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Fênix de Apolo ressurge das cinzas

Lira, símbolo maior do prédio histórico destruído por um incêndio, já está no topo de uma de suas torres

Campos
Por Thiago Gomes
24 de fevereiro de 2019 - 10h42

Peça volta ao topo do prédio histórico (Fotos; Silvana Rust)

Aos poucos, um dos prédios mais imponentes do centro histórico de Campos dos Goytacazes vai recuperando sua beleza original, que foi devastada por um incêndio ocorrido em 19 de novembro 1990. A sede da Sociedade Musical Lira de Apolo, tombada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico (Inepac), está em restauração desde 2012 e nas últimas semanas ganhou dois ornamentos de metal reproduzidos cuidadosamente de forma artesanal. As liras, símbolo da Sociedade Musical, cada uma com três metros de comprimento, foram instaladas no topo do prédio e as fases de projeto e construção demandaram cerca de um ano de trabalho.

Quem construiu as liras foi o restaurador João Batista Teixeira, que, aliando arte e técnica há mais de 40 anos, já trabalhou em obras importantes Brasil afora, como a do Theatro Municipal do Rio de Janeiro e o Palácio Tiradentes, sede da Assembleia Legislativa do estado do Rio de Janeiro (Alerj). Ele é de Juiz de Fora, Minas Gerais, e foi indicado para o trabalho pelo próprio Inepac. As peça, instaladas no alto de uma torre de três metros, pesam aproximadamente 80kg cada uma e foram moldadas manualmente com 36 chapas de zinco de dimensões de 1mx1.5m.

João Batista Teixeira já trabalhou em restaurações importantes Brasil afora

Como as peças originais se perderam no incêndio, João Batista conta que reproduzi-las não foi tarefa fácil. “O prédio é tombado e, por isso, sua restauração precisa seguir fielmente o projeto original. Nós só tínhamos fotografias das liras originais e chegar às dimensões das peças demandou um trabalho meticuloso envolvendo estética e volumetria”, comentou.

A lira da torre esquerda foi instalada no dia 16 de fevereiro e a peça da torre direita no dia 23 do mesmo mês. As duas custaram cerca de R$ 35 mil. O profissional esclarece que o tipo de restauração aplicada no prédio histórico é a interventiva, na qual partes destruídas pelo fogo precisam ser refeitas. “O restauro conservativo preserva as peças originais, o que não é o caso da Lira de Apolo”, explicou.

Outras peças do prédio históricos também deram trabalho à equipe. O telhado, por exemplo, era de telhas francesas, que não são mais encontradas no mercado. Foi necessário mandar fabricar mais de três mil unidades.

Maestro Ricardo de Azevedo coordena trabalho de recuperação da Lira de Apolo

A duras penas

O trabalho de restauração do prédio é de formiguinha e vem sendo comandado pelo maestro regente e presidente da Lira de Apolo, Ricardo de Azevedo, que assumiu o posto em 2008. A obra, que está longe de terminar, já custou cerca de R$ 1 milhão e vem sendo custeada ao longo dos últimos sete anos quase que exclusivamente pelos alugueis dos dois pontos comerciais instalados na parte inferior do prédio e que são de propriedade da Lira de Apolo. Porém, a receita da sociedade caiu pela metade em 2018, já que o contrato de aluguel de um dos pontos foi encerrado.

O maestro ainda não sabe como vai pagar a dívida de IPTU que a Sociedade tem, que já chega a R$ 20 mil. “Estávamos desde 2012 lutando para conseguir a isenção do IPTU e a situação só foi resolvida ano passado. Ainda assim, só conseguimos redução de 80%. Quando a gente entra com o processo de isenção, para automaticamente de pagar o imposto até o encerramento do processo. Com isso, o valor se acumulou e não temos como pagar”, comentou o maestro.

Sobre o IPTU, a Prefeitura de Campos informou que, com a concordância do Coppam, pode reduzir o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) em até 80%, conforme art. 235, parágrafo 4, incisos I, II, III e IV da Lei Complementar 01/2017. O benefício está condicionado à preservação do bem tutelado, protegido e/ou tombado, mesmo que o prédio esteja sendo ocupado por entidade com fim lucrativo. “Para o imóvel receber 100% de isenção quanto ao imposto ele precisa preencher os requisitos previstos na Lei Complementar 01/2017. O responsável pela entidade deve procurar a Central de Atendimento ao Contribuinte (CAC) da Secretaria Municipal de Fazenda para maiores informações”, disse a Prefeitura em nota.

Em tempo — Por sua contribuição para o cenário cultural de Campos, o maestro Ricardo de Azevedo foi homenageado no ano passado pelo Sistema de Comunicação Terceira Via com o prémio “Eu Sou 3ª Via”.

História da Lira de Apolo

A Sociedade Musical Lira de Apolo foi fundada em 19 de maio de 1870. Mas o prédio histórico, com características ecléticas, começou a ser construído em 1912, com a contribuição de seus associados e da população campista. Os trilhos de trem usados como ferragens nas construções foram trazidos da Estrada de Ferro Leopoldina.

As pedras para o alicerce foram carregadas do Rio Paraíba do Sul às escondidas da polícia. A inauguração festiva aconteceu em 1914, quando a Lira de Apolo entregou à cidade a construção que hoje faz parte de seu patrimônio.

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