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A violência nas escolas e as açoitadas em São Conrado – Tiago Abud

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Artigo
Por Redação
30 de abril de 2023 - 0h01
(Foto: Ilustração)

Os cronistas do tempo presente não têm tido vida fácil. Escrever sobre a vida cotidiana tem sido fonte geradora de melancolia, porque as crônicas desembocam na única constatação possível, a de que falhamos enquanto seres humanos e como humanidade.

Quando a pandemia bateu à nossa porta, os otimistas diziam (aí me incluo) que sairíamos mais fortes da crise e viveríamos melhores, partindo da premissa que reconheceríamos nossas limitações, a necessidade de valorizar os momentos mais singelos da vida e do convívio com as pessoas, que o vírus nos privou. Erramos todos que pensamos assim.

A pandemia recrudesceu o que há de pior em nós. Trancafiados em nossas casas, fomos jogados ao mundo virtual como única saída para as relações de trabalho e de socialização. Estar na pandemia e sem conexão com a rede significava mais que o isolamento, mas a morte social.

Whatsapp, Tiktok, Instagram, Facebook, web, deep web, dark web. Familiarizamo-nos com esses termos, que invadiram as nossas vidas. Aí está o problema. A vida real foi substituída pela vida virtual e potencializamos, com a covardia da proteção das telas, nossos piores sentimentos. Passamos a frequentar grupos exclusivos de pessoas que pensam como nós, em busca de curtidas, lacrações e para evitar cancelamentos. O resultado disso é que o ódio ao diferente aflorou.

Os episódios de violência nas escolas têm a ver com um pouco de tudo isso, aliada à incapacidade de diálogo das famílias e das escolas, que passaram – de um tempo para cá e mesmo antes do mundo pandêmico – a não serem mais ambientes de acolhimento e de respeito, sobretudo às diferenças. Se todas essas novidades já endoidam os adultos, imaginemos o terreno fértil encontrado nos corações e mentes de crianças e adolescentes, seres em (de)formação, que qual esponjas, absorvem, sabe-se lá como, o lixo consumido nas redes. É preciso regular e limitar o conteúdo que se produz no mundo virtual e o que crianças e jovens têm acesso, mas confesso que não tenho conseguido fazer o dever de casa, porque pareço contrariar a convenção mundial, a despeito dos criadores dessas drogas não as indicarem aos seus filhos.

Some-se a isso a formação social brasileira, forjada na escravidão, no mandonismo, no patrimonialismo e no racismo. Episódios como a surra dada em um entregador por uma moradora de São Conrado passam a dar as mãos aos ataques às escolas. Como canta Nando Reis, “são milhões de vasos sem nenhuma flor, milhões de frases sem nenhuma cor, o mundo está ao contrário e ninguém reparou”.

Tiago Abud – Articulista e Defensor Público

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