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Milagres de Natal: o poder do verdadeiro amor

Conheça histórias inspiradoras de campistas que mudaram o rumo de suas vidas

Campos
Por Redação
25 de dezembro de 2016 - 21h00
Neste Natal, Maitê comemora 3 anos ao lado do seus pais do coração (Foto: Carlos Grevi)

Neste Natal, Maitê comemora 3 anos ao lado do seus pais do coração (Foto: Carlos Grevi)

Ninguém que já viveu mais de 10 Natais acredita em Papai Noel, no entanto, ainda são muitos os que preservam a fé de que milagres acontecem nesse período natalino. A menina moçambicana, Maitê, de 5 anos, é fruto dessa esperança. Ela foi resgatada por um casal campista dos escombros de um país abaixo da linha da pobreza e, ontem, véspera de Natal, completou três anos ao lado da sua família do coração. De Moçambique ao México, outra Campista, Marina de Menezes, também foi tocada pela energia que emana nesta época do ano. Após 10 meses impedida de ver os dois filhos, ela conseguiu na Justiça o direito de comemorar o Natal junto a eles, como confiava que aconteceria. Enquanto isso, João Fernandes, no alto dos seus 100 anos, acredita tanto na força dessa data que a escolheu para marcar o amor que sente pela esposa: neste 25 de dezembro eles comemoram 71 anos de casados e também 71 Natais na companhia um do outro. Mas a verdade é que, para que os milagres aconteçam na vida das pessoas, é preciso também que haja compaixão, e disso Fátima Castro entende muito bem. Há 35 anos ela criou a Casa Irmãos da Solidariedade para transformar o Natal e outros dias do ano daqueles que precisam de um milagre. E, para quem tem crianças especiais, a criação da Apape há 17 anos, por um grupo de mães, foi outra prova de que o amor ao próximo nunca poderá morrer.

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Maitê na África, antes da adoção (Foto: Arquivo Pessoal)

Quem gosta de histórias inspiradoras, precisa conhecer o relato da família Vivaqua. Há cerca de três anos, Emerson e Lúcia decidiram que deveriam consolidar o amor aumentando a família. Ambos já tinham filhos de casamentos anteriores, mas o desejo de criar uma criança juntos era forte demais para ser esquecido. O que aconteceu após o surgimento dessa vontade é o que eles chamam de “milagre divino”: certo dia viram nas redes sociais a foto de uma menina moçambicana chamada Fátima que perdeu a mãe logo após o nascimento e foi abandonada pelo pai. Aos dois anos, morava sozinha em uma casa e, para se alimentar, dependia da caridade de missionários da obra Jovens com Uma Missão (Jocum), ligada à Religião Protestante. Como membros da 2ª Igreja Batista de Campos, eles receberam a foto da menina com um pedido de orações e, segundo o casal, foram “tocados por Deus”.

“Em um domingo, a minha filha, Maria, disse que havia encontrado a menina que iríamos adotar. Quando ela me mostrou a foto, a primeira coisa que eu disse foi que eu e Lúcia não éramos Angelina Jolie e Brad Pitti e que não era possível sair do Brasil para adotar uma criança na África. Se a burocracia já é grande aqui no nosso país, imagina uma adoção em âmbito internacional? Mas a partir daí, a família inteira não conseguiu esquecer o rostinho da então Fátima. “Eu disse para minha filha que, se a Fátima viesse para o Brasil, ela seria minha”. E foi assim que a nossa peregrinação começou”, contou Emerson.

A partir dessa conversa com a filha, Emerson e Lúcia decidiram que ao menos tentariam trazer a menina para o Brasil. O primeiro passo foi contratar uma babá para cuidar de Fátima na província de Chimoio, onde até então ela vivia sozinha. Em seguida, entraram em contato com a presidência da Jocum em Moçambique e, por uma obra do acaso (ou de Deus), o casal responsável pelo projeto no país era campista. Outra “coincidência” encontrada nesse caminho foi totalmente inesperada: o sócio de Emerson, no escritório de advocacia onde trabalha, é amigo de Branco, ex-jogador do Americano e que também já jogou na capital de Moçambique, Maputo. Branco conseguiu o contato de uma mulher, Claudete, que conhecia o local onde estava Fátima e se disponibilizou a cuidar dela.

“Nós queríamos muito adotá-la e pensávamos que esse era um sonho distante, porém, percebemos que havia providência divina nessa história quando encontramos muitas portas abertas. Isso deu muita esperança aos meus filhos e à minha esposa, que começaram a comprar roupinhas e chupetas para Maitê, que até então era Fátima. Essa ansiedade me preocupou um pouco, mas decidi deixar na mão de Deus”, declarou Emerson.

