Ambiente político desbaratado e repleto de ofensas chulas via redes “anti-sociais”
Nesta segunda-feira (28) completa um ano a eleição de Jair Bolsonaro, quando o Brasil virou radicalmente a chave da posição em que então se encontrara nos últimos 16 anos, desbancou o PT e elegeu um candidato de direita que abertamente fazia elogio ao regime militar o qual tratara como se não tivera sido uma ditadura.
Algo surpreendente antes de 2018 e impensável há 2 ou 3 anos. Um capitão reformado, deputado do chamado “baixo clero”, virar presidente da República.
Mas, por outro lado, fácil de explicar: o povo, que engoliu calado o mensalão que o ex-presidente Lula da Silva disse que não tinha conhecimento, e o reelegeu; depois, em novo voto de confiança, seguiu sua orientação e pôs Dilma Rousseff no Planalto; e, em 2014, espichou a corda dando o segundo mandato a Dilma, – desistiu quando o Petrolão e sua penca de acessórios vieram à tona.
Não deu para engolir que Lula – que nada sabia do mensalão arquitetado ali, coladinho a seu gabinete, na Casa Civil, pelo ‘companheiro’ Zé-Dirceu – não sabia, também, do Petrolão. Nem ele, nem Dilma.
Foi demais – Simplesmente não deu pra assimilar goela abaixo o maior esquema de corrupção do mundo – o assalto aos cofres públicos do Brasil – desbaratado pela Lava Jato, bem como as mentiras ditas ao povo para esconder a realidade econômica que não tardaria para jogar o País na maior recessão de sua história, e, ainda, as manobras para manter Dilma no cargo e fazer de Lula ministro da Casa Civil.
Na sequência, o circo montado no Palácio do Planalto para barrar o impeachment, o afastamento da ‘presidenta’ e a ascensão do vice Michel Temer (da chapa do PT, lembremo-nos), inaugurando nova fase de escândalos, com direito à vergonhosa gravação da JBS, feita nos porões do Jaburu.
Dezesseis anos
Então, é só somar: são 4 + 4 de Lula + 4 de Dilma + 4 de Dilma/Temer = 16 e o povo se insurgindo contra a parte final de tudo isso, contra os gastos da Copa 2014 e contra o choro de Lula abraçado a Cabral quando o Brasil foi “escolhido” para sediar as Olimpíadas – e tome mais dinheiro público roubado.
O mesmo povo sofrido que se insurgiu, também, contra as ‘ligações perigosas’ de Lula com os maiores empreiteiros do Brasil, contra as ‘recomendações’ feitas aos executivos mais influentes do País e contra 14 milhões de desempregados. Contra, ainda, aos serviços essenciais em frangalhos e tudo o mais que formou a tempestade perfeita – o quadro de infortúnio e desalento que tomou conta da Nação.
Mais do que a soma dos erros, a ‘soma de todos os medos’ de que o Brasil fosse parar no brejo com corda e tudo, desaguou em Jair Bolsonaro.
Não se votou em Bolsonaro por pensá-lo estadista ou grande figura pública. Com todo respeito, a opção por seu nome se deu pela candidatura que se apresentava contra os malfeitos do PT, contra a corrupção deslavada, contra os excessos do politicamente correto, contra a violência crescente, a educação decrescente e a saúde inexistente.
Bolsonaro incorporou a figura que melhor se colocou contra um estado de coisas inadmissíveis e contra o copo que transbordou. É bom lembrar, na enxurrada, vale até subir em jacaré como se fosse toco de árvore para tentar fugir da correnteza.
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Na enxurrada, vale até
subir em jacaré como
se fosse toco de árvore
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Um ano de eleito, dez meses de governo, e uma série de surpresas.
O que mais se temia, um ministério repleto de militares que poderia oferecer risco à democracia, não se vislumbra. Ao contrário, são os ministros militares que mais tentam equilibrar o governo e consertar as falas desastrosas, ora do presidente, ora de seus filhos.
Filhos ‘presidenciais’ – Neste particular, impressiona a presença do vereador Carlos Bolsonaro e do deputado Eduardo nos assuntos do Planalto, em especial na maneira como se portam nas redes sociais face a adversários políticos e aliados que viraram desafetos.
