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Contrarrevolução no Brasil é tema de livro lançado na Uenf

Um debate com o autor e pesquisadores sobre o assunto acontece no auditório Centro de Ciências do Homem (CCH)

Cultura
Por Ocinei Trindade
3 de outubro de 2018 - 12h17

Ricardo Shiota é cientista social e autor da obra lançada em Campos (Foto: Reprodução)

Pensar sobre o Brasil e sua história faz parte da pauta permanente dos historiadores e pesquisadores em geral. No próximo dia 9, às 18h45, acontece na Universidade Estadual do Norte Fluminense, o lançamento da obra  “Brasil: terra da contrarrevolução – revolução brasileira e classes dominantes no pensamento político e sociológico”(Appris, 2018). O autor do livro é o cientista social paulista Ricardo Ramos Shiota, pós-graduado em sociologia pela Unicamp.

Além da noite de autógrafos, um debate será realizado com os professores Ricardo Nóbrega, Roberto Dutra e Luciane Soares. “É uma grande alegria e imensa felicidade poder lançar meu livro e debater com colegas na universidade que Darcy Ribeiro criou”, diz Shiota que concedeu a seguinte entrevista:

 

Do que trata esta obra?

O livro trata do Brasil republicano com recorte temporal de 1889 a 1966.

A que público se destina seu livro?

O livro resulta de uma tese de doutorado defendida no Programa de Pós-graduação em Sociologia da Unicamp. Mas foi escrito para o grande público.

Além do público acadêmico, outros leitores podem ser auxiliados a pensar o Brasil por meio desse livro?

A intenção, não sei até que ponto consegui alcançá-la, foi escrever de modo simples e objetivo, de modo que qualquer pessoa alfabetizada possa ler e conhecer um pouco sobre a nossa forma social. Nesse ponto me inspirei em Nelson Werneck Sodré e Álvaro Vieira Pinto que, em suas obras, ensinam o quanto a escrita tem um conteúdo político, no sentido de que é preciso quebrar as barreiras linguísticas que separam a universidade do grande público, se quisermos ser lidos para além de nossos pares.

Capa do livro lançado pela editora Appris (Reprodução)

O que considera contrarrevolução brasileira?

Essa foi a conclusão do livro, com base nas fontes utilizadas, que cheguei após cinco anos de pesquisa. Trata-se de uma tendência histórica que tem se manifestado nos grandes momentos da vida nacional como em 1822, 1888, 1889, 1930, 1937, 1964, 1968 e que se aplica também a 1984-1988 e a 2016. Neles se verificam opções históricas que, em virtude da não ruptura com os fundamentos políticos e econômicos da dominação externa e interna, esses momentos decisivos foram esvaziados nas suas potencialidades de construir uma nação que atenda aos interesses da maioria da população e que abra as portas  da política, para uma participação muito além do simples voto nesse ou naquele candidato para as esferas representativas a cada dois anos.

Além disso, quando olhamos para os movimentos armados e golpes que talharam nossa vida republicana (até 1964 foram 32), eles reproduzem esse padrão de não contemplar os interesses da maioria da população. Canudos tem sido o grande exemplo dessa tendência das classes dominantes brasileiras, que usam   todos os expedientes e as Forças Armadas, para conservar privilégios, como neste caso a questão da terra e dos grandes domínios agrários. Hoje, essa contrarrevolução se coloca mediante o que Florestan Fernandes chamou de dupla articulação: a segregação social interna articulada com a dominação externa do capital financeiro e monopolista; modo pelo qual nosso capitalismo se reproduz, com base na produção social da marginalização e da superexploração do trabalho.

Essa ideia de contrarrevolução sinaliza um profundo desequilíbrio das forças políticas, pensadas em termos das classes sociais, resultante das desigualdades que criam um conflito da sociedade consigo mesma.