Em Moçambique, Claudete encontrou o juiz da província de Chimoio que começou a “mexer os pauzinhos” para agilizar os trâmites para a adoção. Enquanto isso, Emerson e Lúcia entraram com o processo aqui no Brasil a fim de serem reconhecidos como aptos para adotar. Em média, esse processo dura cerca de dois anos, mas o casal campista precisou de apenas 17 dias para conseguir os papeis na Justiça brasileira. “Não foi necessário pedir nada a ninguém. Deus, em orações, nos disse que usaria pessoas humildes, sem influência, e que por meio dessas pessoas nós chegaríamos até a nossa filha. Assistentes sociais, psicólogos e outros profissionais conheceram a nossa história, se emocionaram e colocaram o processo para andar”, explicou.

Mas a maior luta era contra o tempo: na cultura moçambicana, quando uma menina completa três anos , ela é “desvirginada”, e as condições de saúde de Fátima também não eram boas. Após muitas orações, o casal conseguiu tirar o visto na Polícia Federal e encaminhou toda a documentação necessária para a adoção pelos Correios. Em novembro de 2013, três meses após verem a foto de Fátima pela primeira vez, Emerson e Lúcia conseguiram doações de várias igrejas de Campos e região para custear as despesas com as passagens aéreas e foram para a África. Na ocasião, eles não sabiam as reais dificuldades que seriam encontradas no continente africano.

África
O primeiro empecilho foi o voo, que fazia escala na Etiópia. Eles precisaram dormir nesse país antes de seguir para Moçambique, mas o que não esperavam era que perderiam as passagens. “Ficamos desesperados porque não entendemos o propósito disso. Estávamos perdidos em um país desconhecido, miserável e não falávamos inglês. Até que os funcionários da companhia aérea entendessem que queríamos outras passagens, levamos horas. Mas eu disse para Lúcia que isso tinha acontecido por alguma razão, mesmo que não parecesse clara naquele momento”, disse.

E assim foi: eles tinham o visto de um mês em Moçambique e aquelas 24h perdidas com atraso ocasionado pela perda do voo na Etiópia, foi essencial para que eles conseguissem concluir o processo de adoção e sair do país antes que o visto fosse vencido. “Caso tivéssemos chegado a Maputo no dia previsto, não conseguiríamos levar a Maitê. Além disso, o nosso plano era ficar apenas 10 dias na África, mas ficamos 30. E o mais curioso é que chegamos ao Brasil com a nossa filha no dia 24 de dezembro. A data não foi planejada, mas não poderia ter sido mais perfeita!”, lembrou Emerson.

Durante esses 30 dias em Moçambique, o casal precisou derrubar muitas barreiras: a adoção foi questionada pela Justiça moçambicana; os juízes não conheciam a mesma legislação que eles; a menina não tinha sequer um documento e também não tinha sido vacinada; o Cônsul da embaixada brasileira em Moçambique não queria atendê-los; os funcionários da embaixada já estavam em recesso do fim de ano; e o processo simplesmente não fluía. “O meu medo era precisar deixá-la na África depois de conhecê-la. Minha família estava cheia de expectativas, assim com os membros das igrejas que tanto nos ajudaram. Eu não conseguiria fazer isso e foi nesse momento que entrei em um propósito com Deus. Jejuei por 44h pela vida da Maitê e pedi para que nós fôssemos usados para salvá-la daquela situação em que vivia. E foi nos acréscimos do segundo tempo que conseguimos tirar a documentação dela, registrá-la como Maitê, aplicar as vacinas e sair de Moçambique no limite do visto”, contou.

Na África, eles também conheceram a verdadeira história da Maitê. “Soubemos que o pai até tentou leva-la para viver com a nova família, mas a madrasta teria tentado matá-la inúmeras vezes dando remédios de sarna para ela tomar e queimando suas roupas. O pai teria levado a menina para morar com a sua irmã, mas o estado de saúde de Maitê era tão grave que a irmã preferiu não se envolver. Ela vivia como um cachorro leproso, mas sob os cuidados de Deus. Hoje, quem conhece a nossa menina não imagina que ela já passou por todas essas provações. Antes, ela parecia uma criança vietnamita na Guerra. Agora ela é forte, esperta e muito linda”, comemorou Emerson.

