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O espírito das palavras e das ideias

Sandro Reis é pastor, engenheiro, professor, empresário e um estudante interessado em diversos temas que aplica pessoalmente e na vida de muita gente

Entrevista
Por Ocinei Trindade
14 de janeiro de 2019 - 0h49

Sandro Reis (Foto: Divulgação)

Sandro Reis Rocha Barros nasceu em Campos há 47 anos. Casado há 23 anos com AlessandraBarros, são pais de Matheus e João Marcos. Engenheiro eletrônico formado em 1993 pela UFRJ, onde também cursou o curso de Mestrado em Engenharia Elétrica na COPPE, concluiu todas as disciplinas do Doutorado em Engenharia de Sistemas e Computação, mas interrompeu esta pós-graduação  para poder cursar o Bacharelado em Teologia e atender ao chamado de Deus para ser pastor.  Recentemente, concluiu o Mestrado em Ciências das Religiões e começará em 2019, o Doutorado em Cognição e Linguagem na UENF. Sandro Reis, além de pastor, é professor do Instituto Federal Fluminense, em Campos. É autor do livro “Espiritualidade, conceitos e aplicações em ambientes educacionais e empresariais”. Nesta entrevista, Sandro Reis aborda sobre questões religiosas, políticas e dramas humanos, entre outros temas.

O senhor é engenheiro, professor, pastor e microempresário, além de marido e pai. Com tantas ocupações, como administra tantas tarefas e sua rotina de trabalho?

A bem da verdade, ser engenheiro e professor constitui-se de uma única atividade, pois eu exerço a engenharia ministrando aulas no IFF. Quanto ao fato de ser pastor, eu não vejo isso como uma profissão. Até por que, sempre desempenhei minhas funções religiosas sem nenhum tipo de remuneração financeira. Eu cultivo um pensamento de que, nem tudo na vida é movido pelo fator econômico, e para mim, ser pastor é um estilo de vida cristã movido pela amor e gratidão. Já faz muito tempo que deixei de ser um “microempresário”. Sou apenas cotista de uma Livraria Evangélica, atividade muito vinculada a um propósito de Missão, pois destina-se a divulgar a cultura cristã.

O senhor foi um dos homenageados pelo Jornal Terceira Via em 2018 por se destacar em diversas ações na sociedade campista. Como recebe esse tipo de reconhecimento?

Primeiramente, eu gostaria de dizer que não me sinto merecedor de um prêmio desta natureza. As ações que coordenei e outras que ainda coordeno, não teriam sido realizadas se não fosse o poder de Deus atuando nos corações de tantas pessoas envolvidas na colaboração desses trabalhos, principalmente, os membros da Igreja Batista do Flamboyant. Além do mais, fazer o bem, sem importar a quem, é um princípio cristão. Eu considero um privilégio meu poder estar atuando de forma a promover o bem estar das pessoas, cumprindo, de certa forma, o amor ao próximo, que é o segundo maior de todos os mandamentos dados por Deus.

Qual dessas funções te tomam mais tempo? Há alguma que o senhor priorize?

As funções de chefe de família, esposo e pai, são as que mais me agradam e me dão prazer. Família tem que ser prioridade na vida das pessoas que querem a felicidade e desejam fazer outros felizes. As minhas atividades profissionais cumprem um papel de realização pessoal e também de sustento de minha família. E minhas atividades religiosas têm, por essência, a função de realimentar minha relação com Deus. O Serviço Cristão, seja como líder ou como liderado, tem o papel de fazer notório e eficaz o nosso amor e a nossa gratidão a Deus.

O senhor costuma participar de viagens missionárias, pregando o evangelho em outros estados do Brasil e em outros países. Como é esta experiência? Destaque alguns desses momentos.

Graças a Deus, são muitas experiências que acumulo nesta área. Não daria para falar de todas aqui. Porém, além da região da Baixada Campista, como Baixa Grande, Babosa, Ponta Grossa, Poço Gordo, Largo do Garcia, e Sabonete, desde o ano de 2006, tenho levado alguns irmãos da Igreja Batista do Flamboyant a fazerem obras sociais e evangelísticas em vários Estados do Brasil como Bahia, Ceará, Sergipe, Paraíba, Piauí, Alagoas, Tocantins, Minas Gerais, Pernambuco, Espírito Santo, Amazonas e Rio Grande do Norte. Em 2017, estive com uma equipe em Angola, e neste ano de 2018, num país fechado ao cristianismo, que por motivos de segurança, não devo declarar.

As questões religiosas e políticas têm afetado historicamente vários países. Sabe-se que o ateísmo e o islamismo têm crescido em diferentes regiões do mundo. O cristianismo e outros credos em vários lugares são intolerados. Como é lidar com essas questões e divisões?

