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Patrimônio público há quatro anos de portas fechadas

Em Pedra Lisa, localidade de Campos, prédio que sediou hotel e clínica para dependentes químicos está fechado e preocupa

Campos
Por Ocinei Trindade
26 de agosto de 2019 - 0h01

Prédios dentro de uma área de mais de 300 mil metros estão abandonados (Fotos: Silvana Rust)

A cerca de 60 quilômetros do Centro de Campos fica a localidade de Pedra Lisa, entre os distritos de Morro do Coco e Santo Eduardo. O lugar é cercado por muitas belezas naturais. Por  vários anos, abrigou um hotel-fazenda que, em 2012, foi desapropriado pela Prefeitura, na gestão de Rosinha Garotinho, e transformado em clínica de recuperação para dependentes químicos. A instituição funcionou por três anos. Em 2015, devido à crise econômica, fechou as portas. Desde então, a área de sete alqueires está abandonada pelo poder público. A estrutura está tomada por cupins e mosquitos, sem vigilância, e totalmente inutilizada.

Quartos e chalés que antes ocupados por hóspedes e pacientes tomados por mato

Os moradores que vivem na localidade de Pedra Lisa contaram que há mais de um mês não se vê ninguém da prefeitura nas dependências da clínica desativada. “Uma ou duas vezes por semana algum guarda municipal ficava ali, mas há cerca de um mês ninguém aparece”, contou José Balbino, de 58 anos. Ele tem dois irmãos que trabalharam no hotel e na clínica extintos. “Meu irmão Paulo prestou serviço à clínica que era bancada com dinheiro da prefeitura. A clínica fechou e deixou todo mundo sem receber salários e indenizações trabalhistas”, afirma.

Ala feminina com obra orçada em R$419 mil que não chegou a ser concluída

Pedra Lisa sofre com o desemprego. Antes do fechamento do hotel-fazenda e da clínica para dependentes químicos, funcionou no local uma usina de laticínios inaugurada em 1949. Uma fábrica de café e outra de açúcar também fecharam as portas antes do hotel e da clínica. No local, mais de 30 pessoas da comunidade conseguiram alguma ocupação na prestação de serviços. O casal Raíza e Guilherme Lima trabalhou com carteira assinada para a Comunidade S-8, empresa terceirizada e contratada pela prefeitura à época para tratar de dependentes de álcool e drogas.

Guilherme Lima ficou sem receber salários e indenização trabalhista

“Foram mais de dois anos de trabalho. No início era bom. A gente recebia direito os salários. Depois, passamos a ter muitos atrasos. Teve momento de ficarmos quatro meses sem receber. Aí, a gente recebia um salário atrasado e os outros ficavam para trás. No final, alegaram que a prefeitura não pagava a empresa, e assim ficamos todos. Fizemos a rescisão trabalhista, demos baixa na carteira, mas nunca recebemos a indenização. Na época, tinha uns R$10 mil de salários e indenização. Não temos esperanças de ver esse dinheiro”, explica Guilherme.

José Balbino relata abandono

A reportagem procurou por Helen Fontes que dirigia a clínica em Pedra Lisa,  e que integrava a  Comunidade S-8, em São Gonçalo, região metropolitana, para saber sobre a dívida trabalhista. A entidade mantém páginas na Internet e no Facebook com telefones de contato, mas que não atendem. Mensagens eletrônicas não foram respondidas. Em contato com clínicas de dependentes químicos daquela cidade, foi informado que a Comunidade S-8 deixou de funcionar há mais de um ano.

O chefe de cozinha Eliel Firmino nasceu e sempre morou em Pedra Lisa. Ele trabalha em plataforma de petróleo e é uma das poucas pessoas empregadas na localidade. Segundo ele, um fazendeiro da região se interessou em adquirir o imóvel que está abandonado. “Procuramos por duas vezes o prefeito Rafael Diniz, mas não fomos atendidos. A intenção é comprar o imóvel e remontar um hotel no local ou algum projeto de educação”, disse.

Eliel se queixa da decadência e diz que empresário se interessou pela propriedade

Em nota, a Prefeitura de Campos restringiu-se a informar que o imóvel foi desapropriado em 2011 e a clínica foi desativada ainda na gestão passada. “Atualmente, a administração municipal estuda novos projetos para serem instalados no local, mas, no momento, não é possível em virtude do contingenciamento de recursos, estabelecido através de decreto publicado no dia 12 de julho devido à brusca queda de arrecadação petrolífera”, informou.

Consultórios da clínica desativada foram tomados por infiltração e cupins

 

O cupim se alastrou por paredes, portas e janelas do prédio principal e dos chalés. A antiga piscina está com água sem tratamento e é apontada como foco de proliferação de mosquitos. Uma placa com informações de uma obra de R$419 mil para a construção de uma ala feminina ainda está no local. A obra foi abandonada antes de a clínica fechar. Moradores contam que a situação de abandono poderia estar pior se os moradores não ajudassem a vigiar as instalações que, de vez em quando, são invadidas por estranhos que passam pelo local sem segurança.

Piscina usada para atividades dos pacientes da clínica: foco de mosquitos e doenças

A desapropriação do Hotel-Fazenda Pedra Lisa foi publica no Diário Oficial em 25 de março de 2011. No decreto assinado pela então prefeita Rosinha Garotinho é informado o motivo de utilidade pública do local para abrigar uma clínica de recuperação para dependentes químicos. No texto, ficou decidido que o imóvel seria pago com recursos dos royalties do petróleo.

Sem vigilância da Guarda Municipal, a enorme propriedade está vulnerável a invasões

A reportagem procurou levantar junto à Superintendência de Comunicação o valor pago pelo imóvel, mas não foi encontrado nenhum documento abordando a transação. No Diário Oficial de 26 de julho de 2012, há uma menção sobre aquisição de imóveis no valor de R$6.564.233,58, mas sem especificar a compra feita pelo governo da época.

A Clínica de Reabilitação Geremias de Mattos Fontes foi inaugurada em 4 de julho de 2012. Funcionou por quase três anos e atendeu a mais de 800 pessoas que tentaram se livrar da dependência do álcool e das drogas.