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A insatisfação dos passageiros

Com oito meses de implantação, novo sistema de transporte público municipal desagrada aos usuários

Transporte
Por Ocinei Trindade
1 de março de 2020 - 0h35

Sistema de integração entre vans e ônibus completou oito meses (Fotos: Carlos Grevi)

Durante três semanas, o Jornal Terceira Via realizou uma enquete em sua página no  Facebook, para saber dos leitores que usam o transporte público, o cartão Anda Campos e o aplicativo Mobi Campos, se eles estavam satisfeitos com os serviços. Foram várias as respostas, e, a grande maioria fez queixas e críticas ao novo sistema de transporte que opera desde julho do ano passado. Para o governo e empresas de ônibus, a situação melhorou. O mesmo não pensam os motoristas de vans. Especialistas em trânsito e transporte defendem mais planejamento e investimentos, e, certamente, nisto todos concordam.

Aplicativo Mobi Campos é alvo de reclmações de usuários

O aplicativo Mobi Campos para identificar horário e localização de ônibus e vans recebeu diversos comentários negativos dos internautas. Para William Passos, a oferta de ônibus é insuficiente. “Outro dia, por volta das 20h, após esperar 40 minutos o Parque Aurora x Centro, chamei o 99. Usuários dessa mesma linha relatam que já chegaram a esperar 1h20”,disse. Já Gabriela Manhães relatou que é péssimo o serviço prestado. “O aplicativo nunca funciona. A maioria dos ônibus marca como sem linha. A pessoa precisa adivinhar o ônibus que vem”.

As reclamações de usuários se estendem. Para Núbia Perdomo, “ônibus é insuficiente e sujo, passageiros e motoristas andam em ar-condicionado. O aplicativo não funciona, pois eles tiram ônibus da linha para suprir outra com mais demanda”, afirma. Já Tereza Araujo, também queixou-se. “Desanimador e dispendioso. Perdemos tempo demais para andar em ônibus lotados a qualquer hora do dia”, disse. Cerca de 100 comentários dos leitores estão mantidos na página do Terceira Via no Facebook.

IMTT e Mobi Campos

O Instituto Municipal de Trânsito e Transporte informou que o App Mobi Campos já registrou mais de 75 mil downloads, e vem apresentando acerto acima de 70%. Alguns ajustes vêm sendo feitos. O aplicativo foi desenvolvido por alunos da Universidade Cândido Mendes sem custos para os cofres públicos. “A parceria com a UCAM é muito e o aplicativo é utilizado de forma consistente pelos usuários do transporte coletivo de Campos”, disse em nota o IMTT. O instituto informou ainda que está desenvolvendo um centro de controle e monitoramento que intensificará a eficiência do sistema de transporte municipal.

A Universidade Cândido Mendes, disse por nota que seu laboratório de projetos tecnológicos, com a participação de professores e alunos de mestrado e graduação, desenvolveu o Mobi Campos.

“Este dispositivo utiliza tecnologia de ponta e tem sido bastante elogiado em função do conjunto de suas funcionalidades. Outros municípios do estado já buscaram informações sobre a possibilidade de utilização desta nova tecnologia em seus territórios.  Obviamente, sabemos que qualquer aplicativo para que funcione em sua plenitude requer condições mínimas de hardware e conectividade. No caso do Mobi Campos, sua utilização plena requer além destes requisitos, o funcionamento da rede de GPS instalada nos ônibus”, destacou.

 

Rafael Diniz, ônibus e vans

Prefeito Rafael Diniz considera que o sistema está funcionando (Foto: Arquivo)

Em entrevista concedida a jornalista Roberta Barcellos, o prefeito de Campos, Rafael Diniz, não hesitou responder quando foi indagado sobre o atual sistema de transporte municipal. “Não tenho dúvida nenhuma que está dando certo”, afirmou. De acordo com o prefeito, mudanças e melhorias não se alcançam da noite para o dia, e, a desordem do trânsito no Centro tem sido combatida.

