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Entrevista com Wheber Boroto: policiamento e gestão na 101

Conquistas com redução de acidentes e desafios por duplicação mesclam a rotina da chefia da PRF

Entrevista
Por Redação
15 de julho de 2019 - 0h01

(Foto: Divulgação)

Desde 2005 na Polícia Rodoviária Federal, Wheber Boroto deixou de ser só agente em atuação na pista para comandar a 8ª Delegacia da PRF na cidade, função que exerce desde 2017. A gestão dele resultou em inúmeras conquistas para quem circula pela rodovia , como a entrega da pista duplicada em vários trechos, mas a principal vitória é a redução drástica no número de acidentes graves. Em 2011, ápice da violência na estrada, 148 pessoas morreram; Em 2018 foram 60. Mas ainda há muito a ser feito. Boroto quer comemorar a duplicação da BR no Parque Rodoviário, entre os quilômetros 65 e 67, mas as obras só devem começar em 2020.

“Esse é o meu principal desafio, viver ansioso por ver essa realidade e comemorar o fim dos engarrafamentos. Ainda na semana passada pedi urgência ao gerente da concessionária que administra a rodovia”.

Na função de chefe da PRF, ele diz que consegue olhar por cima da atividade policial e tratar com prefeitura e outros órgãos medidas administrativas que resultam no bom uso da rodovia.

Natural de São Mateus, no Espírito Santo, Boroto vive em Campos desde 2001. Antes de ser policial rodoviário federal, ele era policial civil. Foi aqui que ele casou e teve um filho. Nesta entrevista, ele fala da violência, acidentes e seu trabalho na delegacia.

Uma das obras mais esperadas em Campos é o contorno da Rodovia BR-101, que vai contribuir para desafogar o trânsito no trecho urbano, em especial no Parque Rodoviário. Em que fase está esse processo? O Sr. avalia que essa mudança será 100% positiva para nossa cidade? Por quê?

Infelizmente não sei dizer em que fase está esse projeto, falta diálogo e transparência nesse processo que é do interesse de todos, não somente da população local, mas de todos que necessitam passar por Campos para outros Estados. A obra do contorno de Campos é sim 100% positiva para a nossa cidade uma vez que trará muito mais segurança para o trânsito diminuindo a quantidade de acidentes e, por consequência, a quantidade de vítimas desses acidentes. Temos diversos problemas coletivos, a exemplo da lotação dos hospitais com pacientes vítimas de politraumatismos e também do efeito financeiro com o custo do atendimento hospitalar e dos benefícios previdenciários – Auxílio-Doença, Aposentadoria por invalidez e Pensão por morte aos dependentes. Custo esse que toda sociedade suporta. Uma vítima de um acidente contribui para a repercussão financeira que terá que ser custeada por todos nós. Uma pessoa morta em acidente de trânsito, segundo o IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, tem uma repercussão de custo social em torno de 640 mil reais, com vítima de lesões graves, esse valor chega a 90 mil reais.

A PRF, em Campos, foi contra a inauguração de um shopping no Parque Rodoviário porque não havia infraestrutura suficiente para garantir segurança nos acessos. Anos se passaram e nenhuma melhoria foi feita no local. Como a PRF pensa hoje?

Primeiramente a inauguração de qualquer estabelecimento que atraia fluxo de veículos e pedestres necessita ter autorização pública e no caso do Shopping não foi diferente, poderia ser até um estudo de caso para que tal ato não se repita. Digo isso porque o projeto inicial contemplava apenas duas cancelas de entrada com acesso direto à Rodovia BR 101 o que traria um caos muito maior do que o que se verifica hoje. Com a mudança da entrada, houve uma atenuação no impacto, mas ainda presenciamos um engarrafamento constante na BR 101 em razão dos veículos que se acumulam para acessar o estabelecimento nas três cancelas laterais. Certo que o acesso é o mesmo do bairro Parque Leopoldina, mas verificamos o transtorno provocado. Hoje pensamos na assertividade da decisão tomada antevendo os problemas para o cidadão. Um cuidado e diligência que o município tem que ter antes de autorizar qualquer estabelecimento que atraia significativo fluxo de veículos e pedestres.

Embora não seja área da PRF de Campos, não podemos deixar de lembrar dos constantes assaltos a campistas no trecho Niterói-Manilha. Como o Sr. pode contribuir, seja em sugestão às autoridades ou em orientação aos usuários, para essa realidade mudar?

Esse é um problema vivenciado em várias vias da zona norte do Rio de Janeiro e passou a ser uma novidade péssima para a BR 101. A PRF e a PM têm se articulado para conter esses assaltos e sempre há ocorrência de prisões nessa região, porém, não se trata de um grupo pequeno e estão fortemente armados. O enfrentamento é constante e perigoso. Com o reforço do policiamento na região houve diminuição na incidência de crimes, mas a solução não é fácil. As medidas que a PRF pode tomar já estão sendo praticadas inclusive com o fechamento de alguns acessos para dificultar a entrada e saída de criminosos. Verificamos a falta de urbanização adequada na região com crescimento desordenado e desautorizado de residências e comércios nos bairros marginais, questão que a prefeitura da localidade deveria intervir além de outros fatores mais complexos como a crise financeira, a falta de um planejamento familiar, entre outros. Como orientação ao usuário, solicitamos a imediata comunicação à PRF pelo número 191 ou pelo Whatsapp da PRF 21- 967746530 de algum flagrante de ação criminosa presenciada pelo cidadão tomando o cuidado com a sua segurança pessoal.

Com características bem diferentes, mas em Campos também já houve registro de roubos semelhantes na BR-356, no trecho Campos/São João da Barra e também na Campos/Itaperuna, recentemente. Como a PRF tem atuado aqui?

