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Recolocação no mercado de trabalho

Em tempos de recessão, conseguir novo emprego requer preparo dos candidatos e, às vezes, até disposição para mudar de área de atuação

Campos
Por Thiago Gomes
28 de julho de 2019 - 0h01

A matemática é simples: se o desemprego cresce, a concorrência aumenta e, com ela, a dificuldade de conseguir uma recolocação no mercado de trabalho. Segundo dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tem cerca de 13 milhões de desempregados. Em Campos dos Goytacazes, a estimativa é de que 40 mil pessoas — que representam entre 13% e 14% da população economicamente ativa — estejam em busca de emprego. Então, em tempos de recessão, quando empresas costumam enxugar ao máximo seus quadros, especialistas apontam que os candidatos a uma vaga precisam ter ainda mais disposição para manterem-se atualizados e, às vezes, até ânimo para mudar radicalmente de ramo ou empreender.

Foi o que fez Lys Miranda, de 26 anos, que, de jornalista, virou confeiteira profissional. Lys conta que começou a vender doces para complementar a renda familiar, ainda quando atuava na redação de uma emissora de TV. Em 2014 veio a demissão e o que era bico virou sua única fonte de renda. Mas ela não se acomodou e buscou um curso de qualificação e se formou em confeitaria pelo Senai e Senac. Hoje Lys tem uma bicicleta adaptada para vender seus produtos. “No princípio, comecei a conciliar a venda dos doces e o trabalho de jornalista. Pouco tempo depois eu fui demitida e então foi o start para os doces. Nesse meio tempo eu criei a minha marca, minha Food Bike, e comecei a trabalhar com encomendas para festas”.

Sobre a nova vida, Lys analisa que existe um lado bom e um ruim. “O positivo é a minha flexibilidade de horários, de planejamento com a vida, onde posso viver melhor, estar com a minha família mais tempo. E o lado negativo é a questão financeira do planejamento. Não é toda semana que tenho encomenda, não é todo dia que vendo bem, então eu não tenho a estabilidade de um salário fixo no fim do mês. Mas estou trabalhando para o crescimento e ter esse salário”, disse.

De acordo com a coordenadora do Centro de Práticas Empresariais (Cenpre) e do Núcleo de Recursos Humanos da Universidade Candido Mendes, a psicóloga Adriana D’Avila, uma saída para driblar a crise pode estar na mudança de ramo ou no empreendedorismo.

“Os momentos de transição podem gerar a descoberta de novas capacidades e talentos, direcionando as pessoas para áreas antes não consideradas para atuação profissional. A disponibilidade no mercado, após a saída de um emprego, se configura também como o início de um novo ciclo. Este momento pode levar a novas formas de geração de renda. Conforme tendências do mercado, um hobby, por exemplo, pode se tornar um ‘trabalho’”, aconselhou a especialista em Recursos Humanos.

Ninguém disse que seria fácil
Perseverança e paciência também são características importantes, já que o caminho entre o brasileiro e um novo emprego está mais longo. De acordo com uma pesquisa feita pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), em 2017, a espera por uma nova vaga era de 14 meses, dois meses a mais que em 2016, quando o prazo médio de recolocação era de um ano. Em 2015, a mesma pesquisa apontava que o tempo médio era de oito meses.

Há cinco anos Guilherme Prudêncio, de 39 anos, busca o caminho de volta ao mercado de trabalho. Ele tem formação de tecnólogo em petróleo e gás e chegou a investir em curso técnico de automação industrial, para tentar uma vaga no Porto do Açu. O último emprego fixo com registro em carteira foi na administração pública municipal, há cinco anos. Há dois, conseguiu um contrato temporário para cobrir as férias de um funcionário de uma distribuidora de bebidas, mas não chegou a ser efetivado.

“Veio essa crise e desandou a economia do país todo. As portas se fecharam para todo mundo”, lamentou Guilherme, que começou a estudar para concurso público.

Sem espaço no mercado formal, Guilherme foi empurrado para a informalidade. Para driblar o desemprego, ele já desempenhou várias funções, como revendedor de medicamentos e até promoveu eventos. “Mas eu almejo muito um trabalho na minha área de formação, no Porto do Açu”, reiterou.

