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Até aqui, Campos ​não vislumbra lideranças para as eleições 2020

por Guilherme Belido

Guilherme Belido Escreve
Por Guilherme Belido
10 de novembro de 2019 - 0h01

Sucessão municipal com muita especulação e poucos líderes

Hoje, restando menos de um ano para a eleição municipal, Campos se vê refém de situação desfavorável que, quase ininterruptamente, vem se repetindo pleito após pleito nas últimas décadas. Trata-se da falta de renovação de seus quadros políticos, em ‘peso’ e ‘tamanho’, de forma tal que se lhes pudesse atribuir condição de líderes políticos.
Como não poderia deixar de ser, um aqui, outro ali, se viu. Mas, em se tratando dos últimos 30 anos – portanto, longo período – foi muito pouco.
E não se fala em tese, mas da brutal diferença das três últimas décadas comparativamente aos trinta anos anteriores a esse período.
É possível relacionar esse recuo a diferentes situações que emergiram em nosso desfavor, a saber:
1) A fusão GB-RJ, de 1974, que de imediato mostrou-se prejudicial ao antigo Estado do Rio de Janeiro e, em particular, a Campos;
2) A derrocada do setor açucareiro que, já então experimentando fase difícil, perdera ainda mais com a fusão;
3) O declínio da agricultura, que desceu ladeira abaixo, sem freio, como consequência imediata dos itens citados acima.
Também na relação causa-efeito, o avassalador atraso tecnológico que, feito âncora, nos prendeu ao fundo, ao mesmo tempo que outros municípios, em particular do interior paulista, valiam-se de molas que levavam ao alto. Isso, sem considerar a indústria da confecção, que chegou a vislumbrar condição de polo mas, não alcançando os resultados esperados, desidratou.
Ficou mais difícil – Assim sendo, como as principais plataformas produtivas de Campos entraram em decadência, ficou mais difícil que desses mesmos setores surgissem novas lideranças.
Como exceção, por assim dizer ‘salvando’ o município, tivemos o crescimento do comércio, do ensino e da construção civil. Mas, ao chegar a esse ponto, já se havia formado um vácuo importante entre o que se perdeu e o que se ganhou.
Vale salientar, ainda – e como ponto negativo –,  que ao longo desses anos Anthony Garotinho foi a única liderança de expressiva visibilidade formada no município e que hoje, perdido nos escombros das repetidas entradas e saídas da prisão, não lidera mais nada.
Mas, não é esse a questão. O ‘ponto’ mais negativo está bem atrás. Está na política menor, no consentimento de que seguidas eleições girassem em torno do ex-governador. Em outras palavras, os políticos locais não buscaram alternativa senão apoiá-lo ou fazer-lhe oposição – conceito tacanho, pobre, que ora remetia à subserviência, ora à odiosidade, ambos incompatíveis com a rica tradição eleitoral desta terra.

