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Entrevista: A arte transbordando nas telas

A artista plástica Liz Romano se dedica há mais de vinte anos às técnicas da pintura, retratando o contexto local

Cultura
Por Redação
28 de outubro de 2019 - 7h00

(Foto: Thiago Souza)

Natural da cidade de Campos dos Goytacazes, graduada em Serviço Social pela UFF, Universidade Federal Fluminense e Pós-Graduada em Psicopedagogia na Uniflu, Centro Universitário Fluminense, Liz Romano iniciou nas artes plásticas quando se aposentou no Magistério Público Estadual, cursando pela primeira vez aulas de pintura em tela no Palácio da Cultura. Tempos depois visitou uma exposição de artes plásticas do atelier da artista plástica Electra Salgado, no shopping Pelinca Square Center, o que veio despertar o seu interesse em aprimorar sua arte, matriculando-se logo em seguida e se mantendo até a presente data. O desejo de investir na arte foi despertado naquela época para nunca mais adormecer. Hoje, com mais de 20 anos de trajetória nas artes, uma bagagem cultural e de premiações extensa e inúmeros trabalhos em seu acervo, Liz aprimora suas técnicas e ressignifica suas obras ao longo do tempo.

Quando exatamente surgiu o interesse pela arte, pela pintura em telas e para iniciar a trajetória artística?

“Já tem um bom tempo. O interesse surgiu quando eu me aposentei do magistério, onde atuei na rede estadual. Eu continuei em outro trabalho paralelo, mas resolvi me dedicar à arte, que era algo que sempre gostei. Comecei no ano de 1998, através de aulas e oficinas no Palácio da Cultura, pela Prefeitura de Campos, onde aprendi muito por dois anos. Em 1998, eu descobri o Ateliê de Electra Salgado, uma grande artista da cidade, uma mulher de renome, a única restaurada no município no momento e é onde estou até hoje aprendendo e aprimorando minhas técnicas. Há mais de 20 anos eu pinto e há 18 anos eu estou no ateliê dela, que é onde eu absorvo muito do que ela pode me transmitir. Todo ano a Electra se recicla, faz questão de passar novas técnicas e novos conhecimentos para os seus alunos. Eu não tenho porquê me afastar da fonte da arte e da fonte do conhecimento, de aprimoramento e de contato com o mundo artístico, por isso continuo lá até hoje, tendo aulas todas as semanas. Desde dezembro de 2010 faço parte da Associação Brasileira de Desenho e Artes Visuais situada na capital”.

Você também mantém um site com suas obras e criações, o www.lizromanotelas.com. Conte mais detalhes sobre o seu espaço virtual.

“Em meu site, devido a esses mais de vinte anos de experiência com a arte, resolvi fazer esse espaço virtual para poder divulgar o meu trabalho. Nele, o público poderá acessar todas as telas que produzi e comecei a fazer lá em 1998. Nas minhas produções, você poderá observar diversos estilos utilizados e técnicas variadas, como desenho e pintura com giz de cera, nanquim, pastel óleo, pastel seco, grafite, crayon, óleo e acrílica, textura, espatulado, transparência, decoupagem, envelhecido barroco, craquelado e a que eu mais gosto, que é a monocromia”.

Fale mais um pouco sobre sua técnica de pintura favorita.

“A monocromia é uma técnica diferente que eu me identifiquei muito. Nela, nós escolhemos uma cor e trabalhamos toda a tela com diversos tons dessa tonalidade, dando destaque ao objeto ou figura presente na tela. Uma das minhas telas em monocromia é um retrato das ruínas de Atafona, em São João da Barra, toda em tons de azul. Inclusive, eu gosto muito de pintar as ruínas de Atafona, porque é uma realidade nossa que existiu e hoje não existe mais, está em mutação. Geralmente, eu reproduzo fotografias que fiz nas telas. Acho de uma grande importância retratar elementos da nossa realidade”.

Das técnicas que você utiliza, a monocromia é a mais difícil?

“Antes de utilizar a monocromia, eu fiz uma tela na mesma imagem de Atafona, no tom natural do ambiente e como eu gostei muito do que eu reproduzi, eu parti para inserir em monocromia. Diz a minha professora Electra Salgado que essa é uma das técnicas em que o aluno encontra muita dificuldade, mas eu me identifiquei muito e gosto de utilizar essa técnica”.

