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Arautos do Evangelho se defendem

Grupo da Igreja Católica rebate denúncias de maus tratos e abuso sexual repercutidas na mídia nacional

Comunidade
Por Ocinei Trindade
3 de novembro de 2019 - 9h01

Sede dos Arautos do Evangelhos em Campos dos Goytacazes (Foto: Carlos Grevi)

A organização católica Arautos do Evangelho ganhou repercussão nacional com matéria do programa Fantástico, da TV Globo, veiculada no dia 20 de outubro. Na reportagem, foram denunciados maus tratos, abuso sexual, racismo e violência que seriam praticados por alguns membros da ordem religiosa, uma dissidência do grupo TFP (Tradição, Família e Propriedade) que existe há 20 anos. Em Campos, a sede dos Arautos do Evangelho fica no bairro Parque Imperial.

A repercussão negativa atingiu o grupo religioso e também a comunidade católica. A reportagem conversou, em Campos, com a mãe de um menino de 11 anos. Ela pediu para não se identificar. Disse que em 2016, um grupo dos Arautos esteve na escola do filho e o convidou para conhecer a sede. “O lugar é lindo, tem muito lazer, piscina, mas eles são muito rigorosos. Há atividades que parecem de quartel militar. Na época, meu filho tinha 8 anos. Ele adorava, mas também se queixava que não podia cometer erros, pois era punido. Eu frequentava outra igreja. O padre da paróquia disse que não achava prudente que meu filho continuasse com os Arautos por ser doutrina diferente. Decidi então, me afastar”, disse.

Bispo Dom Roberto Francisco (Foto: Arquivo): “Santa Sé deve se posicionar”

Autoridades católicas do município foram discretas ao comentarem sobre as denúncias feitas aos Arautos do Evangelho. O bispo Dom Roberto Francisco, da Diocese de Campos, disse que quem está habilitado oficialmente a declarar ou posicionar-se sobre os Arautos é o Comissário da Santa Sé, Dom Raimundo Damasceno. “Não tenho dados suficientes para pronunciar-me”, resumiu.

Bispo Dom Fernando Rifan (Foto: Arquivo): “que se separe o joio do trigo”

Já o bispo Dom Fernando Rifan, da Administração Apostólica São João Maria Vianney, foi categórico: “Esperamos que a investigação das denúncias seja apurada pela Santa Sé, e que se separe o joio do trigo: que as acusações falsas sejam repelidas e se houver falhas reais que sejam corrigidas”.

A reportagem do Terceira Via procurou os Arautos do Evangelho, em Campos. Por meio do padre João Carlos Barroso, a assessoria de imprensa da ordem em São Paulo respondeu algumas perguntas sobre a organização religiosa, e sobre a repercussão negativa a partir das denúncias veiculadas pelo Fantástico.

Como a comunidade Arautos do Evangelho reage às denúncias recentes na mídia?

Antes de tudo, é necessário reiterar que as notícias veiculadas pela imprensa são oriundas de um minúsculo grupo de desafetos da entidade. Eles encontraram amparo na mídia sensacionalista para dar vazão às suas ilações, que já circulavam pela internet há certo tempo. Qualquer pessoa sensata entrevê por trás desse linchamento midiático uma autêntica perseguição religiosa. O posicionamento da comunidade pode ser descrito da seguinte forma: de uma parte, muita tranquilidade, por saber que todas as acusações são completamente falsas ou manifestamente exageradas. De outra parte, existe o sentimento de inconformidade pelos ataques injustos, contraditórios e na maioria baseados em testemunhos anônimos. Pelo desproporcional espaço dedicado aos detratores e pela manipulação de informações – algumas delas sob segredo de justiça – desconfia-se da imparcialidade de certos meios de comunicação.

Há quanto tempo os Arautos estão em Campos?

Os Arautos do Evangelho estão em Campos desde a fundação da entidade em 1999.

A ordem religiosa é conhecida pela devoção a Cristo, e também pelo rigor disciplinar dos meninos, procede?

