×
Copyright 2024 - Desenvolvido por Hesea Tecnologia e Sistemas

Sem lideranças, Brasil tem política medíocre

Há um ano, Bolsonaro era eleito presidente

Guilherme Belido Escreve
Por Guilherme Belido
27 de outubro de 2019 - 12h01

UM ANO DA ELEIÇÃO DE BOLSONARO

Política de mediocridade

Ambiente político desbaratado e repleto de ofensas chulas via redes “anti-sociais”

Nesta segunda-feira (28) completa um ano a eleição de Jair Bolsonaro, quando o Brasil virou radicalmente a chave da posição em que então se encontrara nos últimos 16 anos, desbancou o PT e elegeu um candidato de direita que abertamente fazia elogio ao regime militar o qual tratara como se não tivera sido uma ditadura.
Algo surpreendente antes de 2018 e impensável há 2 ou 3 anos. Um capitão reformado, deputado do chamado “baixo clero”, virar presidente da República.

Mas, por outro lado, fácil de explicar: o povo, que engoliu calado o mensalão que o ex-presidente Lula da Silva disse que não tinha conhecimento, e o reelegeu; depois, em novo voto de confiança, seguiu sua orientação e pôs Dilma Rousseff no Planalto; e, em 2014, espichou a corda dando o segundo mandato a Dilma, – desistiu quando o Petrolão e sua penca de acessórios vieram à tona.

Não deu para engolir que Lula – que nada sabia do mensalão arquitetado ali, coladinho a seu gabinete, na Casa Civil, pelo ‘companheiro’ Zé-Dirceu – não sabia, também, do Petrolão. Nem ele, nem Dilma.

Foi demais – Simplesmente não deu pra assimilar goela abaixo o maior esquema de corrupção do mundo – o assalto aos cofres públicos do Brasil – desbaratado pela Lava Jato, bem como as mentiras ditas ao povo para esconder a realidade econômica que não tardaria para jogar o País na maior recessão de sua história, e, ainda, as manobras para manter Dilma no cargo e fazer de Lula ministro da Casa Civil.

Na sequência, o circo montado no Palácio do Planalto para barrar o impeachment, o afastamento da ‘presidenta’ e a ascensão do vice Michel Temer (da chapa do PT, lembremo-nos), inaugurando nova fase de escândalos, com direito à vergonhosa gravação da JBS, feita nos porões do Jaburu.

Dezesseis anos

Então, é só somar: são 4 + 4 de Lula + 4 de Dilma + 4 de Dilma/Temer = 16 e o povo se insurgindo contra a parte final de tudo isso, contra os gastos da Copa 2014 e contra o choro de Lula abraçado a Cabral quando o Brasil foi “escolhido” para sediar as Olimpíadas – e tome mais dinheiro público roubado.
O mesmo povo sofrido que se insurgiu, também, contra as ‘ligações perigosas’ de Lula com os maiores empreiteiros do Brasil, contra as ‘recomendações’ feitas aos executivos mais influentes do País e contra 14 milhões de desempregados. Contra, ainda, aos serviços essenciais em frangalhos e tudo o mais que formou a tempestade perfeita – o quadro de infortúnio e desalento que tomou conta da Nação.

 

Na soma de todos os medos, a “solução” Bolsonaro

Mais do que a soma dos erros, a ‘soma de todos os medos’ de que o Brasil fosse parar no brejo com corda e tudo, desaguou em Jair Bolsonaro.
Não se votou em Bolsonaro por pensá-lo estadista ou grande figura pública. Com todo respeito, a opção por seu nome se deu pela candidatura que se apresentava contra os malfeitos do PT, contra a corrupção deslavada, contra os excessos do politicamente correto, contra a violência crescente, a educação decrescente e a saúde inexistente.
Bolsonaro incorporou a figura que melhor se colocou contra um estado de coisas inadmissíveis e contra o copo que transbordou. É bom lembrar, na enxurrada, vale até subir em jacaré como se fosse toco de árvore para tentar fugir da correnteza.

___________________
Na enxurrada, vale até
subir em jacaré como
se fosse toco de árvore
______________________

Um ano de eleito, dez meses de governo, e uma série de surpresas.
O que mais se temia, um ministério repleto de militares que poderia oferecer risco à democracia, não se vislumbra. Ao contrário, são os ministros militares que mais tentam equilibrar o governo e consertar as falas desastrosas, ora do presidente, ora de seus filhos.

