contratualizada para atender os casos de coronavírus. Mas todos nós já estamos com dificuldades por causa da falta de pagamento por parte da prefeitura, que está devendo cerca de R$ 40 milhões aos hospitais contratualizados. Não conseguimos entender como que o prefeito de Campos, em um momento de crise como este, por causa do coronavírus, não convoca os hospitais contratualizados para tratar sobre o assunto. Até o governo do estado está nos procurando para saber o que podemos fazer a mais para abrir novos leitos de UTI para atender a população futuramente”, questionou o presidente do Sindicato dos Hospitais, Frederico Paes, que também é representante do Hospital Plantadores de Cana.

O presidente da Beneficência Portuguesa de Campos, Renato Faria, afirmou que a crise na saúde de Campos está ainda pior do que o que os hospitais já haviam denunciado nos últimos meses.

“Este é o terceiro calote que a prefeitura está aplicando nos hospitais. Antes já não estávamos em boas condições, agora então a situação está pior. Em dezembro do ano passado, nós fechamos nove leitos de UTI por falta de pagamentos. Nossa cidade de Campos está perdendo médicos altamente qualificados que estão buscando emprego em outras cidades e saindo daqui por causa dos problemas financeiros”, lamentou Renato Faria, representante da Beneficência Portuguesa.

Apesar das dificuldades financeiras, eles afirmam que estão à disposição da população. “Temos uma ausência na comunicação com o poder público. Tentamos dialogar, mas não conseguimos retorno. Ainda assim, queremos deixar claro que mesmo na crise financeira que estamos enfrentando, os quatro hospitais contratualizados vão continuar à disposição da população e estão preparados para os atendimentos relacionados ao coronavírus”, informou o médico Cleber Glória, diretor da Santa Casa de Misericórdia.

O diretor do Hospital Álvaro Alvim, Geraldo Venâncio, também criticou a postura do município. “Em Campos, a capacidade de Terapia Intensiva já não dá conta para atender a demanda em condições normais, tanto que temos fila de espera por leitos de UTI. É preciso que a gestão municipal se mexa”.

Os representantes dos hospitais falaram ainda sobre os leitos de UTI que possuem e sobre os valores que são devidos pela Prefeitura de Campos. Seguem os números apresentados:

Santa Casa – 30 leitos de UTI no total, sendo que três são de isolamento // R$ 7,2 milhões que ainda não receberam da prefeitura
Beneficência Portuguesa – 28 leitos de UTI, sendo três de isolamento // R$ 10 milhões que ainda não receberam da prefeitura
Plantadores de Cana – 20 leitos de UTI, sendo que nove são de maternidade. O hospital não possui leito de isolamento // R$ 15,4 milhões que ainda não receberam da prefeitura
Álvaro Alvim – 15 leitos de UTI, sendo dois de isolamento // R$ 6,4 milhões que ainda não receberam da prefeitura

“Vale destacar que todos os nossos leitos estão lotados atualmente e ainda há fila de espera. Porém, as vagas são definidas pela Central de Regulação da prefeitura e mesmo ocupados, nossos leitos estão à disposição do município. Nossos funcionários estão recebendo treinamento maciço para lidar com o coronavírus”, concluiu Cléber Glória.

A reportagem tentou contato com a Prefeitura de Campos em busca de respostas sobre as denúncias apresentadas pelos representantes dos hospitais contratualizados, confira abaixo a nota enviada.

“A Prefeitura de Campos esclarece que já repassou, nestes primeiros três meses de 2020, um total de R$ 26.867.227,48 aos hospitais contratualizados, entre transferências federais e bloqueios judiciais. Em 2019, mesmo diante de grave crise financeira, o repasse englobando transferências federais, municipais, estaduais e emendas chegou a R$ 145.876.777,49, valor superior 2018, quando os repasses estavam em dia. Os repasses municipais estão sendo realizados através de bloqueios. Vale ressaltar que a verba municipal é um complemento oferecido pela Prefeitura de Campos, que contrata dos hospitais filantrópicos serviços de média e alta complexidade. Esse complemento visa compensar as unidades devido à defasagem da tabela SUS.

A Prefeitura acrescenta que, de acordo com o Decreto 027/2020, publicado na última segunda-feira (16), e seguindo orientação do Governo do Estado, foram suspensas as cirurgias eletivas na rede própria e contratualizada, com exceção das cirurgias oncológicas e cardiológicas. O momento é de união em prol da população.

Confira abaixo os valores
Santa Casa de Misericórdia
Total 2018 – R$ 33.608.385,20
Total 2019 – R$ 42.952.232,36
Total 2020 – R$ 8.185.691,03 (Federal – R$ 5.901.055,85; Bloqueio – R$ 2.284.635,18)

Hospital dos Plantadores de Cana
Total 2018 — R$ 38.572.636,79
Total 2019 – R$ 38.755.685,61
Total 2020 — R$ 8.599.935,75 (Federal – R$ 5.353.994,15; Bloqueio – R$ 3.245.941,60)

Hospital Escola Álvaro Alvim
Total 2018 — R$ 23.173.724,41
Total 2019 – R$ 29.837.657,33
Total 2020 — R$ 5.071.571,45 (Federal – R$ 4.289.231,78; Bloqueio – R$ 782.339,67)

Beneficência Portuguesa
Total 2018 — R$ 23.820.074,22
Total 2019 – R$ 34.331.202,19
Total 2020 — R$ 5.010.029,25 (Federal – R$ 3.788.910,55; Bloqueio – R$ 1.221.118,70)

A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) está trabalhando para reforçar toda rede municipal de saúde. Não há confirmado, até o momento, de nenhum caso positivo para coronavírus no município de Campos. Vale ressaltar a importância da quarentena para evitar a proliferação do vírus. Uma série de medidas estão sendo tomadas, como aquisição de materiais e insumos, além da relotação de médicos nas Unidades de Referência: as UPHs de Guarus, Travessão e São José, em Goitacazes , entre outras que estão publicadas em decretos municipais”, disse a nota.