Verificamos algumas ocorrências ultimamente e temos dado atenção especial na tentativa de flagrar a ação criminosa. Temos o apoio da PM atuando no trecho que, inclusive, prendeu suspeitos e da Polícia Civil na investigação desses crimes. Não é um fato que ocorre apenas na Rodovia mas em vários locais da cidade. A ação desses criminosos não se sustentam no tempo, quem parte para uma vida de crimes graves dessa natureza tem como resultado a prisão ou a própria morte. Outros pontos da BR 101 e 356 já foram foco de ações criminosas semelhantes e tiveram a resposta.

Os acidentes graves na BR-101 que eram quase diários antes da privatização não existem mais. A PRF tem números que comprovem essa realidade? Há o que comemorar?

Sim, há o que comemorar, a melhoria na segurança para o trânsito foram surpreendentes. As melhorias de sinalização, limpeza, correção de traçado e duplicação foram fatores de extrema importância para a garantia da vida das pessoas que fazem uso da rodovia. Os números são surpreendentes, somente nos 123,4 quilômetros da BR 101, que é o trecho em Campos, a quantidade de vítimas mortas ou removidas com lesões graves em 2011 foi de 148, mas em 2018 esse número caiu para 60, isso significa que 88 pessoas por ano permanecem vivas graças às intervenções que foram feitas. Um ganho imensurável para a humanidade. Não posso deixar de lado que é um trabalho conjunto, a PRF fazendo a atuação de punir o infrator e retirar de circulação de pessoas que expressem risco para o trânsito como embriagado e o inabilitado bem como a atuação da imprensa na promoção da conscientização para a educação no trânsito e no trabalho do Ministério Público que acompanhou e exigiu o cumprimento das normas estabelecidas no contrato de concessão. Houve a união de forças públicas para alcançar o melhor resultado paraa população.

Hoje, um dos maiores problemas, não só da BR, mas de toda Campos é a falta de um caminhão específico para recolher animais soltos. Esse fato é, realmente, muito grave?

Temos um caminhão cedido ao CCZ e outro em convênio com a prefeitura de São João da Barra, portanto, está havendo o recolhimento dos animais soltos nas rodovias. Esses animais são recolhidos e podem ser leiloados. Deixar o animal solto na rodovia é crime e pode o proprietário responder pelo crime do artigo 132 do Código Penal e pelo 32 da Lei de Contravenções Penais por abandonar animal e gerar perigo à vida das pessoas, além da responsabilidade cível pela indenização às vítimas de um acidente. Ao avistar um animal solto nas Rodovias Federais ligue para o telefone 191 e informe o local.

Sabemos que a BR-101 é rota do tráfico de drogas e a PRF tem atuado no sentido de combater essa ilegalidade. Fale um pouco sobre essa atuação…

Essa é uma luta constante, o tráfico utiliza-se da rodovia, aeroportos e portos para o comércio de drogas e armas. Há uma atuação conjunta das polícias para cessar a produção e o comércio das drogas e são ações que vão desde a abordagem de rotina aos veículos a uma investigação continuada. Não digo como atuamos porque é uma informação sensível e não deve ser divulgada para não frustrar esse trabalho. Ressalto sempre que somente existe tráfico porque ainda existe o consumidor, portanto, esse trabalho não é só das polícias mas das escolas e das famílias para sedimentar a educação formando pessoas de caráter firme que não se aventuram nesse caminho destrutivo e nem financiam esse sistema que gera inúmeros homicídios e viciados.

E sobre exploração sexual infantil nas rodovias? Isso ainda acontece em Campos? Há algum trabalho preventivo?

Sim, a PRF faz um trabalho contínuo de monitoramento das Rodovias no intuito de identificar alguma situação de exploração sexual. Todo ano é feito um trabalho de inteligência que avalia estabelecimentos comerciais nas margens das Rodovias mapeando pontos de vulnerabilidade, ou seja, locais que possuam maior probabilidade de ocorrência desse crime. Até hoje, nas atuações realizadas, ocorreram poucas prisões e sempre fora da rodovia. Em averiguações com motoristas que transitam por vários Estados do Brasil, levantamos que há ocorrências desta natureza no Nordeste. Em Campos, não flagramos nenhuma conduta destas nas Rodovias.

Há alguma expectativa para aumento do efetivo para os postos de Morro do Coco, Itaperuna e São João da Barra?

Temos uma infraestrutura de sistemas que proporcionam a confecção do Boletim de Acidentes e a Autuação no mesmo dia, tudo eletronicamente e on-line. Com a previsão que temos da chegada de efetivo já no ano que vem, esperamos ter uma atuação ainda mais presente nos postos.

Outro problema da BR-101 são as constantes manifestações populares que bloqueiam o trânsito por diversos motivos. Quais as consequências disso para a segurança da rodovia?

É um absurdo fazer um ato de violência como esse. Estão cometendo crimes de dano ao patrimônio público, ameaça, constrangimento ilegal e atentado contra a segurança dos transportes uma vez que bloqueiam a via por horas fazendo as pessoas perderem seus compromissos como cirurgias,passagens aéreas, audiências, empregos, etc. O prejuízo é incalculável. Certa vez um coração estava sendo levado no carro de um médico e não chegou ao hospital de macaé onde o paciente aguardava na mesa de cirurgia, isso poucos ficam sabendo. Alguns manifestantes dizem que é uma movimentação pacífica, mas não há nada de pacífico quando você bloqueia o direito de ir e vir das pessoas. Elas não ficam na fila olhando uma barreira de pneus em chamas porque querem, mas porque o direito delas foi violado pelos manifestantes. É trazer uma grave lesão a quem nada tem a ver com o pleito dos manifestantes. Um verdadeiro exemplo de conduta não civilizada.