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Casal de brasileiros dedica a vida às crianças no Camboja

Flávio e Quésede desenvolvem um trabalho missionário há dois anos nesse país marcado pela prostituição infantil

Campos
Por Redação
13 de agosto de 2018 - 14h18

Flávio, Quésede e Mariana (Foto: Silvana Rust)

Um país em que a prostituição infantil ocorre com a aprovação da própria família. Esse é o Camboja. A situação torna-se ainda mais degradante por se tratar de um lugar em que nem o poder público, nem o terceiro setor têm interesse em promover uma mudança desse triste status quo. Cabe, portanto, àqueles que abdicam de seus confortos — em nome de Deus e da solidariedade — a tarefa de atuar junto às vítimas do abuso e do descaso. Os missionários Flávio e Quésede são exemplos de pessoas que dedicam a vida aos cambojanos. Há dois anos eles saíram do Brasil com o propósito de enfrentar todo e qualquer obstáculo para ofertar carinho e cuidado às crianças desse país asiático.

Eles moram em uma casa alugada no Camboja e, nesse mesmo espaço, recebem 68 crianças, que têm entre 4 e 14 anos, diariamente. Lá, eles ministram aulas de inglês e oferecem alimentos nutritivos a esses meninos e meninas que, geralmente, comem apenas arroz uma ou duas vezes ao dia. Agora, essa missão, que já era desafiadora diante de todo o contexto social e cultural do país, será ainda mais: nas próximas semanas eles colocarão em prática o projeto intitulado Safe Home, em que 30 crianças serão abrigadas integralmente. Essas não têm para onde ir, uma vez que o núcleo familiar é mais do que desestabilizado. Nesse novo espaço, elas receberão alimento, roupas, educação e, principalmente, respeito.

Para dar esse passo, o casal conta com a ajuda de outras duas pessoas que, por acaso ou vontade de Deus, apareceram no caminho. Cambojanos que são atuantes na igreja cristã do local também terão um papel primordial nessa nova etapa do trabalho voluntário. O que eles precisam no momento é de recursos para manter os serviços. “Sabemos e já tivemos provas de que Deus move pessoas. Então estamos confiantes de que corações serão tocados e que esse trabalho vai acontecer e que essas crianças serão salvas”, disse Quésede.

O Camboja

Flávio e Quésede contam que, seja por falta de recursos ou até mesmo de informação, é comum os pais oferecerem as filhas, ainda crianças, a homens das mais variadas partes do mundo. É que o Camboja é internacionalmente conhecido pela promoção da pedofilia que, embora também seja considerada uma prática criminosa nesse lugar, os responsáveis pela fiscalização parecem fechar os olhos. Tanto que, naquele mesmo espaço em que durante o dia as crianças correm e brincam como qualquer outra, no período da noite acendem-se as luzes de neon e ali mesmo acontecem os abusos, que custam de 5 a 10 dólares.

Uma das razões para tamanha desestruturação humana e social foi o genocídio que aconteceu no país há menos de 40 anos. Na ocasião, 1/3 da população cambojana foi dizimada, entre eles os intelectuais, políticos, médicos, advogados e demais pensadores que eram os responsáveis pela emancipação do país. Hoje, o povo, principalmente os mais jovens, não tem sequer referências de boa conduta. E as consequências são trágicas.

O trabalho     

Sensibilizado, o casal, que já cresceu em um ambiente de solidariedade, decidiu viver para ela. “O diferencial do nosso trabalho para qualquer outro projeto social é Jesus. Não se trata apenas de uma ação de caridade porque nós somos motivados pelo amor de Deus. É por meio desse amor puro que ajudamos a essas pessoas e é também por meio dele que nos mantemos comprometidos diante das adversidades”, explicou Flávio.

O trabalho realizado no Camboja possui duas frentes fundamentais: o apoio à igreja local, porque apenas 2% da população do país são cristãos e a instituição evangélica foi implantada recentemente, ainda sem grande adesão; e as atividades junto às crianças. Durante as aulas de inglês, por exemplo, Flávio e Quésede aproveitam a oportunidade para conversar de maneira lúdica sobre os cuidados que devem ter com o corpo, de modo a alertar os pequenos sobre o que vem ocorrendo dentro de casa. “Não podemos falar diretamente, mas fazemos o possível para dar todo o apoio e carinho que eles tanto precisam”, disse Quésede.

Por que o Camboja?

Desde que decidiram ir para o Camboja, uma pergunta sempre é feita a Quésede e Flávio: por que o Camboja? Sabe-se que no Brasil há também lugares em que a pobreza é extrema e muitos outros em que a prostituição infantil é uma realidade. Contudo, o que se vê no continente asiático não se vê em parte alguma do nosso país.

“Aqui no Brasil, temos inúmeras associações sérias e atuantes voltadas às dificuldades dessas comunidades. Isso não acontece no Camboja. Além de esse ser um país extremamente pobre, em que é difícil ocorrer uma ajuda mútua, é também um país muito corrupto, muito mais do que Brasil. Lá, não há interesse em melhorar a vida da população, seja financeiramente ou mesmo culturalmente. Se nós não sairmos de nossas casas e realizarmos esse trabalho de doação, os cambojanos não têm ninguém. É diferente”, declarou Flávio.

Quésede alertou ainda quanto ao Disque 100 em que qualquer pessoa pode denunciar anonimamente casos de abuso infantil. “As pessoas precisam entender a necessidade de usar a voz que têm para coibir esse tipo de crime. No Camboja isso seria impossível. Aqui não. Então, que usemos a nossa democracia em favor de nossas crianças!”.

Visita a Campos

Flávio e Quésede vieram a Campos a convite da dentista e também missionária Mariana Estefan. Ela, que foi ao Camboja em 2017 pela primeira vez, conheceu o casal antes da viagem, quando a ida ao país asiático ainda era apenas um desejo profundo que morava em seu coração.

“Há mais de 10 anos conheci a história do Camboja e percebi que eu precisava ajudar esse povo de alguma maneira. No ano passado, uma amiga, que sabia desse meu chamado, me colocou em contato com missionários da instituição Nation Help que, por sua vez, me apresentaram, via WhatsApp, a Quésede e o Flávio. Trocamos algumas mensagens e, quando consegui ir ao Camboja, no ano passado, junto a outros campistas, ficamos hospedados na igreja deles e pudemos ver de perto esse lindo e comovente trabalho”, explicou Mariana.

Essa é a primeira vez que o casal sai do Camboja desde que decidiram viver por lá. O retorno deve acontecer nos próximos dias, quando o Safe Home será, de fato, implantado. As 30 crianças já foram selecionadas, a casa já foi alugada e, agora, eles aguardam o apoio.

Para conhecer mais sobre esse trabalho missionário, acesse as páginas nas redes sociais FACEBOOK e INSTAGRAM ou entre em contato pelo WhatsApp no número +85510231055.