Vida nova

Antes e depois de Maitê (Foto: Arquivo Pessoal)

Antes e depois de Maitê (Foto: Arquivo Pessoal)

Emerson contou que muitas pessoas acharam que ele e Lúcia eram “malucos” por adotarem uma menina africana ao invés de alguma das muitas crianças carentes do Brasil, mas, segundo ele, nada foi planejado. “Deus apontou para nós a criança que ele queria que fosse nossa, porque se tivéssemos escolhido, com certeza optaríamos pelo caminho mais fácil. Mas Maitê precisava ser resgatada e nós fomos usados para isso”, explicou. O preconceito também foi e ainda tem sido um problema. O fato do casal ter a pele branca e a menina ser negra, chama a atenção. “Muitos ficam olhando e outros chegam perto querendo conhecer nossa história, mas tentamos enxergar isso da melhor maneira. Existe a crítica, mas também ajudamos a disseminar o espírito da adoção”, afirmou.

Após viver toda essa história, hoje Emerson dá testemunhos em igrejas e, de acordo com ele, no último, Maitê parecia ter prestado muita atenção. “Ela está com 5 anos e já entende a história. Sabe que veio de Moçambique e que nós somos a família do coraçãozinho dela”, disse. Emerson contou ainda que, no início, chegaram a cogitar a possibilidade de Maitê ter alguma sequela devido a tudo que passou, mas não foi o que aconteceu. “Ela é inteligentíssima, grava letras de músicas como ninguém, tem facilidade para aprender inglês na escola, além de ter a personalidade forte. Não é porque é minha filha, mas ela é a criança mais linda que Jesus poderia ter feito”.

Neste Natal, Maitê é a mais animada da casa, disse Emerson. “Ela é uma africana nata. Adora cores e festas e está muito feliz! Esse é o nosso terceiro Natal juntos e agora ela já compreende a importância dessa data. Não somente pelo nascimento de Jesus, mas principalmente pelo renascimento dela!”, declarou o pai.

marina

Marina e os filhos (Foto: Arquivo Pessoal)

México
Para outra família, o Natal deste ano também será especial. Na última semana, a campista Marina de Menezes, que mora no México há cerca de nove anos, conseguiu rever os filhos após 10 meses de sofrimento. As crianças, de 6 e 3 anos, foram levadas pelo pai para a Cidade do México, a cerca de 400km de onde moravam, sem a autorização de Marina. Eles tinham a guarda compartilhada dos filhos desde a separação, mas ele não teria respeitado a decisão judicial. A partir desse episódio, a luta de Marina foi diária. Ela procurou a Justiça mexicana, mas não obtinha ajuda devido ao fato de ser estrangeira. A solução foi divulgar sua história nas redes sociais e entrar em contato com a Embaixada brasileira no México, torcendo para que alguém se sensibilizasse.

Marina foi casada por sete anos com o pai dos seus filhos, mas nos dois últimos passou a sofrer violência doméstica. Foi quando decidiu pedir o divórcio, que não foi aceito pelo ex-marido. Antes de assinar os papeis referentes à separação, ele fugiu com as crianças e não permitiu que elas mantivessem contato com Marina, com o amparo da Justiça mexicana. Após muito lutar para que os seus direitos de mãe fossem respeitados, ela conseguiu o reconhecimento da jurisdição de Tijuana, cidade onde mora, do delito de subtração de menores pelo Tribunal Superior do México. Em cumprimento a uma ordem federal, a juíza responsável pelo caso entregou as crianças à mãe no dia 16 de dezembro.

Na esfera penal, ainda resta que a Justiça avalie quatro denúncias contra o pai das crianças referentes à violência doméstica, subtração de menores, retenção e privação de liberdade. Essas denúncias devem ser fundamentais para a decisão judicial a respeito da guarda e custódia dos filhos de Marina. “Essa ainda é uma decisão provisória. A guarda dos meus filhos ainda é compartilhada, mas eles ficarão ao meu lado até a decisão definitiva do processo que só deve ocorrer após o recesso do judiciário. Mas a verdade é que, tendo meus filhos comigo, tudo fica tudo mais fácil”, comemora Marina.

Para a mãe, o Natal deste ano tem cheiro de vitória. “Eu tive a prova de que, quando a gente quer de verdade, a gente consegue fazer milagres. Eu só tenho a agradecer a todas as pessoas que me apoiaram nesse processo e que mandaram energias positivas. Eu ainda estou anestesiada e me sinto em um campo de guerra, mas estou muito feliz em poder abrir o olhos e me deparar com meus filhos lindos ao meu lado, de onde nunca deveriam ter saído”, concluiu.