“A questão do sistema alimentador com vans e ônibus tem funcionado. O número de ônibus circulando dobrou. Isto fez com que também aumentasse o número de pessoas empregadas nas empresas de transporte. As empresas de ônibus estavam destruídas. Claro que há ajustes que podem e precisam ser feitos. A parceria público-privada ajudará nesse processo”, diz Rafael.

Para o empresário José Maria Matias, à frente da empresa São João há 46 anos, o novo sistema de transporte trouxe melhorias para as receitas das companhias de Campos com o aumento do número de passageiros. Havia uma frota com 115 veículos, mas apenas 70 estavam circulando antes do novo modelo adotado pelo IMTT. Atualmente, 76 ônibus operam no município. Com o crescimento do setor, estima-se chegar a 85 unidades.

“Em 2015, a idade média da frota era de cinco anos. O limite para a troca de veículos é de 10 anos. É interesse da empresa melhorar a qualidade dos serviços e estender horários para os usuários, mas isso sempre vai depender de nossa arrecadação. O diálogo com a prefeitura sempre existiu, houve avanço, mas há coisas que precisam melhorar. Os pontos de alimentação das vans, por exemplo, poderiam ser mais afastados. E é preciso seguir no combate ao transporte pirata de táxis e carros particulares”, considera.

Vans do Terminal de Integração  C em Guarus: motoristas insatisfeitos

Atualmente, 234 pessoas trabalham como permissionários das linhas de vans do sistema alimentador de transporte entre distritos e localidades afastadas. Para Bruno Santana, que preside a cooperativa Campos Cootran e integra o movimento “Unidos pelo Transporte” composto por 150 permissionários, a integração entre ônibus e vans não acontece de forma devida e proposta pelo IMTT. Segundo ele, o novo sistema não melhorou o transporte na cidade.

“Os horários dos ônibus não são obedecidos. A integração entre vans e ônibus não é para passageiro esperar. Pelas portarias 060 e 067 do IMTT, ônibus deveriam estar nos terminais a cada cinco minutos nos horários de pico, e a cada dez minutos fora do pico. Os terminais C (Santa Maria e Santo Eduardo e região), D (Sapucaia, Três Vendas, Furnas), E (Santa Cruz, Itereré e região), e F (de Ururaí a Serrinha) funcionam com 20% das vans. Há poucos passageiros, e isso faz com que a receita seja insuficiente para nos mantermos e fazermos manutenção e renovação da frota”, afirma.

Planejamento e o futuro

João José Freitas Júnior do Sest/Senat: “planejamento é preciso”

Para o economista, especialista em trânsito e instrutor do Sistema Sest/Senat (Serviço Social do Transporte/ Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte), João José Freitas, a mobilidade em Campos poderia estar melhor se houvesse planejamento dos governos municipais nas últimas décadas.

“Houve descontinuidade e faltou visão estratégica de longo prazo. Há ônibus insuficientes. Isto acontece em Campos e em quase todo o Brasil. Se as pessoas estivessem satisfeitas com o transporte público, não usariam tantos os carros por aplicativos”, diz João José.

O especialista do Sest/Senat lembra que, há cerca de 15 anos, o governo federal por meio do Ministério das Cidades promoveu em todo o país o Plano Diretor Participativo e o Plano de Mobilidade Urbana.

“Na época, a população deveria participar, e poucas prefeituras se interessaram em apresentar pré-projetos. Temos cidades como Curitiba e Brasília com trânsito e transporte funcionando adequadamente. Hoje em dia, temos mais carros nas ruas do que vias. Até para promover o uso da bicicleta é necessário investir em ciclovias e ciclofaixas”, observa.

João José Freitas lembra da dependência do transporte rodoviário em quase todo o país.

“Há pouca diversificação com trens e bi-articulados, por exemplo. Houve pouco investimento no setor privado de transportes. Sempre haverá crítica ao transporte público, e isto é bom para aperfeiçoar os serviços. É preciso estimular parcerias entre prefeitura e setores especializados em transporte e trânsito para que melhorias aconteçam”, conclui.