De fato, a devoção de todo católico se dirige em primeiro lugar a Cristo. Une-se ainda a essa centralidade, a devoção à sua Mãe, Nossa Senhora, e à cátedra de Pedro, como pilares da espiritualidade dos Arautos do Evangelho. A disciplina vigente na entidade segue as imemoriais práticas católicas, em conformidade com as leis de Deus e dos homens. Ora, todo cristão está chamado à perfeição evangélica, à qual não é alcançada sem o que hoje se chama de “foco”. Em outras palavras, as obras materiais e espirituais de valor sempre demandam ordem, força de vontade e concentração, sempre com o auxílio da graça de Deus.

Para os frequentadores da paróquia no Parque Imperial e para a comunidade, mudou alguma coisa nestas duas semanas?

Como em todas as perseguições anticatólicas, há grande afervoramento daqueles que realmente nos conhecem e crescente apoio às nossas atividades. A comunidade de Campos recebe, como todas as demais, formação permanente sobre a espiritualidade da Associação. Se a pergunta se refere à recente campanha midiática, é desnecessário qualquer ulterior esclarecimento, pois qualquer membro dos Arautos percebe o desatino das acusações.

O que pretende fazer os Arautos do Evangelho após essa projeção negativa na mídia?

Fazer como prescreveu o Apóstolo Paulo (Rm 12,21), isto é, combater o mal com o bem. De uma parte, é dever de justiça e caridade informar a realidade dos fatos e, por outra, fazer o que sempre fizemos: pregar a boa-nova a toda criatura, pelo exemplo, pela espiritualidade legada por Jesus e pela caridade para com todos, em especial para com os desvalidos, como os encarcerados e os enfermos.

Em casos de discordâncias de membros da comunidade, como proceder?

Com toda caridade. Cada um é livre para manifestar a sua discordância. Se a observação é coerente, procede-se prontamente com medidas sanadoras para o bem das pessoas envolvidas e para o bem comum.

A organização pretende se defender judicialmente contra a emissora que veiculou a reportagem?

Sim, é surpreendente e inaudita uma matéria desse teor, de cerca de 25 minutos, durante dois domingos consecutivos. Com efeito, na primeira transmissão, a TV Globo veiculou diversas acusações, sem oferecer as respostas oferecidas na entrevista com os Arautos ou omitindo partes fundamentais. Ao contrário das infâmias divulgadas, a entidade prega com ênfase a união familiar, a união entre os povos, sem qualquer espécie de privilégio racial, e a castidade, levada a sério na instituição. O preconceito religioso se estendeu em revelar dados distorcidos das bênçãos exorcísticas e dos chamados “capítulos”, confundindo a mente do povo. Quanto à segunda transmissão, foi lamentável a emissora não dar ouvidos a pessoas que queriam se exprimir em nome da associação, com a anuência desta. O novo programa repetiu as truculências e diatribes contra a associação. Chamou a atenção a divulgação do tapa simbólico da crisma, como se fosse uma agressão, omitindo o abraço sucessivo e manipulando o volume do som. No tocante à defesa judicial, os advogados da instituição estão estudando as medidas cabíveis.

Qual a melhor maneira de se resolver esta situação?

É manifestando a verdade. Os Arautos, ao contrário, do que se divulgou, promovem o bem, onde quer que atuem. Por exemplo, o Fundo Misericórdia de amparo às pessoas carentes beneficiou, desde 2005, 585 instituições de caridade, em mais 200 municípios e 106 dioceses no Brasil. No tocante às intenções por trás dessa desproporcional campanha difamatória, encontra-se um objetivo muito claro, a saber: minar as bases conservadoras, que defendem os valores da família, da vida cristã e da paz social, conforme os ensinamentos da Igreja Católica. A instituição espera o fim dessa campanha antirreligiosa, que no fundo visa alvejar o governo legitimamente eleito e, por tabela, a todos brasileiros de boa vontade que almejam o bem da nação. Os Arautos do Evangelho são conscientes das perseguições do passado e sentem suas metamorfoses no presente. Contudo, esperam um futuro diferente, pois Jesus prometeu que as portas do inferno jamais prevaleceriam contra a Igreja.