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João Peixoto na mira da Lava Jato

Deputado teria recebido R$ 1 milhão mas diz que não se preocupa com a denúncia e confia que será reeleito

Campos
Por Marcos Curvello
27 de agosto de 2018 - 0h01

O surgimento do nome do deputado estadual João Peixoto (PSDC) na delação de Carlos Miranda, operador financeiro de Sérgio Cabral (MDB), trouxe até Campos o escândalo de corrupção protagonizado pelo ex-governador. Diferentes operações da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público (MP), como Calicute, C’est Fini e Fratura Exposta, todas sob o guarda-chuva da Lava-Jato, exumaram um estado abatido por um intrincado esquema de fraudes, superfaturamentos e desvios que se espalhou como por metástase pelos órgãos das administrações direta e indireta. Mas, João Peixoto não chora o defunto. Na verdade, jura que sequer o conhece.

Homologada pelo ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), no dia 6 de março, a delação de Miranda lista 40 políticos — tanto do próprio MDB quanto de siglas aliadas — cujas campanhas teriam sido financiadas com dinheiro de Caixa Dois. Entre eles, estariam o atual governador e sucessor de Cabral, Luiz Fernando Pezão (MDB), e o ex-prefeito do Rio de Janeiro e atual candidato ao Palácio Guanabara, Eduardo Paes (DEM). Estaria, também, João Peixoto.

Segundo Miranda, que executava a parte administrativa e financeira das campanhas do MDB no Estado do Rio, o apoio era financeiro, tanto na forma de dinheiro, em espécie, quanto de contribuições feitas por empresas. A Peixoto teria cabido R$ 1 milhão, pagos por empreiteiras e fornecedoras do governo do estado.

Mas, se o delator afirma saber inclusive das contas de campanha do deputado, Peixoto não pensa duas vezes quando questionado sobre Miranda, avisa que não tem culpa no cartório e garante que sua preocupação “é zero”.

“Nunca vi esse sujeito nem de chifre, nem de rabo. Não devo nada. Estou tranquilo. Deixa inchar”, diz o deputado. “Não vou sequer mobilizar meus advogados. Se diz que fiz algo de errado, vamos esperar que ele prove”.

No caso de Peixoto, o apoio teria vindo na forma de material de campanha. O deputado nega a prática de qualquer tipo de irregularidade e afirma que doações que recebeu ocorreram dentro do que estabelece a lei. “O partido me mandou material de campanha, como mandou para diversos outros candidatos. Não sei quem pagou, veio do partido”, disse.

Nascido em Campos, João Peixoto tenta seu sexto mandato na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) minimiza a delação e afirma que a denúncia envolvendo seu nome não “afeta a campanha”.

“Trabalho há 26 anos com política. Não me preocupo com esse tipo de coisa. Quanto mais falam, mais vou à rua pedir votos. Vou ganhar com mais de 32 mil votos”, projeta.

Passado político

Esta não é a primeira denúncia em que o deputado João Peixoto tem seu nome envolvido. Em 2008, ele e outras 11 pessoas, incluindo mais quatro deputados, foram denunciados pelo MP por desvio de dinheiro da Alerj.

Os crimes seriam de estelionato e associação criminosa, praticados em nomeações da Casa para cargos comissionados, ou seja, por indicação política. Os alvos seriam pessoas de baixa escolaridade e muitos filhos, que recebiam a promessa de serem inscritas em programas sociais e se apoderaria dos salários e do auxílio-educação pago aos servidores da Alerj.

O caso se arrastou por sete anos, até ser julgado em outubro de 2015 pelo Órgão Especial do Tribunal de Justiça (TJ) do Estado do Rio de Janeiro. No entanto, o relator, desembargador Fernando Foch, rejeitou a denúncia, reconheceu a prescrição em relação a João Peixoto e declinou da competência em relação aos demais acusados, por eles não terem mais, àquela altura, foro privilegiado.