Um dos princípios fundamentais é o respeito. Creio que Deus nunca impôs sua ideologia a ninguém. Desde o primeiro ser humano criado, Deus o dotou de livre-arbítrio para fazer suas escolhas e decisões. No livro de Apocalipse, encontramos Jesus falando mui respeitosamente: “Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, eu entrarei em sua casa, cearei com ele e ele comigo”. Eu lamento todo caso de intolerância religiosa que já ocorreu e que ainda ocorre no mundo. Jesus soube lidar de maneira pacífica e amorosa com todas as pessoas, inclusive as que discordavam dele.

Nas últimas décadas, diversas correntes do cristianismo têm surgido no catolicismo, protestantismo, kardecismo, pentecostalismo e neopentecostalismo. São muitas igrejas e comunidades que defendem o cristianismo de modos distintos. Isto é bom? Como o senhor avalia essas práticas?

Claro que não é bom. O Cristianismo deveria manter uma unidade doutrinária, conforme nos orientou o Apóstolo Paulo. Porém, temos que respeitar a livre interpretação das Sagradas Escrituras. Eu só faço uma ressalva contra os casos em que ficam patentes a vaidade humana e o interesse de alguns líderes, pelo poder e pela exploração financeira e política de seus liderados, usando a religião como pretexto para impor seus anseios pessoais e abusando da fé e da boa vontade das pessoas, principalmente, as mais simples e menos esclarecidas.

O preconceito religioso é uma realidade dentro e fora do cristianismo. Como o senhor analisa as questões de intolerância religiosa no Brasil e no mundo?

Se você analisar numa perspectiva histórica poderá concluir que o tema “intolerância religiosa” é mais antigo do que se imagina. As guerras no Mundo Antigo, em sua maioria, tinham como pano de fundo, as divergências religiosas entre nações que cultuavam “deuses” diferentes. Viva o Brasil, pois aqui, ainda podemos expressar, publicamente, a nossa fé, e divulgar nossa maneira de pensar e se relacionar com Deus. Recentemente, na Argélia, temos acompanhado casos de muçulmanos assassinando cristãos. No Marrocos, é proibido o proselitismo religioso, ou seja, ninguém pode pregar o Cristianismo ou outra religião que não seja o Islamismo. E assim, vemos vários outros casos.

No Brasil, de acordo com a Constituição Federal, o Estado é laico. O crescente número de evangélicos atuando na política é algo positivo? A igreja deve-se posicionar oficialmente em campanhas eleitorais? 

É salutar esclarecer o conceito de Laicidade. Ser um Estado laico significa que o governo não terá uma religião oficial, e constitucionalmente, terá que haver separação entre Igrejas e Estado. É bom lembrar que atuar na política é um direito de qualquer cidadão no exercício de sua cidadania, independentemente, de sua religião. Aliás, esse é o princípio da Laicidade. Num país laico, como o Brasil, é extremamente saudável, que pessoas saibam conviver e atuar nos diversos setores da sociedade, mesmo tendo posicionamentos religiosos diferentes. Com relação ao tema “campanhas eleitorais”, existe um código eleitoral que já determina que em igrejas não se pode fazer campanha.

O Brasil se mostrou bastante polarizado durante as últimas eleições. Isto também se refletiu dentro das comunidades religiosas. Como o sacerdote lida com essas questões dentro da congregação?

A polarização entre grupos que pensam politicamente divergente é algo natural. Principalmente quando se tem poucas opções. A ciência mostra que todo ser humano é, por natureza, um ser religioso e político. O que assistimos nas últimas eleições foi um fenômeno político que, certamente, inspirará muitas teses acadêmicas. Vimos muito de “intolerância política” de todos os lados partidários. Nas igrejas, como organismos vivos da sociedade, não poderíamos deixar de sentir os reflexos dessa intolerância, porém, o sacerdote consciente de seu dever, deve priorizar a paz, o amor, a união e nunca o ódio.

Em sua experiência sacerdotal, o que mais as pessoas buscam encontrar na igreja hoje e o  que tem havido com muitos que se sentem desiludidos e se afastam?

O que as pessoas deveriam buscar mais nas igrejas é a presença inefável de Deus. Porém, muitas estão procurando uma solução prática e rápida para seus problemas. E sendo assim, é natural que haja desilusões e, por consequência, afastamento por parte dessas pessoas. Existem igrejas e “igrejas”, ou seja, infelizmente o nome de Deus é adorado, ensinado e exaltado em algumas igrejas, ao mesmo tempo que é explorado por outras “igrejas”. Temos presenciado um certo “comércio” com o nome de Deus. E isso não é novidade, pois o próprio Jesus, Filho de Deus, presenciou e condenou essa prática no Templo de Jerusalém há cerca de 2000 anos atrás.