Empresas com quadros enxutos
Na avaliação da psicóloga Adriana D’Avila, uma combinação de fatores tem dificultado o reingresso no mercado de trabalho. Ela observa que, em tempos de crise, empresas tendem a funcionar com quadros enxutos.

“Com o cenário de retração do mercado impactado pela crise econômica, política e social do país, muitas empresas estão rodando com quadros enxutos. A elevada competitividade e a intensificação da concorrência também dificultam o reingresso. Esses dois últimos fatores, inclusive, geram a necessidade dos profissionais estarem muito antenados com
as novidades implementadas em suas áreas, de forma que a falta de preparo e a ‘acomodação’ atrapalham bastante. E até mesmo um certo desânimo por parte dos profissionais diante de tantas incertezas pode atrapalhá-los”, destacou Adriana.

Erros comuns podem afastar candidatos do novo emprego, como perder o foco, não saber o que quer, candidatar-se para várias oportunidades diferentes sem estar preparado para esta diversidade; fazer do currículo um panfleto sem os devidos direcionamentos. Tais falhas foram apontadas pela psicóloga Adriana D’Avila.

A diretora do Cenpre vai além: “Falta de energia e falta de postura comportamental nos processos de candidatura e no relacionamento com empresas ou potenciais clientes, como por exemplo: a maneira inadequada de se comunicar por e-mail no envio de um currículo ou uma proposta de serviços, a falta de polidez e educação no trato com as pessoas, a falta de segurança expressa pela linguagem corporal. Além de não cuidar da gestão financeira que ainda pode desencadear situações de estresse e adoecimento, piorando a situação”.

Desemprego em Campos
A estimativa é de que 40 mil pessoas estejam desempregadas em Campos. O economista Ranulfo Vidigal explica que é possível chegar a este número com base em dados oficiais do IBGE e do Ministério do Trabalho, entre outros órgãos.

Ranulfo analisa que a população economicamente ativa do município gira em torno de 300 mil pessoas, segundo o IBGE. Destas, cerca de 85 mil têm contratação formal pela iniciativa privada. Aproximadamente 35 mil pessoas estão no serviço público, sejam nas esferas municipal, estadual ou federal.

“Então, cerca de 60% da população economicamente ativa, o que representa uma parcela expressiva, está na informalidade. O que nos leva a estimar que aproximadamente 40 mil pessoas no município estão desempregadas”, observou o IBGE.

Desemprego no Brasil
De acordo com o IBGE, no trimestre encerrado em maio, o desemprego no Brasil foi de 12,3%, em média. O índice ficou estável em relação ao trimestre anterior, de dezembro de 2018 a fevereiro de 2019 (12,4%), mas caiu se comparado com o mesmo trimestre do ano passado (12,7%). Ainda segundo o IBGE, o desemprego no país atinge 13 milhões de pessoas.

Como vencer o desemprego?
Mesmo em retração, o mercado, segundo Adriana D’Avila, apresenta alta rotatividade e os ciclos profissionais estão mais curtos, ou seja, as entradas e saídas estão ocorrendo de formas mais constantes. “Há oportunidades, então, de acreditar de verdade que as coisas podem dar certo e manter a energia de realização, são aspectos que até mesmo nos processos seletivos podem ser observados e valorizados”. Outra dica da especialista em Recursos Humanos é manter-se atualizado. “Realizar cursos complementares, cursos de idiomas, fazer contatos, construir relacionamentos e se fazer lembrado. Utilizar a tecnologia e cuidar de sua imagem nas redes sociais a seu favor. Não se permitir acomodar-se. Isso tornará o candidato mais preparado para o aproveitamento de uma oportunidade”, aconselhou Adriana.

Aos candidatos que estão em vias de desistir, Adriana tem um último conselho: “Tenha uma mentalidade positiva e não desista, busque aprender coisas novas e se manter antenado com os avanços de sua área de interesse. Faça cursos, não se acomode, trabalhe a inteligência emocional para manter sua energia, faça contatos e utilize as redes sociais a seu favor – o LinkedIn é uma excelente fonte de relacionamentos profissionais. Livre-se das desculpas. Procure ser a melhor versão de si mesmo e se entusiasme”.