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Brasil segue dividido

Bolsonaro governa para seu grupo, Rodrigo Maia diz que presidente atrapalha e Lula consegue vitória

Artigo
Por Guilherme Belido
11 de agosto de 2019 - 0h01

Pronunciamento do Presidente da República. Foto: Marcos Corrêa/PR

País não se livra das âncoras que o prendem ao fundo

O 2018 não acaba e embate eleitoral parece não ter fim

Ambiente hostil vai da ideologia à prática política

Indo direto ao ponto, não há como negar que o Brasil parece um enorme caldeirão de conflitos, cuja fervura vem sendo alimentada, mês após mês, por lenha nova.

Pior ainda, não só o fogo cresce, como mais e mais ingredientes engrossam o caldo da discórdia. Se fosse panela de pressão, o risco de explosão seria grande. Como não tem tampa, o País vai se acostumando a um estado permanente de desarmonia – o que não é nada bom. Em outras palavras, se não explode, também não encontra o caminho da normalidade.

Em termos práticos, a jornada do Brasil se dá ora por vielas escuras, ora por atalhos, sendo óbvio que ambas as ‘opções’ não garantem chegar a lugar algum. Há muito o País não transita por estrada iluminada, bem sinalizada e segura. Ao contrário, não existe clareza sobre onde está ou para onde vai.

Salta evidente, não consegue livrar-se das disputas ideológica, política, eleitoral e jurídica.
É fato, desde 2014 instalou-se um estado permanente de embates, sendo que as eleições do ano passado, que deveriam ‘soltar’ o País, não cumpriram essa função.

No pleito de 2018, a escolha do novo mandatário pelo voto direto – em tese deixando para trás a questionada e tão fortemente combatida legitimidade do ex-presidente Michel Temer – deveria pôr fim ao ambiente hostil.

Ninguém acreditou – por óbvio – que num piscar de olhos todos iriam dar as mãos e que o Brasil seria o ‘país das maravilhas’. Mas pensou-se, sim, que a vontade popular expressamente manifestada nas urnas traria uma certa pacificação, abrindo um cenário em que a velha âncora que prendia o Brasil ao fundo desse lugar à mola que leva ao alto.

Bem ao contrário, o Brasil segue dividido. A velha âncora, enferrujada e carcomida, segura o País no atraso, na discussão estéril e na ignorância.

Por ora, a única luz vista ao fim do túnel é a reforma da Previdência, que a despeito dos sacrifícios impostos, sinaliza como primeira barreira vencida contra a estagnação econômica.

Dessa forma, a despeito do contraste, resta torcer para que o Brasil volte a crescer independente da confusão política.

Do palanque ao Planalto, mesmo discurso
O presidente Jair Bolsonaro está no oitavo mês de governo e ainda não desceu do palanque. Ao contrário, com suas falas polêmicas e comentários desastrosos, retorna repetidas vezes ao ponto de partida para entricheirar-se no recrudescimento.

Como proteção, espécie de zona de conforto, volta-se cada vez com maior intensidade para seu grupo mais fechado, aquele que o apoia de forma irrestrita, esquecendo-se, na mesma medida, daqueles que deveria cativar para reduzir a resistência.

O capitão reformado parece não ter assimilado que na condição de presidente da República precisa governar para todos. A oposição, por seu turno, aproveita-se disso.

Na quinta-feira (08), o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, chegou a dizer que “Bolsonaro é o produto dos nossos erros”, acrescentando que o radicalismo das falas do presidente atrapalha a tramitação de projetos no Congresso. Uma observação forte, dura, que vai minando a governabilidade do Planalto.

Polêmica – Numa série de comentários infelizes, Bolsonaro cultiva discórdia para colher sabe-se lá o quê. Ao melhor estilo Trump, referiu-se a governadores nordestinos como “de paraíba”, disse que falar em fome no Brasil é uma grande mentira e contestou a devastação na Amazônia.

Disse, também, que a jornalista Mirian Leitão “conta um drama todo mentiroso de que teria sido torturada, etc. Mentira! Mentira”. Além do comentário absolutamente desnecessário, acirra sua relação com a Globo (jornal, Tv Globo, GloboNews e sites), o que não lhe traz qualquer benefício.

Isso, sem mencionar as polêmicas na questão ambiental, o caso envolvendo o pai do presidente da OAB, Fernando Santa Cruz, militante que desapareceu durante o regime militar, a insistência em negar ditadura e tortura no Brasil, a questão ambiental, o anúncio de indicar seu filho embaixador em Washington e por aí segue…

O jornalista Zuenir Ventura escreveu o livro ‘1968 – O Ano que Não Terminou’. Mais adiante, é possível que outro jornalista tenha que escrever sobre a sucessão presidencial do ano passado, talvez com o sugestivo título de ‘2019 – A Eleição que Não Acabou’

Lula obtém vitória no STF
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva completou 16 meses preso e obteve na quarta-feira (07) importante vitória no Supremo. Por 10 a 1 a Corte acolheu recurso da defesa e suspendeu decisão da juíza Carolina Lebbos, da 12ª Vara Federal de Curitiba, que havia autorizado a transferência do petista para o presídio Tremembé, em São Paulo.

Para além da questão jurídica, o tema ganhou significativa conotação política, com boa parte da Câmara – inclusive deputados do PSDB e do Centrão – considerando a transferência de Lula uma “perseguição”.

O próprio presidente Rodrigo Maia referiu-se à decisão como extemporânea e colocou-se à disposição do PT. “Aquilo que a presidência da Câmara puder acompanhar com a bancada do PT, estamos à disposição para que o direito do ex-presidente seja garantido”, disse.

Certamente que a mobilização (que contou, até mesmo, com a ida 70 deputados recebidos em audiência pelo presidente da Corte, Dias Toffoli) pesou de forma considerável na decisão dos ministros do STF.

Lula aguarda, ainda, outra boa notícia para o próximo mês. A partir de 23 de setembro ele poderá pleitear a progressão de regime para o semiaberto, quando terá cumprido um sexto da pena. Por se tratar de ex-presidente, é certo que a defesa irá pedir que o semiaberto seja convertido em prisão domiciliar.

Ressalve-se, contudo, que por responder a outros processos, caso venha a sofrer novas condenações, o ex-presidente poderá ter que retornar à prisão. Mas, à luz do que hoje se apresenta, os ventos favorecem o petista.