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Três histórias de força e de amor

No mês dedicado às mulheres, relatos inspiradores que mostram a superação daquelas que tinham tudo para desistir

Geral
Por Redação
11 de março de 2019 - 0h01

Lyana descobriu a gravidez ao mesmo tempo em que recebeu a notícia de que estava com câncer de mama. (Foto: Arquivo Pessoal)

“Dizem que a mulher é o sexo frágil. Mas que mentira absurda”. Já cantava Erasmo Carlos que, mesmo sendo homem, admitia que ser mulher é estar em constante provação de sua força. São muitos os exemplos de garra e coragem dados por mulheres que não se deixaram levar pela fragilidade de seus corpos e pelas adversidades que encontram no caminho, tais como os preconceitos, as cobranças e os julgamentos. Essas podem ser suas mães, irmãs, filhas, amigas ou você mesma. Todas sabem o peso que carregam e a força que têm para realizar tal feito. Nesta reportagem especial em homenagem às mulheres, o Terceira Via selecionou algumas histórias que comprovam que a feminilidade é sinônimo de valentia.

Se a maternidade já é um exemplo contundente da bravura feminina, levar a gravidez durante o tratamento de um câncer seria o que, afinal? Lyana Cabral e Érica Riter Gomes podem responder essa pergunta. As duas sentiram a alegria de ser mãe ao mesmo tempo em que enfrentavam as agruras do câncer de mama. Hoje, com suas filhas nos braços, elas relembram com orgulho a trajetória que muitas pessoas prefeririam esquecer.

Em 2014, quando tinha apenas 26 anos, Érica recebeu o diagnóstico. Ela sentiu um nódulo na mama esquerda e, após passar pelos procedimentos médicos iniciais, recebeu também a notícia de que precisaria retirar as duas mamas. Foi um baque, mas muito ainda estava por vir. Após fazer a reconstrução dos seios e implantar próteses de silicone, Érica precisou retirá-las devido a uma infecção. Foi a partir daí que ela iniciou a quimioterapia, processo que durou aproximadamente seis meses e que ocasionou a perda de seus cabelos. “Essa foi a parte mais barra pesada de todo o processo”, contou.

A gravidade do seu câncer era tamanha que outros medicamentos também foram necessários para reverter a doença, contudo a essa altura, a autoestima de Érica já estava abalada e ela solicitou aos seus médicos uma pequena pausa no tratamento para tentar uma nova reconstrução das mamas. Assim foi feito. Passado pouco mais de um mês, Érica voltou a tomar os medicamentos e, em seguida, iniciou a hormônio-terapia. Ao todo, foram aproximadamente três anos da etapa mais fatigante do tratamento que, no total, leva até sete anos para que seja considerada curada.

Érica considera o nascimento de sua filha um milagre. (Foto: Arquivo Pessoal)

Em 2017, Érica conseguiu, enfim, colocar as próteses definitivas de silicone e, um ano depois, recebeu outra notícia, desta vez feliz: estava grávida. “Foi uma surpresa porque eu ainda estava tomando os medicamentos e, desde a quimioterapia, fui induzida à menopausa. Por essas e outras, considero a chegada da minha pequeninha um milagre”, disse, emocionada.

A pequena nasceu em outubro de 2018, um mês muito significativo para Érica. “Outubro é o mês de conscientização do câncer de mama e em outubro de 2015 foi quando fiz a minha primeira cirurgia, aquela em que tudo deu errado. Exatos três anos depois, nasce a minha florzinha. Não haveria melhor maneira de fechar esse ciclo. Depois de tudo que eu passei, de tanto sofrimento, recebi a maior das alegrias”, concluiu.

Embora também tenha enfrentado um câncer de mama e de ter sido coroada com o nascimento de uma filha, a história de Lyana é bem diferente da história de Érica. Isso porque ela descobriu o câncer ao mesmo tempo em que se descobriu grávida, já com três meses de gestação. Foi nesse período em que um carocinho que ela já tinha no seio pareceu maior e começava a modificar o aspecto da mama.

“No início, como obviamente a gente nunca espera pelo pior, demorei um pouco para marcar o exame. Somente um mês depois da primeira consulta, fui informada de que havia uma suspeita de câncer. Eu iniciei o tratamento com quimioterapia antes mesmo de receber a confirmação por meio de exames. Isso porque a produção de leite impedia o diagnóstico certeiro. Mas o aspecto do nódulo já indicava a gravidade da situação”, explicou Lyana.

O processo da quimioterapia começou no meio do segundo trimestre da gravidez e a bebê nasceu antes de finalizar todo o procedimento. Lyana também precisou fazer a remoção total da mama esquerda já com a sua filha nos braços. A partir daí, outras etapas: mais ciclos de quimio, radioterapia, tratamento de duplo bloqueio e hormônio-terapia. Lyana enfrentou todas esses desafios com a força que, até então, não sabia que tinha. “A verdade é que ser mãe durante esse processo foi um bálsamo”, declarou.

