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Traídas e traidoras: peça expõe voz feminina sobre adultério

Baseada na personagem Capitu, de Machado de Assis, espetáculo estreia no Teatro de Bolso, em Campos

Cultura
Por Ocinei Trindade
24 de junho de 2019 - 11h42

Katiana Rodrigues vive Capitu no Teatro de Bolso (Fotos de ensaio: Patricia Bueno)

Machado de Assis é considerado o maior escritor da literatura brasileira. Morreu em 1908, aos 69 anos. Em sua extensa obra, faz mais de um século que o romance “Dom Casmurro” gera discussões e dúvidas acerca da relação de Bentinho, Capitu e Escobar, envolvidos em uma trama de desconfianças e ciúmes. Sobre a protagonista feminina questiona-se, até hoje, se Capitu traiu o marido Bentinho. A inspiração literária fez com que Arlete Sendra escrevesse a peça “Traídas e traidoras somos todas Capitus”, com Katiana Rodrigues e direção de Fernando Rossi. A estréia acontece nesta quinta-feira (27), no Teatro de Bolso.

A autora Arlete Sendra lembra que a personagem Capitu nasceu em 1865–1960 nas páginas de “Dom Casmurro”, exposta e embrulhada em palavras. “Paralelamente, conquista e desafia, suscita dúvidas e julgamentos, é presença em ausência. É traída ou traidora? Dissimulada ou ser real? A narrativa ficcional é a história de um Bentinho que Bento Santiago nunca foi, nunca se assumiu, mesmo depois de togado em Direito em São Paulo”, comenta.

Arlete Sendra escreveu a peça inspirada em Machado de Assis (Foto: Silvana Rust)

Arlete Sendra especula na obra de Machado de Assis a presença de fragmentos da alma feminina, desde sempre em busca de seu direito de ser mulher, de estar presente no processo de construção do ser. “Traídas e traidoras” é o desabafo de Capitu ao retrato que dela fez Bentinho. É livro aberto com lacunas que convidam o leitor a preenchê-las. Com isto, outras lacunas são abertas, porque viver implica em entrar nas terras do futuro onde nos aguardam os imprevisíveis da vida”, diz a dramaturga.

Capitu na peça de Arlete Sendra (Foto: Patricia Bueno)

O diretor Fernando Rossi dá continuidade ao projeto da trilogia “O Avesso da Mulher”, desenvolvido por Arlete Sendra. “O primeiro espetáculo “Eu fui Macabea”com Rosângela Queiroz aconteceu em maio. “Traídas e Traidoras Somos Todas Capitus” com Katiana Rodrigues é outro grande desafio ao levar ao palco todo universo proposto pela autora. Um processo construído passo a passo e extremamente instigante e prazeroso. A Capitu que iremos mostrar é desafiadora e apaixonante. Nossa expectativa é que o publico se emocione tanto quanto nos emocionamos durante o processo”, diz Fernando.

Capitu de Katiana

A atriz Katiana Rodrigues faz teatro desde os 13 anos. Em agosto, ela completa quatro décadas de vida. Diz que perdeu a conta das montagens e apresentações que participou, mas lembra quantas vezes foi dirigida por Fernando Rossi. “Foram cinco peças. Sábado à noite, Capitães da Areia, Mar Morto, Matrioskas, O julgamento de Lúcifer, além  de oito espetáculos de dança do bailarino Ronaldo Vasconcelos”, cita. Desta vez, Katiana estará sozinha no palco como Capitu.

A intérprete contou que há mais de um ano recebeu o texto da peça “Traídas e traidoras somos todas Capitus”. Desde então, está envolvida com a personagem de Machado e de Arlete. “Capitu é um processo de escuta interior. Uma reflexão sobre o feminino e seu lugar de fala. A construção da personagem é contínua. Ela é intensa, ama, sente amor e dor”.

No início, fazer Capitu no teatro causou hesitação, segundo Katiana Rodrigues. “Eu criei resistência de inicio por causa da faculdade de música que queria viver intensamente lá, mas Capitu foi me tomando e cobrando dedicação e estudo. Estamos nos encontrando desde janeiro em ensaios. Depois da temporada de Macabéa, intensificamos Capitu”, lembra.

A peça ““Traídas e traidoras somos todas Capitus”, fica em cartaz de 27 a 30 de junho, no Teatro de Bolso Procópio Ferreira, às 20h. Ingressos custam R$30 (inteira) e R$15 (meia).

“É muito bonito ser Capitu no palco”, conclui Katiana.