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Entrevista: Guilherme Belido

Jornalista é uma das referências na imprensa de Campos, reconhecido pelo gabarito de seus textos

Entrevista
Por Redação
7 de julho de 2019 - 0h01

Por ALOYSIO BALBI

Em parte antecipando as comemorações dos três anos de lançamento do Terceira Via, Guilherme Belido estreia na próxima semana com uma página onde irá discorrer sobre os mais variados assuntos, englobando Campos, Brasil e mundo, com vasto repertório de temas.

Dele, praticamente nada há para ser acrescentado que não seja de todos sabido. Um jornalista completo, respeitado, com artigos publicados na grande imprensa, que conhece a atividade de ponta-cabeça, desde circulação, área comercial, setor gráfico, diagramação e, naturalmente, redação.

Filho do saudoso jornalista e escritor Vivaldo Belido de Almeida – que por mais de 40 anos esteve à frente do extinto jornal A Cidade e se notabilizou como um dos ícones da história da imprensa de Campos – Guilherme começou ainda adolescente, “totalmente contra a vontade do pai”, conforme conta, e se tornou, ele próprio, uma referência.

Muitos anos depois de A Cidade, onde foi diretor-adjunto, fundou o periódico Primeira Página, dele se afastando para assumir a direção-geral de O Diário. Apesar de há muito tempo se dedicar à atividade comercial, não conseguiu afastar-se da Comunicação. Fundou o site Opinião e, depois, o que hoje leva seu nome. Mais recentemente, escrevia como colaborador na Folha da Manhã.

De texto impecável, é conhecedor da história da imprensa em termos gerais, em especial da trajetória dos grandes jornais cariocas. Realizou centenas de entrevistas, incluindo presidentes, ministros, governadores, políticos e intelectuais de renome. Acredita que a mídia tradicional vá sobreviver à virtual (a qual  considera a ferramenta do presente e do futuro) e que ambas caminharão juntas cumprindo papéis semelhantes. Ressalva, contudo, que o momento é de transformação – “a engrenagem cíclica que naturalmente faz seus ajustes”.

Nascido e literalmente ‘criado’ no ramo é, com todas as letras e sobrenome, gente de jornal.

O que o leitor do Terceira Via pode esperar dessa nova atração que o jornal passa a oferecer?
Bem, o leitor vai encontrar uma página de visual atrativo, de diagramação leve, aberta, encaixada com o projeto gráfico do jornal. Em termos de página inteira, se você ‘entulhar’ o texto, ninguém lê. Sem subdivisões e títulos secundários, vira uma massaroca. A página tem que ser bonita, com espaços claros para o ‘respiro’, de modo que fique agradável aos olhos. Quando possível, fotos grandes. Os assuntos serão diversificados, de preferência remetendo a tema que for destaque naquele momento. Há de se observar, ainda, um conteúdo adequado tanto ao jornal físico como na versão Online, o que recomenda textos enxutos. Uma linha a mais que o necessário é uma linha cansativa para o leitor.

Apesar de você ter citado “assuntos diversificados”, existe sempre um foco maior sobre determinado tema. Aquele com o qual o jornalista mais se identifica, concorda?
Sim, sim, claro! Tem razão. Mas como estamos falando em uma matéria por semana, acredito que a diversificação seja o norte da página. Mas, de toda sorte, penso que a política seja o tema mais frequente.

Até pelo momento… pelo período conturbado que vive o Brasil, correto?
Sem dúvida. Desde a Operação Lava Jato, passando pelo medonho segundo mandato de Dilma – impeachment da petista, chegada de Temer, mais escândalos e denúncias, e eleição de Bolsonaro – o País vive um tsunami político. Tem sido um furacão a cada semana. relativamente abrandado, talvez, a partir deste ano. Assim, ao menos por enquanto, acho que a política vai seguir nos holofotes e, consequente, ‘forçando’ os textos que destrincham a notícia – a interpretam e analisam sobre diferentes ângulos – para que o leitor possa melhor se orientar.