Assim que soube que estava grávida e que tinha um câncer, Lyana decidiu compartilhar sua história com outras mulheres que também estão nessa luta ou que buscam exemplos de superação e empoderamento. Foi com esse intuito que ela criou uma página nas redes sociais Facebook e Instagram intitulada “Câncer gestacional tem cura”.

Por meio dessa página, Lyana também organizou um grupo no WhatsApp, “Mães abençoadas”. “Nesse grupo, estão outras mamães que têm ou que tiveram câncer na gestação. Somos mais de 20 mulheres trocando experiências e compartilhando as dores e as alegrias desse processo. A criação da página e do grupo me ajudou muito. Não só para extravasar o que eu estava sentindo, como também para ajudar outras mulheres”, contou.

Lyana disse que, apesar de ter superado todas essas provações, ela não quer passar a imagem de heroína. “Não me vejo assim. Penso que sou apenas uma pessoa fazendo uma bela limonada com os limões que a vida me deu. Às vezes sai um pouco azeda, mas ao colocar amor, fica doce”, concluiu.

Andréia sofreu um acidente, perdeu a memória, mas nunca esqueceu o ballet. (Foto: Arquivo Pessoal)

Sem limites para expressar o amor pela dança

A história de superação da bailarina Andréia Marcolino é um daquelas que precisa ser contada. Desde a infância, ela sonhava em ser bailarina vendo sua mãe, costureira, confeccionar roupas de ballet. Ainda criança, ela se matriculou em um projeto de dança e, na adolescência, passou a frequentar uma academia especializada na prática. Após anos de estudos, Andréia realizou seu sonho e formou-se professora de ballet. Ela dava aulas em escolas de dança e em projetos sociais quando, em 2011, no alto de sua carreira, sofreu um acidente ocasionado pela imprudência de um motorista que dirigia falando ao celular.

Andréia perdeu a memória e passou a precisar de uma cadeira de rodas para se locomover, mas, ainda assim, o amor pelo ballet continuava ali. “Para se ter uma ideia, eu tinha uma filha pequena e não me lembrava dela. Precisei de muita ajuda dos meus familiares e vizinhos para me reerguer. Após o acidente, eu voltei a estudar, formei-me psicopedagoga, passei em vários concursos públicos… Foi quando nasceu uma nova Andréia Marcolino que, apesar de diferente, ainda amava o ballet”, contou.

Em 2016 , ela voltou a dançar e participou da abertura da paralimpiada do Rio. Em 2017, foi intitulada como “bailarina de superação de Campos” quando apresentou uma coreografia que demonstrava seus sentimentos diante de tudo que passou. No mesmo ano, subiu ao pódio no Festival de Ballet Contemporâneo de Petrópolis; ficou em 1º lugar no Festival de Talentos do IFF; e palestrou no 1º Fórum de Dança de Campos, na Uenf.

Em 2018, ganhou aplausos no Festival de Dança de São Paulo por ficar em 3º lugar. Mas a glória chegou mesmo quando participou do grande Campeonato All Dance Brazil, no qual se qualificou em primeiro lugar na modalidade contemporânea e quebrou o recorde, sendo a primeira bailarina com deficiência a participar do campeonato e contemplada com a qualificação para o campeonato do Panamá e de Orlando, na Flórida.

“Para participar dessa competição em Orlando, precisei passar por dias difíceis. Tive de pedir ajuda e patrocínio em várias empresas e muitos me disseram que eu não conseguiria. Mas era dessas recusas que eu tirava forças para continuar lutando”, afirma Andréia. Antes mesmo de chegar até lá, ela já era a única atleta brasileira, campista, a levar o nome do município para os Estados Unidos da América.

Andréia tanto fez que conseguiu. Tornou-se bailarina internacional com a coreografia Lago do Cisne adaptada. Acontece que o troféu que deveria ir para as mãos de Andréia, foi roubado. Mas isso não foi a desanimou. Ela retornou a Campos e aguarda a chegada do prêmio, prevista para abril. Enquanto isso, comanda o projeto social Minutos de Educação e Saúde, que criou no bairro Tapera 2, em que ela desenvolve atividades com o corpo (ballet e hip hop), recreação, palestras e, em breve, aulas de alfabetização e informática.

As próximas metas de Andreia são: abrir o seu espaço psicopedagógico, para atender pessoas com deficiência, competir na Europa e publicar o seu livro que já tem título: “Provações”. “A cada dia tenho mais força e vontade de vencer os obstáculos da vida. Não há vitória sem luta”.