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Comércio à beira do caminho

Incertezas, desafios econômicos e instabilidade: concessionária recomenda remoção de pontos de vendas instalados na BR-101

Campos
Por Ocinei Trindade
1 de julho de 2019 - 0h01

(Foto: Carlos Grevi)

Uma estrada movimentada, bons produtos e gente disposta a trabalhar muitas horas por dia. Esta é a rotina de alguns comerciantes de Campos que atuam às margens da BR-101, em um trecho de dez quilômetros. Eles disputam a preferência com outros estabelecimentos tradicionais. É que esse grupo de trabalhadores possui um alvará de funcionamento provisório da prefeitura. Eles já foram orientados pela concessionária que administra a rodovia sobre a situação irregular e temem ser removidos. Apesar do clima de incerteza, não desanimam.

Faz 23 anos que o comerciante Evanir Rosa começou a trabalhar como vendedor ambulante à beira da BR-101. Ele conta que trabalha todos os dias da semana, faça chuva ou sol. Na época, estava desempregado e sem saber o que fazer. Começou vendendo goiabadas. Especificamente três unidades. Em mais de duas décadas, o negócio cresceu e atualmente Evanir trabalha em uma loja com infraestrurura.

“Eu vendi as três goiabadas. Com o dinheiro comprei outras seis. Assim, fui desenvolvendo e conquistando clientes. Por muitos anos, eu tinha apenas um tabuleiro para colocar os doces. Depois vieram os queijos. Ultimamente vendo de tudo um pouco, inclusive utensílios domésticos nesse estande”, explica.

Seu Evanir diz que tem clientes de todo o Brasil, já que seu ponto de vendas fica na maior rodovia do país. “Também vendo para gente em Portugal. Alguns clientes vêm aqui para comprar doces e enviar para a Europa”, conta orgulhoso. Porém, nem tudo é alegria na vida do comerciante. Há orientações da concessionária Arteris Fluminense para que vendedores instalados próximos a BR-101, na região do Shopping Estrada e na localidade de Viana, em Ururaí, saiam do local.

“A gente fica apreensivo. Os fiscais da Arteris vieram aqui e disseram que devemos estar a dez metros de distância do acostamento. Tivemos permissão da prefeitura com um alvará provisório. Agora fica essa incerteza. Se formos removidos, não sei o que vou fazer na idade que temos”, diz o comerciante que trabalha junto com a esposa. Penha Rosa, de 57 anos.

(Foto: Carlos Grevi)

Apesar do clima de incerteza, esse grupo de vendedores não desanima. É o caso de Bruno Rodrigues. Por 12 anos ele foi funcionário de uma das 15 lojas instaladas às margens da BR-101. Um dia, decidiu abrir o próprio negócio que já dura três anos.

Com Bruno trabalham a esposa, a irmã e a mãe, Anilce Rodrigues. Ela é a primeira a chegar todos os dias antes das 6h da manhã. “Virei funcionária do meu filho. Ele é rigoroso, mas é um bom patrão”, brinca.

Bruno Rodrigues diz que procura atender às exigências da Vigilância Sanitária, e que se apoia no alvará concedido pela Prefeitura de Campos há sete anos para atuar no local.

“Fui o primeiro a legalizar o negócio aqui. Depois de mim, vieram os outros. Às vezes, dependendo do movimento, trabalho até às 23h”, diz.

Todos os estandes ficam próximos ao acostamento da BR-101, onde os clientes que passam pela rodovia estacionam para comprar.

Concessionária e Prefeitura
A Arteris Fluminense informou que a emissão de alvará provisório para execução de atividades comerciais pela Prefeitura de Campos dos Goytacazes não afasta a obrigação contratual da concessionária em regularizar a ocupação da faixa de domínio do trecho sob sua administração da BR-101 RJ/Norte.

“Conforme as normas estabelecidas no contrato de concessão firmado com o Governo Federal, por intermédio da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). A Arteris ratifica que priva pelo diálogo e já notificou os estabelecimentos às margens da rodovia sobre a situação”, complementa a nota.

(Foto: Carlos Grevi)

A Superintendência de Comunicação da Prefeitura de Campos informou que “para comercialização dentro da área de atuação municipal, é necessária a emissão de alvará de funcionamento pela secretaria de Fazenda e licença da superintendência de Postura, devidamente atualizados. A área para atuação de fiscalização também deve compreender o município. Para verificação destes casos pontuais é necessário ter o número correspondente ao documento em questão para maior análise. “No que cabe à Prefeitura de Campos, todos os procedimentos pertinentes são tomados. Vale lembrar que se trata de uma rodovia federal, sendo, portanto, de responsabilidade da concessionária Arteris”, concluiu a nota.

Clientela fiel
Enquanto os comerciantes de barracas na BR-101 em Campos são mantidos no local, vender é preciso. Para Bruno, Anilce, Evanir e Penha, entre outros, o objetivo é atrair o cliente da melhor maneira. Nos estandes, é comum encontrar os mesmos produtos com preços semelhantes. “Eu aposto na simpatia e no bom cuidado aos consumidores. Tratar bem é minha estratégia de marketing”, diz Evanir.

Bruno e Anilce seguem a mesma linha do vizinho concorrente. Apostam também em promoções e descontos. Na loja deles, o casal Rosane Martins e Agnei Schunk sempre dá um paradinha para comprar.
“Moramos em Guarapari, Espírito Santo. Trabalhamos com transporte de cargas. Viajamos bastante, mas sempre paramos aqui para comprar queijos e doces. Desta vez, vamos levar uma churrasqueira que aqui está custando a metade do preço da que vimos em Guarapari”, revelam.