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A desgraça da pedofilia

Neste artigo, Paulo Cassiano Jr. aborda a pedofilia e seus aspectos

Artigo
Por Paulo Cassiano Júnior
20 de janeiro de 2019 - 16h56

    Recentemente, num documento intitulado “Carta ao povo de Deus”, o Papa Francisco assumiu a responsabilidade, em nome da igreja romana, pelas “atrocidades” cometidas por padres nos Estados Unidos, os quais, de acordo com relatório divulgado pela Suprema Corte da Pensilvânia, teriam abusado sexualmente de mais de mil crianças nos últimos 70 anos.

 

    Embora escândalos sexuais envolvendo menores sejam constantemente associados ao ambiente eclesiástico, a verdade é que, infelizmente, a pedofilia é um terrível flagelo que está entranhado em diversos contextos sociais.

 

    Etimologicamente, a pedofilia tem origem na Grécia e está ligada a um amor não erótico por crianças. Atualmente, porém, o termo adquiriu uma semântica pejorativa: a psicanálise considera o fenômeno uma perversão, uma compulsão obsessiva, ao passo que a Organização Mundial da Saúde o classifica como uma patologia, um transtorno da preferência sexual.

 

    Ao contrário do estereótipo do criminoso comum, sempre relacionado ao submundo e à marginalidade, o pedófilo convencional está totalmente inserido na sociedade. Possui aparência de bom caráter, aspecto de normalidade e age com discrição e sutileza. O pedófilo demonstra simpatia e, habitualmente, a convivência com ele é agradável e afetuosa. O índice desses delinquentes que não apresentam qualquer sinal de alienação mental situa-se entre 80% e 90%. Esse perfil tão familiar talvez seja o principal entrave à prevenção do abuso sexual.

 

    Para dar consecução aos seus intentos, o pedófilo se prevalece de uma relação de confiança com a vítima (esse vínculo pode ser preexistente ou criado premeditadamente). Ele calcula bem os seus passos e age de forma deliberada. Nessa tática de aproximação, o criminoso atua de maneira empática e envolvente, seduzindo a criança com elogios, oferta de dinheiro ou presentes (o abuso só é cometido depois). É por causa dessa proximidade consentida e do traço de afabilidade social do pedófilo que a revelação da identidade deste causa tanto escândalo. Afinal, quem desconfiaria daquele professor tão atencioso? Ou do pastor da igreja tão cândido? Ou do próprio tio, alguém de dentro de casa?! Como o pedófilo é alguém acima de maiores suspeitas, quase sempre a descoberta do crime só ocorre quando o estrago provocado pelo abuso sexual já está consumado, normalmente em estágio avançado e com terríveis consequências.

 

    Com o advento da internet, a questão da pedofilia agravou-se exponencialmente. A conectividade aproximou os pedófilos das crianças, que se expõem precoce e voluntariamente em mídias sociais. Além disso, a rede permitiu aos pedófilos ter acesso a um número indeterminado de vítimas e criou, sob o escudo de perfis falsos, um sentimento de impunidade nos criminosos. Por isso é tão importante manter vigilância, monitorar a navegação virtual e observar atentamente o comportamento dos menores.

    Por conta das peculiaridades do crime e da sensibilidade que envolve os interesses das vítimas, combater a pedofilia consiste num enorme desafio para as autoridades. Definitivamente, a prevenção é o melhor caminho, e aí o papel da família é crucial. Nessa sociedade tão competitiva e acelerada, criar filhos dá um enorme trabalho e às vezes é fácil cair na tentação de terceirizar a tarefa. Portanto, para quem não deseja ver seus filhos adotados por pedófilos, é indispensável sedimentar laços de afeto e segurança e deixar o canal de diálogo sempre aberto com as crianças.