São temas que você gosta de esgotar o assunto, com frequência fazendo um retrospecto, não é?
Exatamente. Até porque algumas questões são ‘engordadas’ e mudam a cada semana, e o leitor menos atento até se perde. Exemplo: na denúncia contra o então presidente Temer, envolvendo audio da JBS, mala de dinheiro, propina da Odebrechet, etc., foram tantos os episódios em tão curto espaço de tempo, que uma abordagem melhor explicativa exige que você recue no tempo para mostrar a relação de Joesley Batista com o presidente; a conversa fora da agenda presidencial ocorrida em garagem; o suposto interesse de Temer na manutenção do silêncio de Eduardo Cunha, que já estava preso; a mala de dinheiro como propina paga a Rocha Loures e como tudo isso virou uma denúncia apresentada por na época por Rodrigo Janot. Ou seja, tanta-se fazer um resumo, um o roteiro dos movimentos iniciais até chegar à denúncia, para que o leitor relembre e até mesmo tenha informação de algo que lhe fugira o conhecimento. E o mesmo se aplica a inúmeros exemplos similares, cujos eventos não foram pontuais, mas formados por uma série de desdobramentos.

Dentro desse leque de variações que você mencionou, poderia dizer, então, que seriam assuntos sem fronteiras?
“Sem fronteiras” seria muita pretensão. Mas, sem dúvida, não se prende ao que está em voga. Gosto muito da questão histórica, que exige cuidado para o texto não se tornar enfadonho, mas não me vem à cabeça nenhum tema que, por regra, fique de fora. Por exemplo: no próximo 1º de setembro (que por sinal cai num domingo) completa 80 anos desde que a II Grande Guerra foi deflagrada, quando a Alemanha de Hitler invadiu a Polônia. Logo, acho interessante o enfoque, particularmente quando vemos movimentos de recrudescimento surgirem em vários países. Além do lado histórico-didático, traz uma pontinha de alerta. De resto, além da política, cuidaremos de temas ligados à economia, cultura, saúde, lazer e esportes. Gente que fez história. As cronicas também terão lugar. Enfim, de tudo um pouco… Mas é o momento que dita a pauta.

Nota-se sua preocupação em estar presente na mídia virtual. Você teve um dos primeiros sites aqui da região e criou outro há pouco tempo. A página física seria o tema aprofundado do que os portais de notícias cuidam de forma mais superficial?
Olha, de certa forma, sim; mas de outra, não. Os sites profissionais, os portais de notícias ligados a grupos de comunicação – como é o caso do Terceira Via – dão à notícia uma dimensão razoável. Mas se você estender muito, sequer vai ser lido, porque hoje a maioria acessa pelo smartfone. Poucos são os que se dispõem a ler longas matérias na telinha do telefone, não é mesmo? Então, sob essa ótica, o jornal é que traz a informação mais completa – checada, confirmada com outras fontes e esmiuçada – o que não é o forte do Online. Mas, é a ferramenta
do século 21.

Quando você fala em ‘sites profissionais’, o objetivo é sublinhar a diferença e delimitar um contraponto em relação ao vale tudo das redes sociais, é isso?
No meu modesto entendimento, sim. A Internet revolucionou a forma de comunicação e representada um avanço espetacular no que tange ao tempo e espaço. É a informação em tempo real, integrada, que não conhece fronteiras. Por outro lado, em se tratando de redes sociais, ou anti-sociais, deu voz a um exército de desqualificados, gente odiosa e despreparada, que no anonimato de seus quartos escuros e perfis falsos, cometem as mais gigantescas baixarias. Claro, não são se pode generalizar – não são todos. São as faces do bem e do mal na mesma moeda da alta tecnologia: de um lado, um instrumento espetacular; de outro, uma lixeira.

A credibilidade da mídia tradicional, então, continua inabalada?
Ah sim, penso eu. O que é noticiado na imprensa e nos telejornais tem um peso maior. Salvo erros involuntários, toma-se como verdade. Já o que se divulga na Internet sofre os atropelos da pressa. A obsessão por dar a notícia na frente, como se alguém fosse morrer se a informação viesse meia hora depois, virou uma bagunça. Depois vem a série de atualizações corrigindo o que se publicou errado. Daí as pessoas terem reservas no que sai na Internet. Isso, sem falar no horror que são as fake news, com ninguém sabendo direito o que é verdadeiro ou falso.

Visto por esse ângulo, você não acredita que a Internet venha acabar com os jornais impressos?
Não acabou nos EUA, nem na Europa, por que acabaria no Brasil? Evidente que incomoda, mas os melhores sobrevivem. É uma questão complexa, mas me parece algo cíclico. Vejamos: o fenômeno da Internet chegou nos países europeus e nos EUA muito antes que no Brasil. Mas o The Times, o Financial Times e o The Guardian – citando apenas alguns londrinos – estão firmes. Tal como os italianos Corriere della Sera e La Repubblica; os franceses Le Monde e Le Figaro; os espanhois El Pais e La Razón. Nos Estados Unidos, nem se fala: New York Times, Wall Street Journal, Washington Post, Los Angeles Times, Chicago Tribune e tantos outros.

