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As palavras do senhor Reitor

Eleito para o cargo mais elevado da UENF, Raul Palácio encara desafios e projetos na universidade

Entrevista
Por Ocinei Trindade
3 de fevereiro de 2020 - 6h00

Reitor da Uenf, Raul Palácio (Foto:Ascom/Vitor Sendra)

Raul Palácio é o novo reitor da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro. Assumiu o cargo no dia 1º de janeiro para um mandato de quatro anos. Nascido em Cuba, ele é brasileiro naturalizado. A UENF conta com orçamento previsto de R$ 263 milhões. Nesta entrevista, o reitor fala sobre desafios, relações com os governos,  possibilidades de parcerias com a iniciativa privada e polarização política no país.

O senhor é professor há quanto tempo? Imaginava se tornar reitor um dia?

Eu venho de uma família de professores, minha avó era professora, meu bisavô era professor, a minha mãe é professora universitária, agora eu sou professor universitário e, agora, o meu filho mais velho é professor universitário. Entrei na universidade como professor em 1991, assim que terminei os estudos. Em nenhum momento, como professor, eu sonhei em chegar a ser reitor.

Quais os principais desafios em sua gestão, acredita?

O mandato como reitor vai até 31/12/2023. Dentre os desafios está uma maior democratização da universidade, mais participação de alunos, técnicos e professores em todos os processos de avaliação. Buscamos fortalecer os colegiados, como já fazíamos na gestão do reitor Luís Passoni. Pretendemos fortalecer a UENF como representante máxima do ensino público, gratuito e socialmente referenciado. Na área administrativa, a autonomia financeira é o principal ponto a ser trabalhado. Em relação a avaliação, vamos trabalhar pela nota máxima.

Qual o orçamento da UENF para 2020? Quais são as prioridades para este ano?

 O orçamento é de 263 milhões. Somamos as emendas parlamentares e outros recursos aprovados no ano passado.  Queremos a descentralização dos recursos nas diferentes unidades administrativas e a implementação dos duodécimos. Do ponto de vista da infra-estrutura, visamos reformar a Villa Maria, adequar  instalações para  pessoas com deficiências. Pretendemos realizar contratações de funcionários, professores e técnicos, além de  implementar as perdas inflacionárias  dentro do regime de recuperação fiscal.

Instituições de ensino estaduais passam por greves e problemas financeiros. Como pretende lidar?

Acredito que a partir da autonomia financeira da universidade, por meio dos duodécimos, teremos um melhor planejamento da instituição. Isso vai permitir que as demandas, em vez de ficarem reprimidas, possam ser debatidas na comunidade. Dessa forma conseguiremos encontrar a melhor solução possível, para o exercício do orçamento anual. Entendo que teremos que, anualmente, lutar para termos um orçamento de acordo com as necessidades da universidade.

A UENF tem figurado entre as 15 universidades mais importantes do país. É possível melhorar a posição nos rankings?

No ranking do MEC, que apresenta como base um resultado numérico em relação ao Índice Geral dos Cursos, a universidade sempre tem ficado entre as 15 melhores. Entendo importante esclarecer que no ano de 2019 só não ficamos com nota máxima por dois centésimos.  O ranking serve para que possamos compreender onde estão nossos pontos fracos e possamos trabalhar transformando em oportunidades de melhoria da instituição com um todo.

O que destacaria atualmente sobre cursos e pesquisas da Uenf?

A dedicação dos professores técnicos e estudantes a toda e qualquer ação destinada ao desenvolvimento das inúmeras pesquisas desenvolvidas na nossa UENF. A universidade está sempre buscando atender a região Norte/Noroeste Fluminense, nós trabalhamos em pesquisas, nas diversas áreas do conhecimento, que possibilitam o desenvolvimento regional, seja através da iniciativa privada ou do poder público. Esse é o motor que impulsiona a nossa UENF.

Reitor da Uenf, Raul Palácio, aborda sobre diversos desafios para a universidade

A Escola Técnica Agrícola Antônio Sarlo passou a fazer parte da UENF. Que expectativas tem?

