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Infestação de pombos leva perigo aos centros urbanos

CCZ em Campos recebe entre 20 e 30 queixas por mês de invasão dessas aves, que podem causar uma série de doenças

Saúde
Por Thiago Gomes
12 de novembro de 2019 - 11h34

(Fotos: Silvana Rust)

“Fauna sinantrópica nociva.” O termo parece complicado, mas, o conceito, nem tanto: são animais que interagem de forma negativa com a população humana, causando-lhe transtornos significativos de ordem econômica ou ambiental, ou que representem riscos à saúde pública. Isso, de acordo com a Instrução Normativa nº 141/2006 do Ibama. Os pombos, apesar de parecerem animais simpáticos e inofensivos, estão neste grupo e já são considerados pragas urbanas, pois transmitem uma série de doenças e têm se multiplicado de forma descontrolada. Segundo o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), entre 20 e 30 reclamações de infestação de pombos chegam ao órgão todo mês.

A Columba livia, conhecida popularmente como pombo-doméstico ou pombo-comum, é uma espécie de ave da família Columbidae, que tem infestado as cidades. E em Campos não é diferente. Estes animais se adaptaram muito bem aos centros urbanos, em parte, por culpa da própria população.

A Praça São Salvador, bem no Centro de Campos, é um local de concentração destes animais. Principalmente no entorno do Monumento do Soldado Desconhecido. A estátua do bravo guerreiro que lutou na 2ª Guerra Mundial, aliás, vive perdendo a batalha para os pombos. A professora Silvia Trindade Areas disse que sempre fica atenta ao passar pelo lugar, para evitar “incidentes” com as fezes das aves. “Tenho receio de que eles me sujem quando passo pela praça”, brinca ela.

Taxista na praça central da cidade há 28 anos, Antônio Carlos Ferreira conta que os pombos incomodam por serem muito numerosos e eles sempre sujam os veículos que ficam estacionados. Mas, segundo Antônio Carlos, nem sempre foi assim. A situação se agravou depois que um colega de profissão passou a alimentar as aves. “Desde então, o número de pombos só cresce. Eles atrapalham os passageiros e sujam nossos táxis”, destacou.

Praga urbana

De acordo com a médica veterinária do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) de Campos, Carla Chiarino, que integra a equipe de controle de animais peçonhentos e sinantrópicos do órgão, não há muito o que fazer em relação aos pombos, além de lacrar possíveis entradas, como forro das residências e caixas de ar condicionado; dificultar seu pouso e, principalmente, não alimentá-los. Essas são as três medidas orientadas pelo CCZ. A especialista lembra que, apesar de oferecerem risco à saúde pública, os pombos são protegidos pela legislação, de modo que matá-los é crime ambiental (Lei Ambiental Nº 9605/98).

“É importante que a população se conscientize de que alimentar os pombos causa sérios problemas para a sociedade e para os próprios animais. Podemos dizer, inclusive, que alimentar é o mesmo que maltratá-los. O simples ato de dar comida faz com que eles percam a capacidade natural de buscar alimento. Isso também acelera a reprodução das aves, causando desequilíbrio ambiental, além de provocar sobrepeso. Mais gordos, os pombos têm dificuldade de voar e até podem fraturar ossos”, advertiu a veterinária.

Segundo Carla, a infestação de pombos já atinge toda a cidade. Uma solução para infestação está em dificultar o pouso do animal. Para isso, a especialista indica esticar fios de nylon ou arame farpado em beirais, muros e outros pontos de pouso. Instalar telas para evitar a entrada da ave também é uma indicação de Carla.

Estátua no centro da praça é bastante disputada pelas aves (Foto: Silvana Rust)

Doenças graves

A médica veterinária do CCZ, Carla Chiarino, alerta para o risco de limpear de forma errada as fezes dos pombos. Isso porque tais aves, assim como os morcegos, hospedam em seus intestinos fungos como o Histoplasma capsulatum e o Cryptococus neoformans. O primeiro causa a histoplasmose, uma doença que, inclusive, pode ser assintomática. O segundo provoca a criptococose, conhecida como “doença do pombo”, que é a principal causa de meningoencefalite e morte em indivíduos com a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS). No entanto, também acomete indivíduos sem problemas de saúde. A veterinária adverte que é necessário utilizar luvas e máscara ou pano úmido para cobrir o nariz e a boca ao fazer a limpeza do local onde estão as fezes.

“A forma correta de limpeza é usar água e cloro. Jamais deve-se varrer as fezes secas, pois isso levanta uma poeira muito nociva que contamina o ar com esses fungos”.

Segundo alerta do Ministério da Saúde, a lista de enfermidades provocadas pelos pombos é grande. A salmonelose é doença infecciosa provocada por bactérias e a contaminação ocorre pela ingestão de alimentos infectados com fezes animais. A ornitose também é uma doença infecciosa provocada por bactérias. A contaminação acontece pelo contato com aves portadoras da bactéria ou com seus dejetos. Tem ainda a meningite, que é a inflamação das membranas que envolvem o encéfalo e a medula espinhal.

Para quem teve contato com fezes de pombos ou de morcegos e tem sofrido com gripes sucessivas com secreção pulmonar, a veterinária aconselha procurar um médico, de preferência um infectologista.

Infestações de pombos podem ser comunicadas ao CCZ pelo telefone (22) 98125-5234.

Pombos-correio

A prática já não é mais comum. Mas, no passado, os pombos reinavam absolutos levando mensagens estratégicas de guerra ou simples recados de amor. Atualmente, a criação de pombos-correio está restrita a competidores.

E o negócio pode ser lucrativo. Em março deste ano, um pombo-correio treinado na Bélgica foi vendido em um leilão por 1,25 milhão de euros, o que corresponde a R$ 5,3 milhões. Armando, conhecido como “o Lewis Hamilton dos pombos” – uma referência ao piloto britânico de Fórmula 1 – se tornou a ave mais cara da história, conforme anunciou na ocasião casa de leilões Pigeon Paradise (Pipa).