Na monocromia, a escolha dos tons deve ser bem precisa. Quais são os cuidados?

“A escolha do tom não é uma dificuldade para mim. Uma vez escolhido, o tom na monocromia a gente vai variando conforme a figura. Tenho telas em tons vermelhos na mesma técnica, mas para fazer a nuance de cores tem que ser bem precisa, justamente para haver harmonia entre os tons. O branco é o aliado para dar os tons daquela cor escolhida, pode-se misturar à determinada cor com branco ou preto para encontrar o tom ideal. É possível fazer também telas em monocromia mista, com elementos fora da técnica, unidos ao restante da imagem pintados na mesma cor. Eu tenho a opção de brincar, de escolher e variar elementos e cores, porque durante o trabalho percebemos a necessidade de ir adaptando o que for necessário na tela. Eu digo que vou conversando com ela, enquanto a realizo, até porque é um trabalho demorado, que leva tempo. Não fazemos a tela em um ou dois dias. Leva-se tempo para aperfeiçoar, mudar, ver se tem algum erro e consertar, poder harmonizar melhor em termos de tom. É uma conversa pessoal e íntima para ir realizando o trabalho e chegar ao ponto ideal. Muitas vezes aquele que observa a tela vai fazer uma crítica negativa, mas estou sempre trabalhando naquela tela e vai chegar um momento de alcançar o ponto ideal no resultado”.

Essa observação da tela ao longo do processo de criação serve também para modificar o olhar?

“Essa é a vantagem de trabalhar com a tinta a óleo. Essa você pode trabalhar independente do tempo, já o outro tipo de tinta não se pode mexer e alterar, por isso eu consigo modificar à medida em que vou tendo outras ideias e inspirações”.

De todas as telas que produziu até hoje, quais são as suas favoritas?

“Cada tela é um pedacinho da gente. Eu gosto de todas, mas existem aquelas que foram as mais premiadas e se destacam. A que foi a intitulada ‘Voo das borboletas’ é um das minhas favoritas, que é uma tela muito premiada. Tem outra com a imagem de um lírio feita na técnica do mosaico, que inclusive das muitas participações que fiz em salões de arte, eu estive com esse lírio na exposição do consulado da Argentina no Rio de Janeiro. Tem ainda uma tela especial também que é inspirada em nossa região, sobre a cultura canavieira, que é o meu xodó, pois ela produz diversas interpreções ao olhar. Tem várias leituras”.

Por que assinar suas telas ‘Liz Romano’?

“Meu nome é Elizabeth Romano, um nome grande para assinar em telas. As primeiras telas que fiz até foram assinadas assim, mas eu fiquei pensando em como diminuir e encurtar para ficar mais fácil e ser de fácil identificação, então escolhi a sílaba Liz que faz para do meu nome”.

Você também ama a música, a poesia e a dança. Já desenvolveu projetos e trabalhos ligados a essas áreas?

“Sim, o meu trabalho é pautado na criatividade, na tentativa de expressar os sentimentos. Minhas obras são expressões de sentimentos, valores, sutileza, sensibilidade e percepção da vida. Em meu site, há um material de criações literárias, inclusive tem uma crônica que eu fiz chamada ‘Grifes Divinas’. Quem tiver a oportunidade de visitar o espaço virtual poderá ler. Eu participei com ela em diversos eventos, exposições, salões e a crônica foi muito premiada. Também tive a oportunidade de participar com ela na confecção de um livro”.

Mais recentemente, o que de novo relacionado à arte, você tem aprendido e desenvolvido?

“Nos últimos meses, eu trabalhei na customização das minhas próprias roupas. Eu mesma criei a pintura, modificando as peças, colocando a arte em saias, blusas e vestidos. Além disso, este ano, eu comecei a fazer telas em abstrato geométrico, foi uma técnica que me identifiquei muito e estou gostando. Já estou trabalhando em telas com esse formato que são novidades no meu trabalho”.

O que mais os visitantes podem encontrar em seu site?

“Eles podem conferir a galeria de telas, as minhas premiações, os artigos literários e diversos outros materiais e criações. Acho interessante cada visitante selecionar o último ícone disponível em minha página que é o livro de visitas. Pode deixar um comentário, pois gosto de saber o feedback do público e estou sempre interagindo por lá”.