A tecnologia e a Internet ajudam ou atrapalham a falar de Jesus Cristo?

Tanto ajudam como atrapalham. O resultado e o efeito da tecnologia na esfera religiosa vai depender muito de quem faz uso dela, e de como se faz esse uso. A internet é apenas um veículo de comunicação, e ressalta-se que é o mais democrático de todos existentes hoje. Creio que se o Cristo tivesse vindo ao mundo nesse tempo que vivemos, seus sermões não seriam somente nos templos, nos montes, nem na beira do mar. Tenho certeza que ele pregaria na internet, na TV, no rádio, e sempre fazendo uso dos meios tecnológicos para que pudesse alcançar um maior número de pessoas.

A Humanidade tem atravessado muitas crises em sua trajetória. As religiões também passam por isto. Hoje, o conceito de pecado é o mesmo registrados nas Sagradas Escrituras ou a sociedade tem pecado diferente?

A Bíblia, apesar de ser um dos livros mais antigos, o seu conteúdo é bastante atual. De Gênesis a Apocalipse, o Espírito Santo usou pessoas para escreverem sobre a natureza pecaminosa humana e a maneira que o ser humano tem para evitar e resolver os problemas que os pecados trazem à vida e à sociedade. Vemos o pecado da vaidade em Lúcifer, o pecado da desobediência e inconsequência em Adão, a inveja em Caim, os desejos sexuais incontidos em Sansão, as articulações políticas sem ética em Joabe quando Davi estava para assumir o reinado de Israel, a ganância nos filhos de Eli, a mentira em Ananias e Safira, e tantos outros pecados que nos acompanham até hoje.

As festas natalinas e de Ano Novo, as celebrações religiosas em geral envolvem milhões de pessoas. Qual o significado dessas datas e a importância de celebrá-las e fazer planos para o futuro?

O Natal é, por natureza, uma festa cristã, pois celebra o nascimento de Jesus – o Cristo. A palavra “Jesus” significa “salvador” e a palavra “Cristo” significa “ungido da parte de Deus”. Natal é a encarnação do Messias, o Filho de Deus que seria enviado ao mundo para trazer perdão aos pecadores arrependidos e salvação da condenação do inferno a todo que nele crê. Leia João 3.16. Já a celebração do Ano Novo não tem cunho religioso, mas traz um significado de esperança de uma vida melhor e de realização de sonhos. Deus fez a humanidade para viver em ciclos. E a cada ciclo renasce uma nova esperança.

O senhor faz planos? O que espera de 2019?

Sim. Faço alguns planos. Desejo conhecer mais amigos. Quero conhecer e me relacionar mais intimamente com meu Deus, servindo-o com mais amor. Em 2019 eu espero um Brasil melhor. Mais justo. Com mais trabalho para as pessoas. Com mais consciência moral e ética. Com mais amor e respeito a Deus e ao próximo. Que Deus nos conceda mais graça e misericórdia. Que as pessoas se compreendam mais e aprendam a conviver com suas diferenças. Afinal, segundo as Escrituras: “Feliz é a nação cujo Deus é o Senhor!” (Salmo 33.12)

O senhor publicou um livro recentemente, “Espiritualidade, conceitos e aplicações em ambientes educacionais e empresariais”. Como idealizou essa obra e a quem se destina?

O conceito científico de “espiritualidade aplicado a ambientes corporativos” foi o tema de minha dissertação de mestrado em Ciências das Religiões. Quando pesquisei esse assunto, vi que, quando se consegue separar e discernir os conceitos de Religiosidade e Espiritualidade, abre-se um horizonte para alcançar o ser humano numa de suas maiores necessidades que é o vazio da alma e o tratamento da dimensão espiritual de seu ser, melhorando assim, seu desempenho tanto nas atividades estudantis quanto profissionais. Esse livro foi o primeiro. Sei que Deus me dará a bênção de poder escrever outros.

Aos leitores que estão em busca de respostas para suas aflições, que mensagem o senhor gostaria de deixar registrada?

São muitas as mensagens que gostaria de deixar aos leitores, pois sei que são muitas as suas aflições. Mas posso tentar resumir dizendo: Ame ao Senhor seu Deus sobre todas as coisas, com toda sua alma, com todas as suas forças e entendimento; e ame ao seu próximo como a si mesmo. Descubra o Cristo ressurreto que está vivo e desejoso por se revelar a você com muito amor, cuidado e carinho.