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Ministro da Educação participa de vídeo sobre denúncia na UFF, em Campos

Abraham Weintraub e o deputado Carlos Jordy afirmam que alunos de direita são perseguidos pela instituição; diretor nega

Educação
Por Ocinei Trindade
5 de setembro de 2019 - 19h39

Um vídeo com declarações do ministro da Educação, Abraham Weintraub, e do deputado federal Carlos Jordy (PSL-RJ) foi compartilhado nas redes sociais por integrantes de um movimento chamado UFF Livre. Eles afirmam que estudantes da Universidade Federal Fluminense, em Campos dos Goytacazes, estariam sendo alvo de sindicância e perseguição por parte da direção da UFF, por se declararem partidários de direita e por denunciarem supostas irregularidades cometidas dentro do campus. O diretor Carlos Rosendo Saraiva disse que não se pronunciaria sobre o vídeo, mas confirmou a sindicância instalada.

O vídeo com menos de dois minutos de duração é aberto com a fala do ministro Weintraub falando sobre “a liberdade universitária das federais”. Ele classifica como “horrorosa” uma denuncia do Movimento “UFF Livre – Campos dos Goytacazes”, formado por jovens que se mobilizam pela liberdade e, que estariam sendo perseguidos. O ministro pergunta ao deputado Carlos Jordy se essa questão “vai ficar barato”. O deputado afirma que não.

Deputado federal Carlos Jordy do PSL (Foto: Reprodução)

Na fala do deputado Jordy, ele diz conhecer o movimento UFF Livre desde 2016, e da luta dos integrantes por um ambiente acadêmico plural que possa ter todas as correntes filosóficas, ideológicas e políticas. Jordy afirma que os estudantes estariam sendo perseguidos pelo diretor do campus da UFF, em Campos dos Goytacazes, Roberto Rosendo Saraiva, por discordar do movimento e das questões apresentadas, e que este seria contrário à liberdade de expressão. No vídeo, enquanto o deputado se pronuncia, são apresentadas imagens de eventos e manifestações ligadas a partidos de esquerda como o PT e o PSOL.

A reportagem procurou a Reitoria da UFF e a direção do campus em Campos dos Goytacazes. O diretor Roberto Rosendo Saraiva disse que não se pronunciaria acerca do vídeo, nem das falas de Weintraub e Jordy, já que não foi comunicado oficialmente pelos dois sobre as denúncias. No entanto, Rosendo confirmou que abriu sindicância para apurar denúncias de professores contra o movimento UFF Livre.

“A sindicância está sob a responsabilidade de uma comissão. Não há nenhum tipo de perseguição praticada por minha direção na UFF. O que acontece é que servidores se sentiram ultrajados por integrantes do movimento, sem direito de defesa no espaço de redes sociais digitais. Há vias legais como o Ministério Público, a Ouvidoria da UFF e o próprio  gabinete do diretor do campus para relatar qualquer irregularidade. Diante de denúncias, o que fazemos é apurar. Não há clima de hostilidade no campus. Todos são convidados a participarem do espaço democrático”,

Campus da UFF em manifestação contra cortes de verbas Foto: Carlos Grevi/Arquivo)

De acordo com Roberto Rosendo, em outubro de 2018, ele tomou a iniciativa de defender integrantes do UFF Livre, durante as eleições gerais, e abriu sindicância na ocasião para apurar supostas perseguições aos estudantes que se diziam de direita. “Eu fui o primeiro a defendê-los, pois questões ideológicas são comuns na universidade, sobretudo em cursos como Ciências Sociais. A sindicância faz parte do regimento e é importante para verificar qualquer irregularidade”, declarou.

Os universitários Letícia Mattos e Eraldo Duarte, membros do movimento UFF Livre, disseram ser alvos de sindicância da direção da universidade desde julho, e que não sabem exatamente do que são acusados. “Disseram que nossas postagens atacam a honra e as qualidades da instituição e dos professores. Denunciei no Ministério Público salas pichadas, publicações de servidores defendendo pichações; festas que excedem o horário de funcionamento do campus, inclusive com venda de bebidas alcoólicas. Isto foi em março”, disse Letícia, estudante do sexto período de Ciências Sociais.

Integrantes do UFF Livre se declaram conservadores e perseguidos (Foto:Rede Social)

Nas redes sociais, o movimento “UFF Livre Campos dos Goytacazes” conta com quase 5 mil seguidores no Facebook, quase 2 mil no Youtube, e mais de 12 mil no Twitter. De acordo com Eraldo Duarte, outro aluno de Ciências Sociais, por se declararem conservadores e eleitores de Jair Bolsonaro, eles sofrem perseguição e ameaças. “Já li em banheiros frases como “morte UFF Livre”, além de comentários em postagens dizendo que vão nos agredir fisicamente”, afirmou. Duarte disse que não registrou boletim de ocorrência na delegacia sobre as ameaças, pois acreditava que a hostilidade não prosseguiria.

Os estudantes e alguns servidores que integram o “UFF Livre Campos dos Goytacazes” disseram que foram isolados na UFF por defenderem, por exemplo, ações como a privatização das universidades públicas. “Nenhum professor quer nos orientar para o trabalho de conclusão de curso”, afirmou Letícia Mattos. Ainda não há prazo para a conclusão da sindicância formada por uma comissão do campus campista da Universidade Federal Fluminense.

A reportagem procurou pelo deputado federal Carlos Jordy por email, para saber que providências ele tomará a partir das denúncias que relatou em vídeo, mas ele ainda não se manifestou. O ministro da Educação, Abraham Weintraub, também foi procurado. A assessoria do ministro entrou em contato com o Jornal Terceira Via, e disse que está consultando o departamento jurídico do MEC para se posicionar o mais breve possível sobre medidas que adotará para apurar as denúncias feitas ao campus da UFF, em Campos, e ao diretor da instituição.

Vídeo compartilhado em redes sociais