Logo, você não vê que no Brasil vá ser diferente?
Olha, não sou um especialista no assunto. Mas usando o Rio como exemplo, os grandes jornais fecharam todos, exceção para O Globo, entre os anos 60 e 90 – o que nada teve a ver com a Internet. Deixaram de circular o Correio da Manhã, Diário Carioca, Diário de Notícias, O Jornal, Última Hora, Jornal dos Sports – devo estar esquecendo alguns – o JB fechou um pouco depois. Mas estão lá O Globo, O Dia, Extra, Valor Econômico, Lance, etc. Da mesma que O Estadão, Folha de S. Paulo, Correio Braziliense, Estado de Minas, A Gazeta, Zero Hora… É complicado avaliar. Em Campos, encerraram os tradicionais A Notícia, A Cidade e Monitor Campista – bem como os semanários Correio de Campos e Reportagem – , por motivos alheiros à Internet. Também pensou-se que o cinema iria acabar com o teatro e a televisão com o rádio. Não aconteceu.

Na prestigiada carreira, longa trajetória de entrevistas de diferentes personalidades

Entrevistando o cineasta Cacá Diegues (Foto: Arquivo pessoal)

Como você começou antes dos 15 anos, são quatro décadas de jornalismo. As entrevistas não foram uma marca na carreira?
“Carreira”. Essa palavra me assusta, porque a coisa toda parece que foi ontem. Olha, eu não definiria como marca, muita embora num determinado período tenha sido.

Mas a entrevista é sempre algo marcante, que suscita comentários e desdobramentos.
De fato. Penso que tenha feito algumas de grande repercussão. Mas quando digo artigos é porque, por conta do mensalão, por exemplo, escrevi aproximadamente 200, quase seguidos, em O Diário. Mudando totalmente de foco, no caso de Lindemberg Alves, aquele que matou a namorada, foram mais de 50, no Site Opinião. Isso para citar apenas dois assuntos – e bem distintos – porque a grande maioria de textos foi avulso, cada hora sobre uma coisa.

Tem alguma entrevista que você considera como a melhor, ou mais marcante?
Tenho algumas que marcaram muito, mas escolher uma, é difícil. Se você perguntasse a pior, eu saberia (risos), mas a melhor, é complicado.

Você pode destacar algumas?
É, assim, curioso… Uma das mais marcantes levou menos de 15 minutos, eu forcei a barra com o Ariano Suassuna, numa palestra que deu na Academia Brasileira de Letras. Banquei o intrometido, disse que tinha vindo de Campos especialmente para algumas perguntas e consegui meia dúzia de respostas, num cantinho do salão, na base da marra. Ele era uma figura extraordinária, foi super cordial, mas é que não dava. Todo mundo queria falar com o homem.

Mas também tiveram grandes entrevistas?
Ah sim, algumas de duas páginas. Outras poucas, até de mais. Mas aí fica cansativo para o leitor. Teve entrevista que passei a tarde toda com o entrevistado. Aqui em Campos, fiz com Ciro Gomes, no CDL, duas páginas – mais de uma hora – mandei o exemplar para ele. Gostou muito e perguntou se podia reproduzir em jornais do Nordeste. Claro que concordei. Convidou-me para passar um final de semana em Fortaleza… enfim, uma honra para mim. Ciro Gomes é um homem de inteligência fora do comum.

E que outras você destacaria?
Entrevistei Ângelo Calmon de Sá quando nem tinha 18 anos. Delfim Neto, Figueiredo (uma entrevista arranjada pelo deputado Alair Ferreira, na base da consideração que tinha a meu pai); Roberto Campos, no CDL; Afonso Arinos, numa palestra que deu aqui no Dia da Justiça; o Lula, numa das campanhas, lá em Macaé; Brizola, Paulo Maluf (também em época de campanha), Marta Rocha, Cacá Diegues, Hélio Costa (estavámos hospedados no mesmo hotel em Barbacena)… não dá pra lembrar de todos. Ah, tem um episódio engraçado: entrevistei a Heloísa Perissé na saída do teatro no Shopping Bourbon, em SP. Pedi a entrevista e ela, super simpática, respondeu ali algumas perguntas, tirei foto, etc. Mas, como só faço apontamentos e tenho que escrever logo em seguida para não me perder, enrolei, enrolei e nem publiquei. Em Campos, não dá pra destacar. Entrevistei as principais personalidades do mundo político e de outros setores. Mas em tempos recentes, quase ninguém.