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“Com paciente no corredor não há solução para a Saúde Pública” – Francisco Lacerda

Francisco Lacerda

Guilherme Belido Escreve
Por Guilherme Belido
3 de novembro de 2019 - 12h01

HÁ EXATOS 11 ANOS BARACK OBAMA VENCIA A ELEIÇÃO NOS EUA COM O

Yes, we can

O ex-presidente FHC, único candidato que venceu as duas eleições para o Palácio do Planalto no 1º turno (1994 e 1998), costuma dizer que “a sociedade só toma conhecimento quando quer”.

O comentário ficou conhecido quando o sociólogo valeu-se da observação para ‘explicar’ a reeleição de Lula da Silva apenas um ano após a descoberta do Mensalão.

Onde se deseja chegar – explica-se ao leitor – citando a eleição de Barack Obama com a observação de FHC, é na mudança de percepção que a História e a própria sociedade costuma atribuir a seus principais personagens, ora vistos e considerados de uma forma, ora de outra, oposta.

Em virtude dessa espécie de ‘simbiose analítica’, um país pode caminhar em certa direção, ou direção contrária, de acordo com a frequente mutação de juízo que a população faz de seus mandatários.

Em 2008 os EUA abraçaram o ‘Yes, we can’ (Sim, nós podemos), que virou o símbolo da vitória de Obama e deu início a uma nova Era embalada pelo uso intenso das redes sociais e pelo carisma de um candidato que prometia um país renovado.

Nascia ali um grande líder, o John Kennedy do século 21, que revolucionaria a América para transformá-la mais acolhedora a todo o povo? Ou um político habilidoso, preparado, formado em Havard, que lançara mão de um marketing excepcional para chegar à Casa Branca?

Num primeiro exame, às duas perguntas se responderia com sim. Mas hoje é preciso relativizar o contexto, visto que cientistas políticos do mundo inteiro estão divididos: para uns, um estadista; para outros, um candidato que virou celebridade e chegou ao Salão Oval.

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Um legado que não
se sabe, ainda, como
vai ser tratado
pela História
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Sucessos e fracassos – O grande avanço que marcou os dois mandatos de Obama foi a reforma do sistema de saúde. Em 2010 foi aprovada lei para que nos 10 anos seguintes todo cidadão americano tivesse cobertura médica, com o governo fornecendo subsídios para os mais pobres.

Ainda em seu período, melhorou sobremaneira os índices econômicos, localizou e matou o líder terrorista Osama bin Laden, promoveu aproximação com Cuba e apostou na diplomacia para obter resultados importantes. De maneria geral, Obama institucionalizou melhor o país.

Por outro lado, falhou na tentativa de fechar a prisão de Guantánamo e a política externa para conter a guerra na Síria não deu resultado. As famílias norte-americanas perderam renda e os confrontos raciais seguiram em alta. A revelação de que serviços de inteligência espionam cidadãos comuns e rastreiam ligações telefônicas manchou o governo.

No geral, mesmo reconhecendo avanços na área diplomática, ficou a sensação de que os Estados Unidos perderam influência a nível mundial perante a Rússia e a China.

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“Neste mundo traidor,
nada é verdade nem mentira:
tudo depende da cor do
cristal com que se mira”.
(Ramón Compoamor)
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Guinadas – Então, é assim que funciona e permanece a pergunta: estadista ou celebridade? A resposta pode ajudar a entender como um presidente tão popular não conseguiu eleger sua sucessora. E o que veio depois influenciou boa parte do mundo, inclusive o Brasil.

Nas guinadas que o mundo dá, o ex-presidente Nixon renunciou em 1974 para livrar-se do impeachment. Sua imagem de então estava ligada apenas ao escândalo de Watergate, mas décadas depois passou a ser visto como o presidente que pôs fim à participação americana na guerra do Vietnã e retomou as relações com a China.

Tudo isso parece se encaixar feito luva nos versos do poeta espanhol Ramón de Compoamor: “Neste mundo traidor, nada é verdade nem mentira: tudo depende da cor do cristal com que se mira”.

 

… E desaguou em Donald Trump

E foi também num início de novembro, há três anos, que o americano virou a chave em 180°, adotou o Make America great again (A América grande novamente) de Trump e transferiu para a História o julgamento se o “Yes, we can” deixa, de fato, um legado, ou se foi apenas passageiro.

Seja como for, a opção Trump significou o reverso de tudo que Obama pensava, pregava, projetava e fazia. O republicano atraiu para seu redor o voto dos ressentidos – a soma de todos que se sentiam excluídos pelo modelo governamental de Obama e que se viram novamente representados.

Trump não escondeu seus muros, tampouco a intolerância. Fez uma campanha raivosa e dessa forma exerce a Presidência.
Entre asneiras e bobagens – entre o que diz de manhã e desdiz de noite – Trump conseguiu desmoralizar até a mentira. Muito do que determina não é feito e ele nem fica sabendo. Mas… (sempre o mas) a economia nada de braçada. Logo, é o que conta.

Seu discurso vem provocando recrudescimento em vários países do mundo – a força ante a diplomacia. A Rússia não esconde sua política dura; China tampouco. O Reino Unido manteve o propósito de deixar a União Europeia.