Filhos ‘presidenciais’ – Neste particular, impressiona a presença do vereador Carlos Bolsonaro e do deputado Eduardo nos assuntos do Planalto, em especial na maneira como se portam nas redes sociais face a adversários políticos e aliados que viraram desafetos.
Palavras rudes e grosseiras. Ofensas gratuitas ou, ainda que justificadas, indevidas. Os ‘filhos presidenciais’ atuam intensamente nas redes sociais como se fossem porta-vozes da Presidência da República.
O silêncio do presidente é visto como sinal de concordância, o que gera desgaste para o governo e atrapalha o Brasil no cenário local e internacional.

Desatinos – A fala de Carlos Bolsonaro sobre as “vias democráticas”, referindo-se à velocidade das transformações desejadas. Antes, o pai enfatizando que democracia e liberdade só existem quando as Forças Armadas querem.
Ofensas contra diferentes figuras do meio político, palavras rudes, como a troca de baixarias com o líder do PSL no Senado, Major Olímpio, a quem taxou de “bobo da corte”. O senador reagiu: “Moleque”. Carlos novamente retrucou: “Conheço sua laia, canalha”.

E por aí segue, como a mais recente, entre Eduardo e Joice Hasselmann. “#DeixeDeSeguirAPepa”, postou o filho do presidente, comparando a deputada à personagem de desenho animado Peppa Pig. A reação de Joice veio no mesmo tom: “Picareta! Menininho nem-nem: nem embaixador, nem líder, nem respeitado. Um zero à esquerda.”
No meio de tudo isso, o anúncio da indicação de Eduardo para embaixador em Washington, decisão estapafúrdia, agora abortada, mas não sem antes produzir novos arranhões na imagem do governo.

 

Mediocridade política não vai pra conta do governo. É anterior

A bem da verdade, não foi Bolsonaro quem trouxe mediocridade à política brasileira, apenas faz parte dela.
O “cenário político medíocre”, como recentemente apontou o jornalista Elio Gaspari, de O Globo, tem a ver, entre outros motivos, com a despolitização da sociedade brasileira ao longo dos 20 anos de ditadura, cuja conta, naturalmente, apareceu depois.
Três décadas e meia de democracia não foi período suficiente para que, com honrosas exceções, o Brasil formasse grandes lideranças em substituição àquelas que antecederam o Golpe de 64 e/ou a ele sobreviveram.

Nomes – Citando apenas alguns poucos (por ordem alfabética e sem recuar aos que morreram antes dos anos 70), pergunta-se: quem se mostra no horizonte político de hoje à altura de figuras como Carlos Lacerda, Juscelino Kubtscheck, Leonel Brizola, Mário Covas, Miguel Arraes, Tancredo Neves, Teotônio Vilela, Ulisses Guimarães e
outros?
Aécio, Collor ou Renan? Claro que não. Alckmin, Álvaro Dias, Ciro Gomes, João Dória, Marina Silva, Miro Teixeira e alguns outros poucos? Talvez. Mas a cada qual parece faltar alguma coisa.
FHC, Pedro Simon e Roberto Freire, certamente. Mas os três – juntamente com mais alguns involuntariamente omitidos – já deram suas respectivas contribuições ao País.
Quem falta?
Falta Lula da Silva, naturalmente. Voltando a Elio Gaspari e enfatizando o prestígio alcançado ao longo de mais de 50 anos de renomada carreira no jornalismo, de fato “quando Lula deixar a carceragem de Curitiba” – conforme destacou em seu artigo ‘O fator Lula Livre’ – “seja logo… ou poucos meses, alterará o medíocre cenário político que se instalou no país…”.
Disso, não se tem dúvida. Mas o estrondo do líder petista novamente falando ao público e inflamando a militância vai durar quanto tempo? Sem mudança de discurso, até onde o que encantou há 40 anos não vai soar como repetitivo? Com 74 anos, que outros processos ainda esperam pelo ex-presidente?

__________________
No Brasil que não
renova lideranças
Lata Velha tem vez
______________

Se o texto de Gaspari gera controvérsias, controversa não há quando se constata que o Brasil está mergulhado em lastimável mediocridade política, carecendo de políticos de peso e de prestígio, tanto quanto de figuras públicas que mereçam ocupar a prateleira dos grandes líderes que lutaram em favor do País.
Triste, decadente e frustante é amargar a possibilidade da política brasileira ter se apequenado a tal ponto de ver o apresentador Luciano Huck “despontar” como um nome a ser considerado, e que esta terra outrora governada por Vargas e Juscelino, agora padece de quem se projetou no “Lata Velha”.