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Os perigos da alergia alimentar

A alergia alimentar atinge em torno de 2% da população adulta e cerca de 8% das crianças

Saúde
Por Redação
6 de junho de 2019 - 15h37

(Fotos Silvana Rust)

Só quem sofre com algum tipo de alergia sabe os transtornos causados por este problema. Imagine então quem não pode comer ou ao menos sentir o cheiro de alimentos básicos na rotina de muitas pessoas, como leite, ovos e bolos. A alergia alimentar atinge em torno de 2% da população adulta e cerca de 8% das crianças, segundo dados da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI). Logo, uma a cada 25 crianças pode ter o problema. Os indivíduos alérgicos têm reações adversas a substâncias presentes em um ou vários alimentos, de forma leve ou grave. Os sintomas podem surgir na pele, no sistema gastrintestinal e respiratório, como simples coceira nos lábios, podendo chegar até a manifestações que comprometem vários órgãos.

A estudante, Letícia Vitória da Silva Oliveira, de 14 anos, foi diagnosticada recentemente com intolerância altíssima à lactose, um tipo de açúcar encontrado no leite. Porém, a família dela passou muitos anos tentando saber o que de fato a jovem tinha.

“Eu me sentia mal porque ninguém apresentava um diagnóstico correto. Passava mal com diversos alimentos, além do preconceito das pessoas em achar que era uma frescura minha. Hoje, levo todas as minhas refeições prontas, se preciso sair de casa e conto com ajuda de alguns amigos que entendem essa situação”, conta.

A mãe da adolescente, Omara Cristina da Silva, comenta que a família vai continuar em busca de mais explicações para tentar entender, de fato, o problema da jovem, que foi várias vezes ao hospital enquanto procurava por uma solução.

“Desde bebê, a Letícia apresenta já alguns sintomas, que nós sabíamos que poderia ser uma alergia ou algo do tipo. O leite saia pelo ouvido, ela tinha refluxos constantes e também diarreia. Mesmo com as medicações, esses sinais voltaram a aparecer. Agora, com 14 anos, ela apresentou diarreia novamente, desde fevereiro do ano passado até setembro e então recebemos o diagnóstico. Se já tínhamos, hoje, o cuidado é redobrado com toda alimentação da casa. Se eu usar leite, por exemplo, perto dela, começam a surgir erupções em todo o corpo. Nós tentamos ainda ser inclusivos ao máximo, ingerindo o mesmo tipo de alimento que ela. Além da lactose, nós também não comemos nada com glúten. A dificuldade é encontrar esses produtos, que ainda são raros”, revela.

Ao contrário da Letícia, a pequena Marina Ribeiro, 4 anos, foi diagnosticada com alergia alimentar desde os dois meses de vida. Hoje, a rotina dela já conta com alguns avanços, mas no começo foi bem difícil, segundo o relato da mãe, Alessandra Ribeiro.

“Os primeiros sintomas apareceram logo nos primeiros dias de nascida. Muita gente falava que era coisa da minha cabeça por ser mãe de primeira viagem, que eu estava exagerando. Fomos diversas vezes na emergência e não tinha um diagnóstico. Até que com dois meses, ela fez o primeiro choque anafilático e ficou totalmente com bolhas no corpo, o olhar travado, pálida, inchou orelha, língua e lábios. No hospital, felizmente conseguiram reverter o quadro. Mas, antes dos dois anos de idade, ela teve três choques anafiláticos, com muitas idas à emergência. Por conta de um pedacinho de banana, ela quase foi para UTI e ficou mais de uma semana internada. Foi então que buscamos uma referência nacional em alergia, no Instituto de Alergia de Campinas e foi um divisor de águas”, relata.

De acordo com Alessandra, depois do início do tratamento em Campinas (SP) foram muitos avanços na rotina alimentar de Marina, que foi diagnosticada com alergia múltipla.

