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Jovem morre dentro de casa e corpo é retirado 32 horas depois por falta de laudo médico

Segundo a polícia, problema seria resolvido se o município oferecesse um Serviço de Verificação de Óbito

Geral
Por Redação
4 de março de 2020 - 15h29

A jovem Camilla Reis da Silva, de 26 anos, foi encontrada morta por parentes dentro de casa na tarde da última segunda-feira (2) na localidade de Baixa Grande, na Baixada Campista. A jovem teria morrido por volta das 13h e o corpo só foi retirado às 21h30 de terça-feira (3), 32 horas depois. O motivo? A falta de médicos da rede pública municipal de saúde em toda a Baixada para liberar o laudo e atestar o óbito da moça.

Rusevaldo Pereira Freitas, que é marido de Camilla, contou como tudo aconteceu. “Ela estava passando mal desde a última quinta-feira. Por ela estar desmaiando diversas vezes e a gente não possuir carro, não havia a possibilidade de leva-la até o Centro de Campos, onde possivelmente teria médicos, pois havia o risco dela desmaiar no meio do caminho e acabar se acidentando”, desabafou Rusevaldo.

O marido da jovem também contou como recebeu a notícia da morte. “Eu passei os últimos quatro dias em casa cuidando dela. Quando chegou esta segunda, vi que ela estava se sentindo um pouco melhor e pedi que uma tia dela a acompanhasse em casa enquanto eu estivesse trabalhando. Na hora do almoço, um vizinho nosso foi até o meu local de serviço e me informou do falecimento dela”, contou.

Após a morte de Camilla, o drama da família aumentou, como conta a amiga da vítima e da família Elisângela Da Silva Andrade. “Após eu ficar sabendo do falecimento de Camilla, saí do trabalho e fui direto pra casa dela, para poder prestar solidariedade e ver se a família enlutada estava precisando de algum suporte. Foi aí que descobri que a tarde toda já havia se passado e nenhum médico tinha ido ao local para fazer a liberação do corpo. Ficamos aflitos e sem saber o que fazer. Fomos em diversos postos  da Baixada e nenhum deles possuía médico”, lamentou Elisângela.

Elisângela contou ainda que um funcionário do Programa Saúde da Família foi até a residência da vítima, e de lá entrou em contato com o Hospital São José e fez a solicitação de um médico para ir até o local. “O médico que estava de plantão, informou que só poderia ir ao local por volta das 18h30 pois era a hora em que estaria liberado dos seus afazeres”, contou a amiga.

“Ficamos esperando e nada do médico aparecer. Por volta das 21h30 de segunda-feira ainda, entramos em contato com o Posto de Urgência da Saldanha Marinho. Quem atendeu nos informou que estaria imediatamente enviando uma ambulância com o médico para liberar o corpo. Fato que também não aconteceu. Ou seja, as horas foram passando e ninguém nos apresentava uma solução para o caso”, declarou Elisângela.

Um tio de Camilla que mora no Rio de Janeiro chegou pela manhã em Baixa Grande e, revoltado com a situação, acionou a Polícia Militar. Vendo o sofrimento da família, os policiais que estavam de serviço foram novamente ao Hospital São José e conseguiram enfim fazer com que uma médica fosse até o local.

O problema, no entanto, não foi resolvido. Elisângela contou que com o pré-laudo dado pela médica, ela e os familiares foram até a 134ªDP (Delegacia do Centro), onde não houve autorização para a remoção do corpo por falta de detalhes no laudo. “A médica veio, emitiu um pré-laudo e levamos até a 134ªDP. Quando chegamos lá, a delegada que nos atendeu nos informou que não poderia entrar em contato com o IML pois o laudo não estava completo. Então, voltamos ao Hospital São José para procurar a médica. Ao encontra-la, ela refez e, novamente, a delegada não pode aceitar por falta de informação no laudo”, contou.

Segundo Aline Freitas, sobrinha de Camilla, o dono de uma funerária em Campos se sensibilizou e resolveu tentar ajudar a família.  “Entramos em contato com o dono de uma funerária, que viu o nosso sofrimento e decidiu nos ajudar. Foi então que, graças a Deus, veio um médico, liberou o laudo. Após trinta e duas horas de sofrimento, angústia e espera, o rabecão do Corpo de Bombeiros chegou na casa e levou o corpo”, confirmou Aline.

A delegada da 134ª Delegacia Policial, Juliana Calife, explicou que houve uma divergência de informação entre o perito criminal e a primeira médica que emitiu o laudo. “A Polícia Civil só pede remoção para o IML quando há suspeita de morte violenta e o pré-laudo não chegou com informação de que haveria indício do violência. Então, foi feito um contato entre o perito e a médica que fez o primeiro atendimento para esclarecer as divergências acerca da provável causa da morte. Como a vítima era muito jovem, a médica achou prudente não atestar a causa natural e sim levar para o IML investigar”, disse a delegada.

Juliana ainda explicou que, em caso de morte natural em casa, o procedimento da família é procurar um médico que já acompanha a vítima ou um médico do serviço público que vai atestar a causa natural e a família, em seguida, aciona uma funerária. “Mas o ideal é que existisse um serviço de verificação de óbito por parte do município para receber esses casos em que as vítimas morrem de causas naturais. Esse serviço já existiu em Campos, mas não funciona mais”, declarou.

Secretaria de Saúde

Por nota, a Prefeitura de Campos se manifestou. A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) esclarece que, “quando o pedido chegou a Unidade Pré-Hospitalar (UPH) de Goitacazes, a médica da unidade se deslocou para o endereço e, chegando ao local, constatou o óbito. Como se trata de uma mulher de 24 anos, sem histórico de doenças, a causa foi considerada inconclusiva. Foi emitido um pré-laudo e, seguindo os procedimentos, encaminhado às autoridades policiais para as devidas providências, incluindo a remoção do corpo. Sobre a falta de ambulância e atendimento na UBS de Baixa Grande, a SMS vai abrir procedimento interno para apurar os fatos”, informou.

Sindicância

O vereador Fred Machado (Cidadania), presidente da Câmara Municipal, requereu aos órgãos competentes municipais um pedido de sindicância para levantar informações sobre o que impediu que fossem tomadas providências para evitar o óbito de Camila Ramos da Silva. O requerimento se refere ao Processo 0274/2020/CEC/CMCG, de acordo com documento divulgado pelo parlamentar.

IML

Por fim, o Instituto Médico Legal informou que a causa da morte de Camilla foi em decorrência de um edema pulmonar. O corpo da jovem foi liberado nesta quarta-feira (4) para sepultamento no cemitério da localidade de Mosteiro de São Bento, na Baixada Campista.