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Dr. Ronaldo Cavalieri: vocacionado a cuidar de vidas

Médico que ajudou a implantar serviço inovador de radioterapia no Norte do Estado fala sobre tratamento e cura

Entrevista
Por Redação
19 de agosto de 2019 - 0h01

(Fotos: Silvana Rust)

Formado em medicina pela Universidade Gama Filho, em 2003, Dr. Ronaldo Cavalieri fez residência médica em radioterapia no Instituto Nacional do Câncer (Inca), entre 2004 e 2007. Passou um ano na Carolina do Norte, nos Estados Unidos, frequentando um serviço de radioterapia. Aos 41 anos, Dr. Ronaldo atua no serviço de radioterapia do Grupo IMNE, que ele mesmo ajudou a implantar há sete anos, quando foi convidado pelo diretor clínico do grupo, Dr. Diogo Neves. O médico – que nunca se viu em outra profissão – seguiu os passos do pai, de 84 anos, em plena atividade há 58 anos. “Ainda novo, comecei a frequentar os hospitais e residências de pacientes, aprendendo muito com meu pai e observando seu respeito e dedicação por essa profissão”.

Nesta entrevista, Dr. Ronaldo revela um pouco do seu dia-a-dia no grupo IMNE, fala da hospitalidade do campista, do tratamento de câncer aliado à tecnologia e do futuro. “Minha meta é fazer com que o OncoBeda continue sendo um centro de referência em oncologia na região, envolvendo o melhor cuidado para as pessoas, com os melhores profissionais. Com isso, poderemos continuar ajudando aos pacientes que nos procuram nesse momento tão difícil e essa é a razão de tudo. Para isso, estamos indo além da assistência, do tratamento, criando nosso Instituto, núcleos de especialidades para discussões semanais, como o Núcleo de tórax, promovendo simpósios, encontros científicos, estágios para alunos de enfermagem e medicina.Essa são as metas que perseguimos diariamente e não vamos parar”, comemora.
Mas ele não é só trabalho, fora do hospital gosta de ir a praia, viajar, praticar esporte e passar tempo com a família.

Confira a entrevista

1. O OncoBeda está em processo de acreditação, que comprova a qualidade nos atendimentos e no serviço que é prestado à população. O que isso representa para você?

A busca por essa certificação confirma o foco principal do OncoBeda, que é oferecer qualidade e segurança na assistência dos nossos pacientes. A trajetória para a acreditação é complexa, envolve toda a equipe na discussão e aplicação de protocolos clínicos que já nos direcionam, na padronização dos procedimentos, o que representa um cuidado de excelência às pessoas e redução de riscos em todos os processos.

2. O Sr. se sente realizado nessa profissão? Fale um pouco sobre ela e também como a medicina chegou na sua vida…

Completamente. Se eu não fosse médico, eu seria médico. Não imagino uma segunda opção. Eu não lembro da minha vida sem ter sempre tido um contato com a medicina. Meu pai tem 84 anos e é médico há 58. Ainda novo, comecei a frequentar os hospitais e residências de pacientes, aprendendo muito com ele e observando seu respeito e dedicação por essa profissão.

3. Como se deu sua vinda para o grupo IMNE?

Fiz residência médica em Radioterapia no INCa, no mesmo período em que o Dr. Diogo Neves, diretor clínico do grupo IMNE, fazia sua residência em Oncologia Clínica. Fiquei um ano em um hospital de oncologia nos EUA e há 8 anos fui convidado por ele para implantar o primeiro serviço de radioterapia com acelerador linear e braquiterapia de alta taxa de dose do norte do estado.

4. Uma pesquisa divulgada recentemente no Fórum Big Data em Oncologia revelou aumento no caso de câncer em pessoas entre 20 e 49 anos. A entidade que organizou a pesquisa utilizou dados do Datasus e Inca. Isso te preocupa ou te assusta de alguma forma?

Certamente são dados preocupantes. Essa pesquisa mostra aumento da incidência nesta faixa etária, de alguns tipos de neoplasias relacionadas à fatores comportamentais, ao estilo de vida. O tabagismo, etilismo, dietas inadequadas e obesidade podem estar influenciando no aumento dos casos. O jovem deve pensar em seu envelhecimento antecipadamente, pois o câncer, na ideia da maioria das pessoas, está associado somente ao idoso, e atualmente vemos que não é bem assim.

5. Diante da pesquisa, o Datasus defendeu a ideia de acompanhar o desfecho desses casos aprimorando o sistema de saúde com informações detalhadas sobre os hábitos desses pacientes. Qual a importância disso na sua opinião?

É fundamental os serviços de oncologia acompanharem e documentarem os seus resultados. Isso gera dados de mundo real, estatísticas e ações direcionadas de acordo com os resultados obtidos nos nossos pacientes e também em populações e realidades muito diferentes das nossas. Especificamente em relação às pessoas mais jovens, o detalhamento sobre seus hábitos promove um trabalho específico de conscientização sobre sua saúde e sobre a necessidade de fazer os exames de rastreio indicados. Muitas vezes o jovem não faz os exames indicados, pois acham que só devem se preocupar quando mais velhos.

