“O médico é um especialista que cuida de vidas. Todas as vezes em que eu estiver lidando com o paciente, não estou lidando com uma doença, mas sim com uma pessoa, com uma vida. Quando direcionamos para o mundo da neonatologia, que é a especialidade médica que trata de bebês, eu estou lidando com a vida mais importante de outras duas vidas, seus pais, por exemplo. É claro que existe uma série de desafios na UTI Neonatal que merecem ser vencidos. Sempre digo que quando temos um bebê na UTI, teremos que subir uma escada, degrau por degrau, até realmente conseguir chegar no momento da alta, que é sempre o objetivo máximo. Mesmo assim, sei que estamos falando de medicina, existem perdas, bebês que não sobrevivem e nesse momento a coisa mais importante como médico, na verdade como ser humano, é dar o suporte para aquela família, é confortar. Nessa área, não conseguimos curar sempre, mas podemos oferecer apoio em um momento tão difícil de suas vidas”, observa.
Segundo o Dr. Gabriel Variane, entre os grandes desafios enfrentados pelos profissionais da neonatologia, principalmente os médicos, está a asfixia perinatal. Dados epidemiológicos apontam para o nascimento de cerca de 15 milhões de bebês com a doença por ano no mundo. No Brasil, estima-se 20 mil crianças com asfixia perinatal anualmente, o que seria aproximadamente dois bebês nascendo com este problema por hora em nosso país.
“A asfixia perinatal é um tema de profunda importância na neonatologia, significa falta de oxigênio em momentos próximos ao parto, ou seja, antes, durante ou logo após ao nascimento. É uma doença muito comum e a terceira causa de morte em bebês no mundo inteiro. Todo o nosso corpo precisa de oxigênio, mas o principal órgão, o primeiro a sentir falta é o cérebro e justamente o que tem mais difícil recuperação. Além de a asfixia ser uma doença com alto risco de morte e caso sobreviva e não receba os tratamentos mais adequados, o bebê tem uma grande chance de desenvolver uma sequela neurológica por toda a sua vida”, explica.
O neonatologista frisa que existe uma série de tratamentos que são fundamentais para diminuir as chances de uma criança ter uma lesão neurológica permanente, dentre esses, o que merece muito destaque é a hipotermia terapêutica. “A nossa temperatura é de mais ou menos 36/37 graus. O bebê quando nasce também tem essa temperatura, mas no momento em que eu faço o diagnóstico de asfixia perinatal, e é muito importante que seja ali nas primeiras horas de vida, eu preciso resfriar o corpo do bebê para algo entre 33/34 graus, 33 e meio seria a média. Eu vou manter esse resfriamento por 72 horas seguidas e então iniciar um reaquecimento lento e gradual. Quando eu faço esse resfriamento por três dias e reaqueço devagar, eu protejo muito o cérebro dessa criança”, detalha.
“É com muito orgulho que eu volto a Campos. Temos um projeto em São Paulo, que se chama ‘Protegendo Cérebros, Salvando Futuros (PBSF)’, onde há mais de dois anos atuamos em parceria com a UTI Neonatal Nicola Albano para justamente trazer uma série de metodologias e uma visão muito diferenciada sobre o bebê de alto risco para a lesão cerebral e claro que dentre esses, o pequeno paciente com asfixia perinatal também ganha muito destaque. Nessa parceria, eu percebo uma evolução gigante no cuidado, pois é um trabalho longitudinal. Cada dia que passa são novos bebês em tratamento. Atualmente, existem mais de duzentos recém-nascidos monitorizados no grupo e diversas crianças receberam hipotermia terapêutica. Com esse processo, noto que a equipe vai ganhando mais expertise e excelência nesse tratamento e realmente nesse retorno, eu vejo que isso fica cada vez mais evidente”, garante.