Por Aloysio Balbi
Os guardas civis municipais Uenderson de Souza Mattos e Genessi José Maria Filho, além de Jonathan Bernardo Lima, acusados de participarem do assassinado de Patrícia Manhães Gonçalves, analista judiciária, em 2016 – crime que chocou Campos – serão julgados no próximo dia 20 de junho, em Campos. O advogado de Uenderson, pediu o desafloramento do processo, ou seja, que o julgamento fosse em outra Comarca, mas o juiz da 1ª Vara Criminal de Campos, Bruno Rodrigues Pinto, indeferiu o pedido; o que significa que o julgamento será na cidade, no tribunal de júri popular.
Uenderson era marido da vítima e, de acordo com o processo, teria encomendado o crime a Genessi que contratou Jonathan para a execução. O motivo do assassinato ainda é um mistério, já que eles negam envolvimento no crime, mas a Polícia Civil acredita em execução motivada por interesse na herança financeira da vítima.
No dia 23 de janeiro de 2017, aconteceu uma audiência de instrução e julgamento no Fórum. Os suspeitos são réus por homicídio triplamente qualificado e estão presos desde maio de 2016.
Depoimento de Uenderson na audiência de Instrução e Julgamento
O guarda municipal contou em detalhes a versão dele para o fato. Segundo Uenderson, no dia 13 de abril de 2016, ele estava de férias e acordou com uma mensagem de Genessi pedindo R$ 150 para fazer manutenção em um carro. O marido de Patrícia teria, então, combinado de entregar a quantia nas mãos de Genessi ainda na manhã daquela quinta-feira, na BR-101 próximo à sede da Guarda Ambiental, onde Genessi trabalhava. O local foi escolhido porque Uenderson iria para um velório da irmã da sua cunhada em Travessão.
Ainda de acordo com o guarda, após o velório, por volta das 18h, ele e Patrícia teriam parado o carro, um Spin na cor preta, na sede da Guarda Ambiental, em Guarus, onde Uenderson iria mostrar uma “pipa de pescaria” a um colega de trabalho porque ambos iriam pescar no final de semana. Ele contou que queria mostrar a pipa por uma das janelas da Guarda para poupar tempo, mas não conseguiu falar com o colega por ali. Segundo Uenderson, ele deixou Patrícia no carro para entrar no órgão e foi nesse momento que o crime teria acontecido.
O guarda disse que levou, no máximo, 15 minutos dentro da sede da Guarda e que ouviu os disparos de lá de dentro. Ele teria corrido para socorrer a mulher, mas a encontrou com a cabeça caída no painel do veículo e o celular dela estava aceso. O juiz questionou se Uenderson sabia que a área era considerada perigosa, mas ele alegou que não tinha esse conhecimento e que, inclusive, chegou a dormir no carro quando trabalhou ali.
Uenderson acrescentou que havia R$ 1.500 dentro do carro, valor esse que seria utilizado para quitar o IPVA no dia seguinte ao crime. Ele disse que os supostos assassinos teriam levado o dinheiro antes de atirar em Patrícia. A promotora do caso, Ludmila Rodrigues, perguntou se ele tinha o costume de deixar uma grande quantidade de dinheiro dentro do carro e ele negou que R$ 1.500 fosse uma alta quantia.
A promotora também perguntou o motivo de Uenderson não ter convidado a esposa para entrar na sede da Guarda e ele respondeu que “ele respeitava o trabalho dela e ela respeitava o trabalho dele”. Ela questionou ainda de onde e há quanto tempo ele conhecia Genessi e o guarda disse que “se conheceram na Guarda há mais de 10 anos” mas que “não eram amigos próximos”; quanto à Jonathan, ele afirmou nunca ter visto.
Quando foi questionado se sabia que Genessi já havia cometido um assassinato no passado, Uenderson confessou “ter ouvido falar”, mas que não sabia detalhes. A promotora disse que constava nos autos do processo que Uenderson teria telefonado para Genessi pedindo para que ele “fizesse um serviço”. Sobre o assunto, o guarda contou que uma pessoa teria o desacatado e o ameaçado quando ele estava fardado e que “ficou com raiva”. Ele também acrescentou que se envolveu com uma mulher casada e tinha medo de o marido “fazer algo contra ele”. A promotora perguntou se ele tinha intenção de cometer um assassinato e ele alegou que “só procurou saber o que poderia ser feito para se defender, mas que a raiva passou”.
Sobre os dois filhos do casal, de 8 e 4 anos, Uenderson afirmou que tem uma “ótima relação” com ambos. Ludmila falou que a empregada doméstica que trabalhava na residência dos dois disse em depoimento que, após a morte de Patrícia, as crianças estavam em “situação de penúria alimentar” e que, antes do crime, o guarda já teria trancado o filho mais novo dentro do carro. Nesse momento, Uenderson chorou e disse que o que a mulher disse era “um absurdo”. Segundo o guarda, as crianças “sempre foram bem tratadas” e que, depois da morte da mãe, era ele quem “providenciava tudo dentro de casa”. Quanto ao relacionamento com Patrícia, o guarda se limitou a dizer que era “bom”, que se envolveu com outra mulher porque “não conhecia a palavra de Deus” e que “nunca fez ignorância com ela”.
Ainda de acordo com a promotora, a empregada doméstica teria contado que, depois da morte da esposa, ele teria utilizado o telefone dela e de outros conhecidos para efetuar ligações. A justificativa do guarda foi de que o delegado teria “vasculhado” o telefone dele e que usou outros aparelhos porque tinha medo de descobrirem o seu caso extraconjugal. Questionado se Patrícia poderia ter inimigos ou até mesmo um amante, Uenderson disse que “a princípio não” e que “confiava na esposa”.