O número geral de assaltos em Campos dos Goytacazes caiu nos três primeiros meses de 2019 em relação ao mesmo período de 2018. A redução foi de 15% quando somados os 11 tipos de assaltos monitorados pelo Instituto de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro (ISP-RJ). Para o especialista em segurança pública ouvido pelo Jornal Terceira Via, Roberto Uchôa, o recuo está ligado ao ajuste na estratégia do combate ao crime, implantado no início do ano junto com a mudança de comando no 8º Batalhão de Polícia Militar. No entanto, os casos envolvendo roubo de celular aumentaram 65% entre janeiro e março deste ano, se comparado ao primeiro trimestre do ano passado. Em alguns casos, a ousadia dos bandidos chama a atenção e nem pacientes de Unidade Básica de Saúde (UBS) à espera de atendimento médico escaparam. Geralmente armados, os assaltantes invadem estabelecimentos comerciais ou abordam as vítimas nas ruas e levam seus pertences, na maioria das vezes, os aparelhos celulares.
De acordo com o ISP, cinco tipos de assalto tiveram redução (pedestre, veículo, carga, em ônibus e a estabelecimento comercial). Outras três categorias de roubo ainda não foram registradas na cidade (caixa eletrônico, banco e roubo com condução para saque, também chamando de sequestro relâmpago). Em contrapartida, três tipos de assalto aumentaram (bicicleta – que não tem números muito expressivos, residência e celulares).
Roubo a estabelecimento comercial foi o delito que teve a maior queda de um ano para o outro. No primeiro trimestre de 2018 foram 42 contra 27 em 2019, uma diminuição de 55%. Em seguida vem assalto a pedestre, com diminuição de 43%. Foram 299 ocorrências registradas de janeiro a março de 2018 e 208 no mesmo período deste ano. Os números referentes aos primeiros dias de abril ainda não foram disponibilizados pelo ISP.
Apesar de os números envolvendo roubo a bicicleta serem inexpressivos, este tipo de crime aumentou 300%. Foi uma única ocorrência registrada no primeiro trimestre de 2018 e quatro registros em igual período de 2019. Assaltos a residências cresceram 25%. Há registros de 12 no ano passado e 15 este ano.
O comandante do 8º Batalhão da Polícia Militar (BPM), tenente-coronel Rodrigo Ibiapina Chiaradia, que assumiu a corporação em 17 de janeiro, foi procurado pela equipe de reportagem, mas não deu retorno até o fechamento desta edição.
Segundo o Direito Brasileiro, se um ladrão leva algo que pertence a outra pessoa sem estabelecer contato com ela, é considerado furto. Caso haja contato com a vítima, ameaça ou violência, o episódio é considerado roubo. O termo assalto não existe no Direito, mas é bastante usado como sinônimo para roubo.
Especialista em segurança pública e pesquisador, Roberto Uchôa acredita que a queda nos índices de roubo já é resultado de uma mudança no planejamento operacional da Polícia Militar em Campos. “A mudança no comando do 8º BPM trouxe alteração no planejamento, que, por sua vez, acarretou um impacto nos números envolvendo esse tipo de crime. Algumas ações realizadas pela Polícia Civil também influenciam nesta questão, porque, ao combater as facções e redes de receptação, a atividade criminosa acaba sendo desestimulada”, analisou Uchôa, que também é policial federal.
Coibir a rede de receptação para baixar os índices de assaltos na cidade é uma estratégia que a Polícia Civil vem adotando na cidade, segundo o diretor do Departamento de Polícia de Área (6ª DPA), delegado Geraldo Rangel.
“As delegacias trabalham com o Sistema Integrado de Metas, desenvolvido pela Secretaria de Estado de Segurança Pública, e operações como ‘Quebrando a Banca’, realizada em Campos no ano passado, e outras ações, têm conseguido bons resultados na repressão aos assaltos”, comentou.
