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Na política, carnaval parece não ter fim

O que sobrevém de um País que com tantos problemas graves desvia-se dos alvos os quais deveria estar mirando

Guilherme Belido Escreve
Por Guilherme Belido
27 de fevereiro de 2020 - 13h17

Num primeiro exame, pode soar chulo comparar a política brasileira – ou uma parte da política – com o carnaval. Mas é o que sobrevém de um País que com tantos problemas graves – e enorme potencial para resolvê-los – desvia-se dos alvos os quais deveria estar mirando e ingressa numa interminável disputa que provoca divisão, acirra os ânimos e faz emergir junto à sociedade um sentimento de insegurança e dúvida.

A maioria do povo brasileiro que votou em Bolsonaro teve em mente o Petrolão (que fez lembrar o Mensalão), o desastroso e catatônico segundo mandato da presidente Dilma — que afundou o Brasil na maior crise econômica de sua história — e, no geral, contra a corrupção que corria solta no Brasil, lembrando aqui (porque muita gente faz de conta de que não aconteceu) que o Petrolão foi o maior escândalo de corrupção do mundo. Disso, todos sabem. Menos, claro, a corrente cega do PT, que constrói narrativa própria, sem fundamento, e nela se agarra com unhas e dentes, pouco importando se é 100% mentirosa ou verdadeira.

Pelo lado de Bolsonaro… — Bem, mas tudo isso deveria ter ficado em 2018, no palanque de campanha. Ao vencer a disputa e tomar posse como presidente da República, caberia a Bolsonaro falar menos para seu grupo fechado de apoiadores e mais para a Nação. Entretanto, não é o que se tem visto.

Aprofundando a questão ideológica — algo ultrapassado, que reflete apenas uma tendência institucional, mas que de forma alguma deveria guiar as ações administrativas — Bolsonaro não cessa as falas imprudentes, descabidas e desrespeitosas — muitas delas agressivas e desafiadoras — sabe-se lá com que propósito.

Ora, ele é o presidente. Está no topo do comando. A ele e a seu governo interessam calmaria, segurança e tranquilidade. À oposição é que convém agitação e instabilidade, para balançar o galho que quem está no alto. Então, não dá pra entender.

Se no primeiro ano de governo não foram poucas as trapalhadas do Planalto, logo contornadas pela equipe mais próxima, pelos ministros que se apressavam em desfazer os disparates de suas falas e dos ‘filhos presidenciais’, agora, no segundo ano, quando se esperava ações mais serenas e em sintonia com a liturgia do cargo, parece que o contrassenso está se aprofundando.

No carnaval – Compartilhar via Whats, ou o que seja, vídeo de convocação — ou algo parecido — para manifestação contra o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal, é, de fato, algo carnavalesco.

O resultado não poderia ter sido outro: manifestações de repúdio vindas dos quatro cantos do Brasil, de políticos, partidos, entidades, Câmara, Supremo etc.

Destaque para a dura nota divulgada pelo ministro Celso de Melo, onde, entre outras considerações, adverte que sendo o vídeo (de Bolsonaro) realmente confirmado, demonstra “uma visão indigna de quem não está à altura do altíssimo cargo que exerce”.

Em outro trecho, o decano do STF diz que atitude de divulgar vídeo convocatório revela “a face sombria de um presidente da República que desconhece o valor da ordem constitucional”. E ainda: “O presidente da República, embora possa muito, não pode tudo”.

Enfim, o Brasil tem muito do que se ocupar. É preciso informar ao presidente que o carnaval já acabou.