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Gestores da empresa São Salvador deixam administração; população fica sem ônibus; e motoristas sem trabalho

Anúncio foi feito na segunda-feira. Motoristas estão em casa.

Campos
Por Redação
27 de fevereiro de 2018 - 10h41

paralizacao-empresa-de-onibus-sao-salvador-silvana-rust-37A população que depende do transporte público fornecido pela empresa São Salvador continua enfrentando dificuldades de locomoção. Isso porque a empresa, que vinha sendo administrada por novos gestores desde a morte do proprietário, José Renato Abdu Neme no dia 13 de fevereiro, está sem comando desde segunda (26). O anúncio oficial foi publicado no Portal do Transporte Coletivo Campos dos Goytacazes (TCCG).

Os gestores comunicaram a saída da empresa à um grupo de funcionários logo pela manhã de ontem. Eles afirmaram que haveria a possibilidade dos antigos administradores voltarem a comandar a empresa, mas a maioria dos funcionários se recusou a continuar trabalhando diante dessas condições incertas.

Com isso, cerca de 120 funcionários da São Salvador estão em casa e não sabem se vão receber os seis meses de salários atrasados, além do 13º salário do ano passado. Além do mais, a população da Baixada Campista, principal assistida pela empresa, está à mercê do transporte alternativo.

De acordo com um funcionário que preferiu não se identificar, os rodoviários da empresa ficaram surpresos com o comunicado da saída da nova administração. Esses administradores estariam alegando perseguição do IMTT. Ele contou ainda que a Prefeitura de Campos deu um prazo de 48 horas para a frota retornar às ruas, porém o Instituto Municipal de Trânsito e Transporte (IMTT) teria começado a apreender os veículos da empresa e, antes que todos os ônibus fossem apreendidos, os antigos administradores resolveram interromper os serviços.

Até o momento, ninguém da família Neme, responsável pela empresa, se manifestou.

A São Salvador atende as seguintes linhas da Baixada Campista: Farol, Saturnino Braga, Córrego Fundo, São Sebastião, Beira do Tai, Goitacazes, Bugalho e Donana. As linhas de Tocos, Ponta Grossa e São Martinho, que são responsabilidade da Turisguá, também estavam sendo atendidas pela São Salvador nas últimas semanas.

Confira abaixo a mensagem de um dos gestores comunicando sua saída da empresa:

Acredito que essa mensagem não representará a metade do meu sentimento de frustração, mas é impossível pegar um adolescente com vícios, costumes e manias, levar pra dentro de nossas casas e querer que essa pessoa se torne nosso reflexo no dia seguinte… mais ou menos assim também é uma empresa.

Uma empresa quem vem à beira do abismo, completamente sem fôlego, meses de salários dos funcionários atrasados, sem ferramentas de trabalho (eram apenas 6 carros), impostos que há anos deixam de ser recolhidos, FGTS sem ser depositado como deveria, um controle que não existia, funcionários que pegavam pneus no lixão frisava e passava para empresa por valores de recauchutados…

Confesso que falhei, falhei em não resistir ao risco, falhei acreditando que teria tempo, confiança e apoio suficiente para reverter a história da empresa de vocês. Não era impossível, fiz parte de uma intervenção de outra empresa adolescente com vícios, manias e mesmo diante a todas as dificuldades, lá deu certo, deu certo por um tempo é claro, pois uma intervenção tem data de início e término, mas deu certo porque lá houve cooperação e confiança.

Hoje venho pedir desculpas a quem de vocês colegas de trabalho motoristas, cobradores, despachantes, mecânicos, lavadores, que acham que de alguma forma errei.

Tínhamos uma receita infalível que era o trabalho a disposição de vencer todos os dias os empecilhos impostos do mal caráter do ser humano, das armadilhas largadas pelo caminho da fofoca e mentira.

Lutei, dei dias e noites longe de outros negócios, finais de semana longe da família, dinheiro e mais dinheiro, carros e mais carros, uns em troca de pneus outros para satisfazer o sonho de um dos sócios.

Acredito que até mesmo Deus precisa administrar a terra e suas criações, então não seríamos nós, meros mortais dentro de uma empresa de ônibus que conseguiríamos mudar a trajetórias uma falência com pouco tempo, falta de liberdade, contas e mais contas, e valores que por falta de governo e governantes se desequilibravam a toda hora contra nosso favor.

Mas venci ao ver todos acreditando que estávamos no caminho certo, venci quando via vocês colegas de trabalho com esperança nos olhos, venci quando depois de muito tempo recebemos salários por ter trabalhado o mês inteiro, venci quando via os 6 ônibus entrarem na garagem despedaçados e saírem 32 limpos, pintados, lanternados, pneus bons…

Até pensão alimentícia estava sendo paga ex-esposas e filhos, eram contas de luz, era um gás, uma dívida, era o nosso dia a dia, o mesmo dia a dia meu e do Alexandre que por diversas vezes com lágrimas nos olhos me pedia pra desistir daquela loucura e eu sabia que era um amigo dizendo a verdade, mas eu mesmo sabendo do erro continuava porque tinha comida no meu prato e uma casa pra dormir e muitos de vocês nem isso tinham mais e continuavam chagando as 3:40 pra trabalhar.

Quem era eu pra desistir, se vocês ainda estavam ali…

Durmo e acordo com minha cabeça tranquila, pois fiz o que eu pude!

Assim me despeço com um até breve, pois essa cidade ainda não me venceu e está longe de isso acontecer!

João.