Em dezembro do ano passado, a operação “Quebrando a Banca” mirou em furto, roubos, adulteração e comércio ilegal de aparelhos celulares. Ao todo, foram expedidos 27 mandados de prisão. Treze pessoas foram presas. As investigações duraram seis meses.
(Foto: divulgação/ 8ºBPM)
O crescimento deste tipo de crime não ocorre apenas em Campos e nem é de agora. Roberto Uchôa destaca que os próprios números do ISP indicam uma curva crescente ao longo dos últimos anos em relação ao roubo de aparelhos celulares. Foram 26.546 ocorrências registradas em todo o estado no ano passado, o que representou 8,9% em relação ao ano anterior.
“É muito difícil combater esse tipo de crime porque é inviável colocar um policial em cada esquina. Pelo alto valor agregado do telefone celular, ele se torna bastante interessante para o crime, principalmente, pela facilidade em repassá-lo adiante. Existe uma grande rede de receptação de celular, tanto para revenda de aparelho quanto de peças. É uma modalidade de crime muito rentável”, esclareceu o pesquisador.
Segundo Uchôa, aparelhos da gigante Apple têm menor valor no comércio ilegal. “Houve uma mudança recente na política das fabricantes e os proprietários podem bloquear com facilidade seus aparelhos. Mas, como o crime sempre está um passo à frente, muitos telefones já podem ser desbloqueados. No entanto, o sistema operacional da Apple é bem mais difícil de ser burlado e isso acaba diminuindo o valor para revenda, restringindo a serventia do telefone à reposição de peças. Mas eles não são rejeitados pelos criminosos” alertou o especialista.
No dia 21 de março, dois homens armados invadiram um bar na Rua Álvaro Tâmega com Pero de Góes, no Jardim Maria de Queiroz (entre o Centro e a Pelinca), e levaram o dinheiro do caixa e os pertences dos clientes. De acordo com o relato de uma das vítimas, que preferiu não se identificar, o crime aconteceu por volta das 20h.
Ainda segundo a vítima, os dois homens chegaram em uma motocicleta, entraram armados no estabelecimento comercial e anunciaram o assalto. Eles recolheram os pertences de quem estava no bar, entre bolsas, carteiras e, principalmente, telefones celulares. Cerca de 10 mesas estavam ocupadas no momento do assalto.
“Os assaltantes chegaram extremamente violentos, agredindo verbalmente quem estava no bar. Foi tudo muito rápido”, lembrou a vítima, que teve o celular recuperado pela polícia horas após o assalto.
As imagens de um bandido armado que invadiu uma padaria no Jockey Club, na noite do último dia 24, repercutiram nas redes sociais. O crime aconteceu por volta das 18h50, na Rua Ricardo Quitete. Durante a fuga, o bandido, que exibia a tatuagem de um dragão no braço esquerdo, assaltou, também, uma jovem que estava próxima ao estabelecimento. De acordo com a proprietária, o homem chegou à padaria armado e alterado. Ele pegou todo o rendimento do dia, cerca de R$ 600 que estavam no caixa. O criminoso fugiu em uma motocicleta conduzida por um comparsa, que ficou do lado de fora dando cobertura à ação.
Na noite de sexta-feira (26), agentes do 8º Batalhão da Polícia Militar (BPM) conseguiram localizar e deter o criminoso que foi reconhecido e encaminhado à 134ª Delegacia de Polícia do Centro. Ele confessou o assalto para os agentes da Polícia Civil, mas foi liberado porque, na ocasião, ainda não havia mandado de prisão judicial expedido contra ele.
A UBS do Parque Guarus foi assaltada no final da manhã do dia 11 de março. De acordo com a Polícia Militar, dois homens chegaram em uma Honda Biz vermelha e levaram cinco celulares, dinheiro e joias de pacientes e funcionários que estavam na unidade de saúde. A unidade assaltada fica na Rua Rio Bonito com Avenida Teresópolis e a invasão aconteceu por volta das 11h. Enquanto um dos bandidos, usando capacete, armado, anunciou o assalto, o comparsa ficou do lado de fora da unidade vigiando a chegada da polícia.