“No início, a médica responsável pelo tratamento, fortaleceu o organismo dela, trabalhou a flora intestinal, aumentou a imunidade, porque ela estava castigada de tanta reação. Ela só inseriu um novo alimento na rotina, após um ano de tratamento. Marina fica seis horas lá em monitoramento após o primeiro pedacinho ingerido. Só a partir daí, dependendo do resultado, que a gente inicia uma dessensibilização em casa com esse alimento. Comparado ao que ela era, hoje está bem melhor.

Eu consegui assar um bolo dentro de casa e não fazer mal. Ovo, que Marina fez um choque anafilático, estamos utilizando há três meses, porém, apenas no bolo, para dessensibilizar o organismo e está dando certo. Assim, minha filha já pode comer trigo, feijão, milho e laranja, que não ela não podia. Temos uma longa caminhada pela frente, mas sem dúvida nenhuma, já avançamos bastante”, comemora a também jornalista, contando que o maior desejo de Marina nesse momento é poder ingerir iogurte.

A mãe da pequena Marina ainda frisa que a menina também é acompanhada em Campos por uma especialista e revela a falta de informação na sociedade sobre o problema.

“A falta de conhecimento nessa situação na cidade ainda é muito grande, especialmente nas emergências. Acho importante a conscientização. As pessoas precisam saber que a alergia alimentar leva a criança a um estado de saúde grave e mata. As reações alérgicas elas são muito além de algo na pele, de uma vermelhidão. Devemos entender que não pode dar só um pouquinho, não pode dar só um pedacinho, quando a mãe de uma criança alérgica diz que não pode, é por realmente não poder”, alerta.

Especialista esclarece o assunto

De acordo com o médico alergista, Dr. Ronald Young, houve um crescimento da prevalência do problema, com aumento significativo do diagnóstico de alergia alimentar, que pode estar relacionado a diversos fatores, como estilo de vida da população, exposição a alérgenos que não eram presentes no passado e exposição à poluição.

“Há uma variedade muito grande de manifestações clínicas. A criança pode ter simplesmente uma diarreia, uma dificuldade de ganho de peso, sangue nas fezes ou assadura, como pode ter reações graves, como uma reação anafilática, atribuída a proteínas alimentares, que é um quadro grave, podendo levar a criança a ser hospitalizada e até o quadro da anafilaxia que pode levar a óbito, aliás, não só a criança, mas o adulto também. Para fazer um diagnóstico, depende muito da história clínica detalhada do paciente. Tem alguns exames complementares que podemos solicitar, mas o mais importante é a presença de um médico experiente para fazer essa separação entre casos que realmente são de alergia alimentar e outros que não, para não submeter a criança a uma dieta inadequada e dar o apoio necessário para o tratamento”, analisa.

Programa de Alergia

Alimentar A Secretaria Municipal de Saúde de Campos, através do Departamento de Nutrição, disponibiliza um ambulatório específico para a alergia alimentar. Atualmente, cerca de 300 crianças recebem acompanhamento.

“Para chegar ao ambulatório, o paciente tem que ser encaminhado por um pediatra, que tem essa primeira função, suspeitando de alergia alimentar, encaminhe para o serviço, onde iremos fazer uma triagem e baseados nessas informações daremos continuidade no tratamento”, pontua Dr. Ronald Young.

O programa de alergia alimentar funciona no Centro de Saúde de Campos, localizado na Rua Gil de Góis, número 157.

Projeto de lei

A Semana de Conscientização da Alergia Alimentar aconteceu na última semana em Campos, devido à Lei Municipal de autoria do vereador Cláudio Andrade. O objetivo é discutir a respeito do diagnóstico, tratamento e políticas públicas voltadas para esse problema. Muitas crianças e adolescentes sofrem sem o diagnóstico e ainda há pessoas que sequer imaginam que podem ter o problema. Em 30 de outubro de 2017, foi sancionada Lei n. 8.788, que instituiu a semana no calendário oficial do município. O vereador propôs a Lei atendendo ao pedido de uma comissão de pais e professores de crianças alérgicas alimentares. A terceira semana de maio é dedicada à conscientização sobre alergia alimentar em várias partes do mundo.