6. A medicina não para de avançar e o grupo IMNE está sempre atualizado para prestar um serviço eficaz e eficiente à população. A radioterapia é um desses serviços. Como ela é feita hoje e como era no passado?

Radioterapia é a especialidade médica que utiliza radiação ionizante no tratamento oncológico. Aproximadamente 70% dos pacientes com câncer em algum momento farão radioterapia. Ao longo dos últimos anos, com o desenvolvimento da informática e dos aparelhos de radioterapia, houve praticamente uma revolução na especialidade. O tratamento vem ficando cada vez mais preciso. Novas técnicas como radioterapia com intensidade modulada (IMRT) e radiocirurgia foram introduzidas. Com isso, vem sendo possível aumentar a dose de radiação no tumor, diminuindo sensivelmente a dose nos órgãos sadios, o que, em última análise, aumenta a chance de cura, com menos efeitos colaterais.

7- Ainda nesse viés do avanço médico tecnológico, na sua opinião, falta muito para a cura do câncer ser dada como descoberta?

Atualmente vivemos um momento interessante na oncologia. No campo da oncologia clínica, drogas de alvo molecular, imunoterápicos estão tornando o tratamento cada vez mais individualizado, mais eficiente e com menos toxicidade em relação à quimioterapia convencional. O câncer de pulmão, representa muito bem isso. As chances de cura e controle da doença estão se transformando.

Especialidades cirúrgicas utilizam técnicas minimamente invasivas, diminuindo a morbidade dos procedimentos. A Radioterapia, como disse, evolui para tratamentos de última geração. Essas ferramentas administradas por uma equipe competente, fazem com que cada vez mais pessoas fiquem curadas.

8- Muitos resultados são conquistados na radioterapia e em outros tratamentos. Estudos mostram que o índice de mortalidade entre pacientes com câncer vem diminuindo. Essa notícia pode ser considerada, de certa forma, como um tipo de cura do câncer?

Com as terapias sistêmicas mais direcionadas, cada vez mais personalizadas de acordo com análises moleculares, além da evolução dos tratamentos locais, as chances de cura vêm aumentando de maneira significativa.

No entanto, alguns aspectos importantes dizem respeito aos programas de rastreio e prevenção do câncer e devem ser muito enfatizados. As pessoas devem ser orientadas a realizar exames periódicos indicados para aquele momento. O diagnóstico precoce é crucial nas chances de cura do câncer.

9. O Brasil está atrás de muitos países ainda no combate ao câncer? Quais os entraves que impedem um avanço ainda maior nesse combate? Seria incentivo político?

O Brasil tem grandes centros formadores de profissionais para tratar o câncer. No entanto, em relação à saúde pública temos muitos desafios. Em algumas regiões do país, os pacientes enfrentam grande dificuldade de acesso ao diagnóstico, como a realização de biópsias e ao tratamento. Usando a radioterapia como exemplo, existe um déficit importante no parque de máquinas. Estima-se que hoje seria necessário ter um aumento de 45% no número de aparelhos. Pacientes em alguns casos têm que fazer grandes deslocamentos para o tratamento diário, e em outros, têm seus resultados comprometidos por não terem acesso a esse tratamento. Outro grande desafio é a incorporação de novas drogas e terapias pelo SUS, para que todas as pessoas possam ter acesso ao que é mais indicado para cada caso.

10- O que o Sr. pensa sobre a relação entre fé e resposta do tratamento?

Acredito que a fé durante o tratamento, que muitas vezes é longo, bem como no processo de cura, no controle da doença, no tratamento conduzido por uma equipe bem formada, seja importante, ajudando a manter o equilíbrio emocional durante esse período delicado e aumentando a aderência.

11- Fale um pouco sobre a importância de um paciente ser tratado contra o câncer no seu próprio município? Isso gera resposta significativa?

O paciente com câncer enfrenta em muitos casos, tratamentos pesados, com efeitos colaterais intensos. Quando tratado em seu município, ele evita grandes deslocamentos sob condições difíceis e, em alguns casos, desconfortáveis do ponto de vista clínico. É muito importante que os pacientes estejam vinculados à centros que integrem todas especialidades oncológicas em um só lugar.

12- O Sr.  nasceu e sempre morou no Rio de Janeiro, mas se sente acolhido aqui?

Cheguei a Campos e no OncoBeda há 7 anos e meio, para montar o primeiro serviço de radioterapia com alta tecnologia do norte do estado do Rio. Me chamou logo a atenção, a maneira com que fui acolhido de imediato pela cidade, pelas pessoas que trabalham conosco e os pacientes que tive e tenho contato. Ao longo desse período, procuramos sempre retribuir à cidade, com a consolidação de uma instituição que oferece um tratamento com o que há de melhor, administrado por equipamentos modernos e por uma equipe séria e formada nos melhores centros do país. Implementamos o primeiro e único serviço de braquiterapia da região, evitando que pacientes com câncer ginecológico tenham que ir até o Rio para receber esse tratamento, como acontecia até 2015. Criamos ainda o Instituto do Câncer do Norte Fluminense, com o objetivo de promover o ensino em oncologia, a pesquisa, e ações que resultem em benefícios para os pacientes. Acredito que essa é a melhor maneira de contribuir para essa cidade que me recebeu tão bem.