Brasil – Fã de carteirinha, Bolsonaro pulou no mesmo bote e venceu a eleição aqui. Em muita coisa se alinha ao presidente americano e – há de se fazer justiça – aprovou a reforma da Previdência. O Brasil vai saindo da recessão com vários indicativos econômicos apontando para cima.

A queda dos juros para 5% é a menor taxa da história e, no horizonte, contempla-se um Brasil mais forte. Que se fique, então, de olho em Bolsonaro; mas que a ele se dê o devido crédito se o País sair do atoleiro.

“Com paciente no corredor não há solução”
(FRANCISCO LACERDA)

Semana passada completou dois meses desde que foi encerrada a greve dos médicos de Campos. Naturalmente que em período tão curto não seria possível resolver os graves problemas detectados no Hospital Ferreira Machado e no Hospital Geral de Guarús.

Afinal, conforme relatório do Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj), divulgado no final de agosto, foram nada menos que 128 inconformidades encontradas no Ferreira e 186 no HGG.

Logo, estamos a falar de um relatório que expressou números desastrosos, de caos na Saúde Pública, quadro o qual se espera esteja sendo equacionado.

Contudo, há cerca de 10 dias, outro problema: os hospitais conveniados acionaram o MP com pedido de representação contra a Prefeitura de Campos face ao atraso do repasse das verbas.

Em seguida, os funcionários de hospitais filantrópicos e da rede contratualizada (Santa Casa, Beneficência, Álvaro Alvim e Plantadores) entraram em estado de greve. Em episódio mais recente, a Justiça estabeleceu prazo para que a Prefeitura repasse parte das verbas em atraso para a Beneficência e Álvaro Alvim.

Assim, independente do que possa ter avançado ou esteja sendo feito para resolver problemas mais antigos e recentes, são oportunas as considerações feitas há mais de dois anos pelo médico Francisco Lacerda – e agora complementadas – que previu a possibilidade de agravamento de velhas questões que atingem a saúde de Campos.

Com credenciais que dispensam apresentação – estudioso do tema ‘Saúde Pública’ –, trata-se de médico com 50 anos de profissão, cirurgião ortopedista de conceito, um dos fundadores da Clínica Santa Elena e ex-secretário de Saúde do município. Há mais de 40 anos médico do Americano, ora atuando, também, como plantonista periódico do Hospital Dr. Beda, onde por seis anos foi subdiretor clínico.
Foi perito legista da Polícia Técnica do Estado do Rio, médico da Santa Casa – onde respondeu pelo setor de indigência traumato-ortopédica –, da Beneficência e do PU da Saldanha Marinho.

Para ele, é fundamental a compreensão de que não se chega a lugar algum sem tirar o paciente do corredor e, para tanto, o Ferreira Machado deve focar na emergência. “É como se fazia antes: o Ferreira atendia a emergência e transferia para os outros hospitais o paciente que não exigia sua permanência ali. Você tirava o risco de morte, de mutilação, e encaminhava para os hospitais de apoio, que são o Álvaro Alvim, Beneficência, Sta. Casa e Plantadores – os mesmos que sofrem com a irregularidade no repasse das verbas.
Continuando, Lacerda esclareceu que a Secretaria de Saúde é uma unidade avançada do Ministério da Saúde que precisa negociar a contratualização com os hospitais, tornando os leitos compatíveis com a saúde.

“Não estou falando em tese. No início dos anos 2000, Makhoul Moussallem propôs ao prefeito que o município pagasse uma segunda tabela correspondente aos mesmos valores daquelas pagas pelo Ministério da Saúde. Isso foi feito, e funcionou. Depois reduziu para 80%, depois para 60%, mas continuou valendo. Agora, se a situação atual não permite, se o município se endividou, aí é outra história”.

Fora do corredor – Francisco Lacerda adverte que não fala em tese: “Fui secretário quatro anos e nós nunca tivemos pacientes nos corredores. É fato. E por quê? Porque era feito assim. Claro, se acontecesse um acidente com ônibus ou evento de maior proporção, ia pro corredor. Mas algo eventual, não como regra”.

Frisa, ainda, que gestão prevê prioridades: “Se agora não há recursos, tem que fazer o possível com a verba escassa do SUS. É necessário ativar a emergência da Sta. Casa e aproveitar sua estrutura para desafogar o Ferreira. É uma questão de gerenciar prioridade. Afinal, como estão se virando os municípios que não têm royalties?

Gasto inadequado – O ortopedista lembra ter discordado da construção do HGG, como, agora, da construção do Hospital São José: “A prefeitura está imobilizando dinheiro e gerando custeio, ao invés usá-lo no tratamento de saúde do paciente. O dinheiro que está sendo gasto em alvenaria e manutenção, está deixando de pagar os serviços dos doentes”.

Concluindo, Lacerda observa que tanto melhor seria se o município aproveitasse os hospitais filantrópicos, ainda que demandem alguma reforma: “Não vejo coerência em se transferir dinheiro para algo novo, em detrimento do aproveitamento, por exemplo, de 400 ou 500 leitos da Santa Casa passíveis de estarem funcionando. Em menor escala, o mesmo vale também para os outros hospitais”.