Bom Velhinho

por Taysa Assis

De bom velhinho, João Fernandes de Souza tem bastante coisa. Ele nasceu em 4 de outubro de 1916 e desde a infância aprendeu com o pai dele o verdadeiro sentido do Natal. Como 25 de dezembro é uma data importante, seu João resolveu pedir a mão de sua mulher, Maria da Penha Campos Fernandes nesse dia. E no próximo domingo comemoram 71 anos de casamento.

O casal se conheceu em 1938, na Praça São Salvador. Eles pegaram o bonde juntos e, a partir daí, passaram a se encontrar. No mesmo ano se casaram.

Após cinco anos de casados, em 1943, ele foi convocado para a Segunda Guerra Mundial. Logo ele voltou para Campos e desde então permanecem na cidade. Atualmente, seu João, que sempre gostou de ler, não enxerga muito bem. Mas, o amor fala sempre mais alto, e até hoje Maria da Penha lê jornais e revistas para ele.

Com cinco filhos, treze netos e seis bisnetos, João faz questão que, no Natal, todos se reúnam na casa dele. Não podem faltar, nesta data tão especial, comida boa, presentes e muita diversão. E é com toda essa alegria que o casal ainda esperar passar por muitos natais juntos.

Casa Irmãos da Solidariedade

por Aloysio Balbi

Há mais de 35 anos a assistente social Fátima Castro, viu uma doença abreviar a vida de muitos. Era a época do HIV, que continua roubando o Natal de muita gente, encurtando vidas. Fátima, que mantém em Campos uma das mais respeitadas casas de apoio aos soropositivos, é dona de uma história de vida que contracena com a morte.

Já perdeu a conta de quantos óbitos assistiu. Embora não seja portadora do vírus, em um primeiro momento espalharam que sim e ela sentiu na pele a dor do preconceito. Fátima é um desses exemplos de que ilustram bem o espírito de Natal.

Para ela, o Natal tem que ser todos os dias, porque todos os dias é preciso lutar para que as vidas que ela e sua equipe cuidam, não venham a se encontrar com o fatal. Hoje tem almoço na Casa Irmãos da Solidariedade, em Guarus, e com gosto de ceia natalina, como não poderia deixar de ser.
Fátima diz que sua missão é essa. Com toda certeza se não fosse ela, as condições de atendimento aos portadores do HIV em Campos seriam bem precárias. E ela sabe que, mesmo passadas mais de três décadas, ainda há muito o que fazer.

“A Aids continua crescendo principalmente entre os jovens. Não se fala muito em Natal solidário? Não foi de graça que colocamos o nome da nossa instituição de Casa Irmãos da Solidariedade e aqui todos são solidários, nunca solitários, somos todos irmãos dividindo a mesma casa, a mesma dor, a mesma alegria”, disse a assistente social.

Se você teve uma ceia farta ontem, que resultou em porções generosas que os convidados e a família não consumiram, pense em visitar esses irmãos levando alguma coisa. Assim como o amor, afirma Fátima Castro, a solidariedade é um dos sentimentos que melhor ilustra o espírito natalino.

Apape

por Mariane Pessanha

Há 17 anos um grupo formado por cinco mães de crianças com necessidades especiais criou a Associação de Pais de Pessoas Especiais do Norte e Noroeste -RJ (Apape). No início, Regina Célia, Elenice, Rosildes e Jane, enfrentaram dificuldades como, por exemplo, atender em uma varanda. A associação ainda não tinha uma sede para que o projeto pudesse ser desenvolvido de forma plena. Mas, elas logo contaram com uma ajuda especial: O empresário Herbert Sidney Neves doou, em sistema de comodato, uma casa para que a associação pudesse funcionar.

No início, o trabalhou começou a ser feito com 30 famílias, hoje, são 240 em uma sede maior, localizada na Rua Saldanha Marinho. Todas contam com atendimento de assistentes sociais, psicólogos, pedagogos, terapeutas ocupacionais, além de outros profissionais como médicos, fonoaudiólogos, enfermeiros e ainda assessoria jurídica. De acordo com a presidente da Apape Naira Peçanha, a associação trabalha na contramão do abrigamento.

— A gente trabalha a família como um todo para que ela possa aprender a cuidar, amar e acolher a pessoa portadora de deficiência e entenda que ela pode superar seus limites. Quando a família descobre isso consegue cuidar com mais independência e, com certeza, vai evitar que no futuro essa pessoa precise de uma internação em um hospital psiquiátrico, ou coisa parecida. É menos uma despesa para o poder público e mais acolhimento para a família — complementou Naira