Palavras rudes e grosseiras. Ofensas gratuitas ou, ainda que justificadas, indevidas. Os ‘filhos presidenciais’ atuam intensamente nas redes sociais como se fossem porta-vozes da Presidência da República.
O silêncio do presidente é visto como sinal de concordância, o que gera desgaste para o governo e atrapalha o Brasil no cenário local e internacional.
Desatinos – A fala de Carlos Bolsonaro sobre as “vias democráticas”, referindo-se à velocidade das transformações desejadas. Antes, o pai enfatizando que democracia e liberdade só existem quando as Forças Armadas querem.
Ofensas contra diferentes figuras do meio político, palavras rudes, como a troca de baixarias com o líder do PSL no Senado, Major Olímpio, a quem taxou de “bobo da corte”. O senador reagiu: “Moleque”. Carlos novamente retrucou: “Conheço sua laia, canalha”.
E por aí segue, como a mais recente, entre Eduardo e Joice Hasselmann. “#DeixeDeSeguirAPepa”, postou o filho do presidente, comparando a deputada à personagem de desenho animado Peppa Pig. A reação de Joice veio no mesmo tom: “Picareta! Menininho nem-nem: nem embaixador, nem líder, nem respeitado. Um zero à esquerda.”
No meio de tudo isso, o anúncio da indicação de Eduardo para embaixador em Washington, decisão estapafúrdia, agora abortada, mas não sem antes produzir novos arranhões na imagem do governo.
A bem da verdade, não foi Bolsonaro quem trouxe mediocridade à política brasileira, apenas faz parte dela.
O “cenário político medíocre”, como recentemente apontou o jornalista Elio Gaspari, de O Globo, tem a ver, entre outros motivos, com a despolitização da sociedade brasileira ao longo dos 20 anos de ditadura, cuja conta, naturalmente, apareceu depois.
Três décadas e meia de democracia não foi período suficiente para que, com honrosas exceções, o Brasil formasse grandes lideranças em substituição àquelas que antecederam o Golpe de 64 e/ou a ele sobreviveram.
Nomes – Citando apenas alguns poucos (por ordem alfabética e sem recuar aos que morreram antes dos anos 70), pergunta-se: quem se mostra no horizonte político de hoje à altura de figuras como Carlos Lacerda, Juscelino Kubtscheck, Leonel Brizola, Mário Covas, Miguel Arraes, Tancredo Neves, Teotônio Vilela, Ulisses Guimarães e
outros?
Aécio, Collor ou Renan? Claro que não. Alckmin, Álvaro Dias, Ciro Gomes, João Dória, Marina Silva, Miro Teixeira e alguns outros poucos? Talvez. Mas a cada qual parece faltar alguma coisa.
FHC, Pedro Simon e Roberto Freire, certamente. Mas os três – juntamente com mais alguns involuntariamente omitidos – já deram suas respectivas contribuições ao País.
Quem falta?
Falta Lula da Silva, naturalmente. Voltando a Elio Gaspari e enfatizando o prestígio alcançado ao longo de mais de 50 anos de renomada carreira no jornalismo, de fato “quando Lula deixar a carceragem de Curitiba” – conforme destacou em seu artigo ‘O fator Lula Livre’ – “seja logo… ou poucos meses, alterará o medíocre cenário político que se instalou no país…”.
Disso, não se tem dúvida. Mas o estrondo do líder petista novamente falando ao público e inflamando a militância vai durar quanto tempo? Sem mudança de discurso, até onde o que encantou há 40 anos não vai soar como repetitivo? Com 74 anos, que outros processos ainda esperam pelo ex-presidente?
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No Brasil que não
renova lideranças
Lata Velha tem vez
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Se o texto de Gaspari gera controvérsias, controversa não há quando se constata que o Brasil está mergulhado em lastimável mediocridade política, carecendo de políticos de peso e de prestígio, tanto quanto de figuras públicas que mereçam ocupar a prateleira dos grandes líderes que lutaram em favor do País.
Triste, decadente e frustante é amargar a possibilidade da política brasileira ter se apequenado a tal ponto de ver o apresentador Luciano Huck “despontar” como um nome a ser considerado, e que esta terra outrora governada por Vargas e Juscelino, agora padece de quem se projetou no “Lata Velha”.