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Estudo sobre traumas de Campos

Médicos do Hospital Ferreira Machado fazem o mapa de onde ocorrem na cidade espancamentos, acidentes, tiros e facadas

Campos
Por Thiago Gomes
24 de junho de 2018 - 0h01

Um recente estudo, com base nos mais de 36 mil atendimentos prestados pelo Hospital Ferreira Machado (HFM) entre janeiro e maio de 2018, fez um raio-X dos casos mais comuns que chegam à unidade e apontou em quais bairros eles ocorrem com maior frequência. Os pesquisadores também identificaram a faixa etária mais recorrente das vítimas. Segundo o levantamento, cerca de 18 mil pessoas deram entrada com algum tipo de trauma, o que representa 50% dos atendimentos. Destes, os mais habituais durante o período foram: acidentes de motociclista, acidente envolvendo ciclistas, pacientes com ferimento por arma de fogo, pacientes vítimas de agressão por arma branca e vítimas de agressão física.

O coordenador do levantamento intitulado “Análise Geoestatística da Incidência de Doenças Relacionadas ao Trauma nos Bairros do Município de Campos dos Goytacazes”, o médico Vilson Batista, que também é chefe do Setor de Cirurgia Geral do HFM, explicou que, como o trabalho tem o objetivo de nortear políticas públicas locais, apenas os atendimentos aos campistas foram considerados. “O georeferenciamento leva em conta o bairro onde o paciente mora, ou seja, a origem do problema”, esclareceu.

Em relação à faixa etária dos pacientes atendidos no setor de politrauma, os jovens de 20 a 29 anos foram responsáveis por 22% das ocorrências, seguidos de 17% das pessoas de 30 a 39 anos e de 14% de 40 a 49 anos.

Dos envolvidos em acidentes com motociclistas, a maioria pertencia ao bairro Jóquei Clube, com 19 procedimentos, seguido dos parques Aurora e Eldorado, ambos com 11. Já os acidentes envolvendo ciclistas, o bairro mais incidente foi o Parque Santa Rosa, com oito ocorrências, seguido do Jóquei, com sete. Sobre o fato de o Jóquei estar relacionado a dois tipos de traumas relacionados a trânsito, o médico justificou: “Trata-se de um bairro que liga duas rodovias, a RJ-126 (Campos-Farol) e a BR-356 (Campos-São João da Barra), o que pode estar relacionado à alta incidência de vítimas”.

Quando o assunto é trauma causado por arma de fogo, os parques Eldorado e Santa Rosa estão no topo da lista, respectivamente, com oito e quatro ocorrências. O total de pessoas baleadas na cidade e atendidas na unidade hospitalar entre maio e junho deste ano foi 43. Em relação às pessoas socorridas em decorrência de agressão, seja por arma branca ou lesão corporal, os bairros mais incidentes foram o Jóquei Clube seguido do parque Prazeres.

“Pela observação dos dados, tanto de vítimas de arma de fogo quanto aos de vítimas de agressões, seja por arma branca ou força corporal, verificamos que em ambos os casos, levando em consideração os 10 bairros mais incidentes de cada grupo, a maioria dos assistidos pertence a Guarus. Vale ressaltar que estes dados coincidem com a mancha criminal de Campos apresentada pela Polícia Militar”, destacou Vilson Batista.

Resultado do estudo (Arte: divulgação HFM)

Importância do estudo

O trauma mata mais que malária, AIDS e tuberculose juntas, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). O coordenador do levantamento esclarece que o trauma também é responsável pela maioria dos casos de sequelas permanentes, o que influencia diretamente a população economicamente ativa, que está incluída na faixa etária das vítimas mais frequentes.

“O objetivo do estudo é direcionar o poder público municipal em uma abordagem mais precisa e eficaz, sabendo do grande impacto que o trauma representa na faixa etária economicamente ativa e seu custo aos cofres públicos. Só para se ter uma ideia, no caso de um acidente de motocicleta, a prótese utilizada na reconstrução de um fêmur custa três vezes mais que o veículo. Isso sem contar os gastos com a internação. Então, é muito mais barato intervir onde os acidentes são frequentes”, pontuou Vilson Batista.

O estudo já foi apresentado ao Corpo de Bombeiros, à Guarda Civil Municipal, à Polícia Militar e ao Instituto Municipal de Trânsito e Transportes (IMTT).

“Um dos primeiros pontos de intervenção deve ser o Jóquei Clube, possivelmente já no próximo mês. Isso porque o local foi destaque em três dos pontos levantados pelo estudo (acidentes de moto e de bicicleta e agressão)”, adiantou Batista.

Pesquisa foi elaborada por cirurgiões (Arte: divulgação HFM)

Referência

O coordenador da pesquisa destaca que o Hospital Ferreira Machado é a única referência da região Norte Fluminense no cuidado a pacientes politraumatizados. A unidade socorre entre 5 mil e 6 mil pacientes por mês. No período de janeiro a maio de 2018 foram atendidos 36.016 pacientes, destes 11.051 de emergência e 24.965 de urgência. O setor de Politrauma foi responsável por 26% desses procedimentos, seguido do setor de Ortopedia e Traumatologia com 25% e Clínica Médica 18%.

Outro ponto destacado pelos pesquisadores é que mais de 50% dos atendimentos do HFM são realizados pelos setores de Politrauma, Ortopedia e Traumatologia, que estão diretamente ligados ao socorro às vítimas traumas. “Esse dado já era esperado devido ao perfil do HFM”, finalizou Vilson Batista.

Tabela de resultados (Arte: divulgação HFM)