Exemplos práticos de outra realidade

Para abalizar as observações que tratam do contraste dos últimos 25/30 anos em relação a igual período três décadas anteriores, mostrando, com exemplos, o que ora se analisa (com a ressalva que a observação é subjetiva e, como tal, passível de divergências, visto que ninguém é dono da verdade), relembremos algumas das figuras públicas, entre tantas outras, que marcaram a política de Campos entre o final dos anos 50 e início da década de 80 e cravaram, de forma indelével, seus nomes como líderes que efetivamente prestaram relevantes serviços ao município e região.
Em favor do texto menos cansativo, não se faz aqui separação dos que concorreram ao executivo municipal, daqueles que ocuparam cargos outros, visto que todos foram lideranças de grande valor.
Quantos – pergunta-se – entre os que surgiram nos últimos 30 anos, com raras exceções, podem estar alinhados a políticos como (por ordem alfabética), Barcelos Martins, Ferreira Paes, Heli Ribeiro Gomes, José Alves de Azevedo, José Carlos Vieira Barbosa, Nilo Siqueira, Raul Linhares, Rockefeller de Lima, Teotônio Ferreira de Araújo e Walter Silva – para citarmos apenas um número redondo, 10, entre muitos outros aqui não mencionados.
Alair Ferreira 
Em separado, como forma de homenagem, focamos Alair Ferreira pela circunstância de que o ex-deputado de oito mandatos seguidos teria completado 99 anos de nascimento no último sábado, dia 09 de novembro.
Falecido há 32 anos, em 1987, nenhum outro político de sua geração exerceu tanta influência nas eleições municipais de Campos como ele que, entretanto, não disputou nenhuma. Parlamentar ativo, ex-presidente estadual da Arena, com amplo trânsito pelos principais corredores de Brasília, trabalhou incansavelmente em favor de Campos e Região. De sua atuação política o município colheu frutos significativos.
Em várias frentes, sem olhar cor partidária e sem querer se meter nas administrações locais, foram incontáveis as vezes em que trouxe presidentes da República e ministros a Campos – visitas as quais, invariavelmente, resultavam em benefícios relevantes.
Logo, cabe a pergunta: por esses tempos mais recentes – últimos 20-25 anos – quantos presidentes nos tem visitado? A resposta dispensa comentário.
Longe de um texto saudosista, é realista. Perdemos liderança, representação e não substituímos aqueles que levavam nossas bandeiras.
(* Pela extensão do assunto, é provável que se desdobre numa segunda matéria).

Empacamos na estaca zero

Se a escassez de lideranças é um problema nacional, que se mostra claro tanto nos que vêm postulando o Palácio do Planalto como entre os que buscam vaga no Congresso Nacional, Campos parece ter colocado uma lupa sobre a grave deficiência.
Evidente que não se pode generalizar, visto que num País continental, líderes políticos hão de estar surgindo em bom número, muitos no interior dos estados, alguns dos quais se farão conhecidos com o passar do tempo.
Mas, nesta bela planície cortada por rio, terra de Nilo Peçanha, pouco se vislumbra no horizonte. Ressalve-se, há de se enxergar exceções – honrosas exceções, frise-se.
Mas – indaga-se –, a campo aberto, o que se aponta para 2020 além do que já fora visto em 2016 ou na eleição anterior a esta?
Que nomes fortes, líderes natos, com propostas genuínas, se colocam para as eleições do ano que vem? Quantos, com luz própria, com discurso de vanguarda e que indicam o caminho da prosperidade – ao invés da lamentação – se apresentam ao eleitor?
Como já salientado, a cidade precisa ver florescer novas lideranças o quanto antes – seja dos que já atuam na política, ou fora dela, com ou sem mandato, – mas que tenham a mente aberta para enfrentar os difíceis desafios ora postos com otimismo e na dose certa, sem desvarios, mas, também, sem a acomodação do pessimismo.

Tudo pode mudar

Nada impede, entretanto, que daqui a um, dois, ou três anos o panorama seja outro. Da mesma forma, é possível que neste momento alguma liderança esteja se formando ou que surja, até mesmo, para o pleito de 2020.
Mas, ainda que levando em conta a dificuldade financeira por que passa o município, terá que trazer um discurso inspirador e verdadeiro.
Sem devaneio, o eleitor precisa de falas que inspirem confiança, segurança e estabilidade. Para usar exemplos de polos extremos quanto a tamanho, desenvolvimento e capacidade financeira, mas em homenagem à proporcionalidade, João Dória venceu a eleição para a cidade de São Paulo e em poucos meses virou a chave da estagnação e da desordem para um administração severa, objetiva e de resultados. Por isso foi vitorioso no pleito para governador.
Aqui ao lado, em São João da Barra, o governo da prefeita Carla Machado também virou a chave, entre outras iniciativas anunciando abertura de concurso público, o que, convenhamos, demonstra a ousadia da experiência que se coloca na contramão da queda dos royalties.
Assim, por óbvio – repetindo o já dito – ao povo é preciso sinalizar confiança e estabilidade. Mas, acima de tudo, é preciso dar esperança.
Para Campos, hoje, esperança é a palavra chave. E há sempre um jeito de encontrá-la. A população não quer ouvir problema, quer solução.