Trazer a Escola Agrícola Antônio Sarlo para a estrutura da UENF é extremamente importante por diversos motivos. Pela garantia da manutenção de duas escolas públicas, em pleno funcionamento, em uma região extremamente carente. Teremos a possibilidade, em função da posse do terreno, de colocar recursos para pesquisa provenientes do governo federal. Com uma presença na Escola Agrícola, muitos estudantes poderão vir a ser nossos calouros nos cursos de agropecuária.

Qual a avaliação faz da relação da Uenf com Campos e região?

A interação com a comunidade vem aumentando de forma quantitativa e qualitativa. No meu ponto de vista, a UENF é um espaço de oportunidade para toda a comunidade. Campos, hoje, está presente nos diversos projetos de extensão e pesquisa que a universidade desenvolve.

Alguns criticam a UENF que seria uma espécie de ilha. O senhor concorda?

Claro que não concordo. Temos sempre que aprimorar o nosso relacionamento e por isso esta semana, por exemplo, entramos em contato com a CDL, para que o comércio da região se prepare para as diferentes licitações públicas que acontecem nos próximos meses.

Ser originário de Cuba em uma fase onde os governos fluminense e federal são de direita, causa algum incômodo?

Nunca sofri nenhum tipo de discriminação por ser cubano. Tenho interagido com diferentes integrantes de diferentes governos estaduais e nunca fui prejudicado nem beneficiado por causa da minha nacionalidade. Sou brasileiro naturalizado. Como reitor, defendo  o ensino público e a pesquisa, gratuitos e de qualidade.

A polarização política atinge vários segmentos sociais do Brasil. Como avalia este momento?

A polarização política e o extremismo de opiniões são péssimos para o desenvolvimento do Brasil como nação. Observo  as pessoas se colocando em opiniões antagônicas, sobre qualquer tema, o que não permite enxergarem as outras possibilidades. As universidades possuem uma grande pluralidade na política, na religião, nas nacionalidades, onde é respeitado o direito de cada pessoa opinar. Estabelecemos um debate constante de ideias, sempre respeitando a decisão da maioria. Se o projeto de convivência nas universidades fosse colocado em nível de Brasil, o país estaria bem melhor do que está hoje.

O que o Brasil pode aprender com Cuba, famosa pelo excelente nível de educação?

O governo de Cuba sempre teve um posicionamento muito sério sobre a questão da educação, em todos os níveis. Desde o infantil até o universitário o governo cubano sempre manteve um processo homogêneo de formação e entende que a educação é a base para o desenvolvimento do país. O regime cubano possui algumas características das quais eu discordo, porém, nos campos da educação e saúde, é inegável o desenvolvimento de Cuba.

Há setores que apoiam as parcerias público-privadas.  Como o senhor se posiciona?

As parcerias público-público e público-privada são uma realidade nas universidades e fora delas. Nós estamos trabalhando para que estas parcerias não afetem nem a autonomia financeira, nem o caráter público da universidade em relação a sua existência. Consideramos que estas parcerias são importantes em áreas específicas, em que não possuímos recursos orçamentários para melhor desenvolvê-las. Entretanto, a base do orçamento sempre será publico. Como exemplo, posso citar a área de energias alternativas, na qual estamos procurando parceiros para instalação de painéis solares, viabilização para mais de 80 patentes em projetos de pesquisa e área cultural. Estivemos na CDL e expusemos a vontade de maior participação das empresas de Campos nos processos de pregões e licitações.

 A UENF poderia se abrir para a iniciativa privada?

O caráter público da universidade não deve ser questionado. Somos favoráveis às parcerias público-público e público-privada, que já são uma realidade, mas somos contra a privatização das universidades. Somos contrários ao projeto Future-se, que o Governo Federal está tentando implementar nas universidades federais. Este projeto não oferece nenhuma ferramenta de gestão diferente do que já é praticado hoje, mas coloca a responsabilidade de todas as ações, neste campo, a cargo de ONGs, que seriam gestoras dos recursos da universidade. Essa forma de administração proporcionaria um descontrole da gestão financeira, iniciando um processo de privatização.