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Mitos e verdades sobre a obesidade

A doença é uma condição crônica e grave, principalmente quando está relacionada o novo coronavírus

Saúde
Por Redação
1 de novembro de 2020 - 15h58

Diante dos dados apresentados recentemente na Pesquisa Nacional de Saúde, levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em conjunto com o Ministério da Saúde, que confirmam o aumento da prevalência da obesidade no Brasil, é preciso abordar a gravidade desta doença. Foi constatado que 96 milhões de pessoas, ou, mais especificamente, 60,3% da população adulta do país está classificada com excesso de peso. As mulheres são maioria (62,6%), enquanto os homens alcançam a marca dos 57,5%. Diante de informações tão alarmantes de uma realidade mundial que também se reflete em território brasileiro, deve-se frisar as consequências perigosas deste problema e principalmente a relação com a Covid-19.

A endocrinologista, Dra. Patrícia Peixoto, detalha quais são os principais mitos relacionados à obesidade. A primeira informação verdadeira é que o aumento excessivo de peso é sim uma doença e precisa ser tratada como tal. “A obesidade de fato é cercada por uma série de mitos e também de fake news. Escuto muito dentro e fora do consultório que é um problema fácil de resolver. A obesidade é por si só uma doença crônica. Muitas vezes as pessoas não acreditam que a condição de aumento de gordura corporal leva a alterações no organismo que configuram uma doença, principalmente por conta de haver um processo inflamatório. E na verdade sendo uma doença, o tratamento da obesidade é sim difícil que requer todo um cuidado”, explica.

Drª. Patrícia Peixoto, endocrinologista (Foto: Silvana Rust/Arquivo)

Tratamento individualizado
Segundo a especialista, é muito perigoso tratar o tratamento para a obesidade como se fosse uma receita que pode ser aplicada em todos os pacientes. “No atendimento, antes de tudo é preciso avaliar o histórico do paciente, pois cada pessoa é única. É avaliado se começou a ganhar peso na idade adulta ou então depois que entrou na menopausa, no caso da mulher, e diferenciar daquela pessoa que já tem um histórico de obesidade desde a infância ou adolescência. Existem diversos fatores que temos levar em consideração antes de pensar no tratamento”, ressaltar.

Obesidade e coronavírus
Não é mito que a obesidade interfere sim na questão da Covid-19. A médica relata que pessoas obesas que contraem o vírus, sem outras doenças atreladas, as chamadas de comorbidades, podem sim, na maioria das vezes, evoluir de forma ruim e acabar morrendo. “Isso de fato é verdade. A obesidade traz consigo esse processo inflamatório. Existem estudos que mostram que o novo coronavírus é capaz de se reproduzir e se alojar no tecido adiposo, na gordura, e isso faria com que houvesse aqueles quadros mais graves. Além disso, existem pacientes que não são tão obesos e possuem um risco muito grande. A gente utiliza o Índice de Massa Corporal, que é o critério de peso com a altura ao quadrado, mas a gente vê também que a forma com que essa distribuição de gordura excessiva no corpo varia em cada pessoa e como ela se manifesta de formas diferentes. Às vezes quando vamos calcular o IMC, existem pacientes que não ficam classificados com obesidade e sim com sobrepeso, mas quando fazemos a avaliação da circunferência abdominal, ela está aumentada e isso é um risco, porque significa que há um aumento de gordura visceral, que é a gordura inflamatória. Por isso que uma pessoa que não tem o IMC de obesidade, mas tem essa gordura visceral aumentada pode também ter essa evolução pior da Covid-19”, revela.

É fácil emagrecer?
Outro mito é achar que o processo de emagrecimento é fácil. Na verdade, segundo Dra. Patrícia, ao notar as mudanças, o organismo trava uma verdadeira guerra contra essas condições, na tentativa de impedir a perda de peso. “Emagrecer não é fácil, inclusive, escuto muito dos pacientes novos que é ‘preciso avaliar o que está acontecendo’ porque ele não consegue emagrecer e não é bem assim. O metabolismo depende de uma série de fatores e não é algo que conseguimos mensurar de forma simples. O que acontece é que por conta da ideia de que emagrecer é fácil, uma pessoa que começa a fazer algumas mudanças e não vê resultado, ela já imagina que tem alguma coisa errada. Quando o paciente está obeso, ele passa a ter alterações crônicas no organismo e que vão fazer com que o seu corpo defenda aquele peso em excesso. Logo, toda vez que essa pessoa começa algum tratamento, seja reeducação alimentar, exercícios físicos ou qualquer coisa com o objetivo de perder peso, o organismo interpreta aquilo como algo fora do natural e tende a fazer com que haja uma recuperação do peso, por isso que a fome aumenta, o gasto calórico e o metabolismo diminuem. São vários mecanismos que o organismo vai fazendo para recuperar o peso e por isso emagrecer não é tão fácil quanto se imagina”, garante.

Jejum intermitente
Outro mito é achar que jejum intermitente funciona para todas as pessoas. “Sabemos que frequentemente surge uma estratégia nutricional diferente, porém para o emagrecimento é necessário que haja uma diminuição da ingestão calórica e o jejum intermitente não se mostra superior em relação às outras abordagens nutricionais. O que vai funcionar, caso a pessoa faça jejum intermitente e de fato emagreça, é que ela – no período que comer – vai estar ingerindo menos calorias. Se não for por isso, não temos porque imaginar que o jejum é melhor. Ele tem que ser muito bem avaliado, porque nem todo mundo consegue se adaptar bem”, pontua a endocrinologista.