×
Copyright 2024 - Desenvolvido por Hesea Tecnologia e Sistemas

Nascido gay?

Neste artigo, Paulo Cassiano Jr. aborda a influência genética na homossexualidade

BLOG
Por Paulo Cassiano Júnior
29 de setembro de 2019 - 7h02

Há muito os cientistas têm-se debruçado sobre a influência da genética na orientação sexual das pessoas. Especialmente a partir da década de 1990, diversas pesquisas avançaram na exploração de possíveis bases naturais para o fenômeno da homossexualidade. Uma delas, por exemplo, mostrou que gêmeos idênticos têm maior tendência a compartilhar a mesma orientação sexual do que gêmeos não-idênticos ou irmãos não-gêmeos.

A ideia de que os genes possam impactar na atração por pessoas do mesmo sexo ganhou destaque mundial em 1993, quando o geneticista Dean Hamer, do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, descobriu ligações entre marcadores de DNA no cromossoma X (o gene Xq28) e a orientação homossexual masculina.

Todas essas investigações restaram superadas há quatro semanas, ocasião em que a prestigiada revista britânica “Science” publicou o maior estudo já realizado sobre o suporte biológico do comportamento sexual. O trabalho analisou o DNA e experiências sexuais de cerca de meio milhão de pessoas, uma base de dados cem vezes maior que a anterior. Assinaram a pesquisa cientistas de múltiplas áreas do conhecimento humano das principais universidades da Europa e dos Estados Unidos.

Segundo os pesquisadores, quando se considera o genoma todo, estima-se que entre 8% e 25% do comportamento sexual pode ser explicado pela genética. A principal descoberta do estudo, porém, diz respeito à homossexualidade. Apenas cinco marcadores genéticos foram encontrados com frequência em pessoas autodeclaradas homossexuais. Ao averiguarem o peso dessas variantes, os cientistas avaliaram que, mesmo se alguém possuísse todos esses marcadores ao nascer, seria menos de 1% mais propenso a reportar um comportamento homossexual do que alguém nascido sem eles.

Em outras palavras: as conclusões da pesquisa praticamente sepultaram a ideia de uma causa biológica para a homossexualidade. Palavras de David Curtis, professor honorário do Instituto de Genética da University College London: “Este estudo mostra claramente que não existe um gene gay”.

Bem, se não se nasce homossexual, então como explicar a orientação por pessoas do mesmo sexo? O estudo aponta o caminho: nossas inclinações sexuais envolvem a interação do nosso DNA com diversos e complexos fatores ambientais, comportamentais e culturais. Além disso, questões afetas à criação e aos relacionamentos também são significativos para influenciar na escolha do parceiro sexual de um indivíduo.

Bastante curioso notar que, de acordo com a “Science”, a equipe de cientistas consultou grupos LGBTQ. Isso talvez ajude a esclarecer por que a pesquisa repercutiu tão timidamente no Brasil, onde a apologia ao movimento tem sido militante. Após décadas de apego ao discurso do “nasci assim” para respaldo da homossexualidade, é compreensível que o ativismo LGBTQ esteja experimentando o mesmo desânimo confessado pelo doutor Hamer (o do gene Xq28): “Agora estou muito menos empolgado com a possibilidade de obter boas pistas biológicas para a orientação sexual”.