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Quando o medo não é passageiro

Insegurança ronda os taxistas há anos, mas ultimamente a rotina de violência tem deixado motoristas apreensivos até durante o dia

Campos
Por Thiago Gomes
23 de setembro de 2018 - 0h01

O taxista Marcelo Oliveira foi vítima de assalto (Foto: Silvana Rust)

Era para ter sido apenas mais uma corrida de um dia de trabalho comum para o taxista Marcelo Fernandes de Oliveira, 50 anos, não fosse um assalto anunciado pelo próprio passageiro no final do percurso. O crime aconteceu há cerca de três anos, mas a história é quase uma rotina dos taxistas de Campos, que reclamam da insegurança que cerca o exercício da profissão na cidade.

Marcelo, que é do Rio de Janeiro, conta que nunca foi assaltado na Capital, mas atua há 10 anos em Campos e já tem um incidente para contar. Ele lembra que três mulheres e um homem entraram em seu táxi, na Praça São Salvador, por volta das 23h, e pediram uma corrida até o Parque Santa Clara. Próximo ao conjunto habitacional do bairro, o homem anunciou o assalto e o ameaçou com uma arma. Os bandidos não conseguiram levar o veículo, mas levaram dinheiro e pertences do taxista.

“Não é em qualquer área da cidade que aceito apanhar ou levar passageiro. A gente toma as precauções necessárias, mas ainda assim trabalhamos na insegurança”, comentou.

Taxista Emilson Celestino (Foto: Silvana Rust)

Caso semelhante aconteceu com Emilson Celestino Valentim, 48 anos. Há cerca de um ano, também na Praça São Salvador, um homem contratou uma corrida em direção à Usina de Furnas, onde anunciou o assalto por volta das 2h. Deste então, Emilson não trabalha mais à noite.

“O assaltante apontou a arma para minha cabeça e levou o táxi, dinheiro e pertences que estavam no interior do veículo. Tive que voltar caminhando de Furnas até a delegacia de Guarus, onde o caso foi registrado”, lembrou.

Sindicato pede ajuda da PM

O presidente em exercício do Sindicato dos Taxistas de Campos, Jocivan Pessanha Antunes, denuncia que a categoria tem sido alvo de assaltos com frequência. Apesar de não ter estatísticas, o taxista ressalta que são vários novos casos a cada mês. Jocivan aponta que não há horário mais perigoso para a atuação dos bandidos. “Os bandidos têm agido até à luz do dia”, comentou.

O taxista detalha que o tipo de assalto mais comum é aquele em que os bandidos contratam uma corrida, se passam por passageiros e anunciam o crime em um ponto do percurso com pouco movimento. Isso é mais comum de acontecer com passageiros que saem da Praça São Salvador ou das rodoviárias”.

Jocivan Pessanha é sindicalista da categoria (Foto: Silvana Rust)

Confiar em estereótipos de bandidos não ajuda na prevenção dos taxistas, segundo o presidente do sindicato. “Antigamente, a classe tinha receio dos passageiros homens, que eram os criminosos mais comuns. Agora, até mulheres com crianças estão envolvidas nos crimes”, pontuou.

 Receio — O medo da violência faz com que pontos da cidade são evitados pelos taxistas. Segundo o presidente do sindicato, a categoria tem receio de entrar, por exemplo, no Parque Santa Rosa e comunidades do Sapo I e II. “Na Penha também, pois dia desses teve toque de recolher lá”, comentou Jocivan.

Nota da PM

Em nota, o comando do 8º Batalhão de Polícia Militar de Campos (8º BPM), informou que a corporação realiza diariamente patrulhamento ostensivo na região e faz operações na cidade com o objetivo de coibir a criminalidade. “Providências já foram tomadas como a otimização do emprego do efetivo priorizando o policiamento nas ruas (enxugamento da administração e juntas médicas reavaliando as licenças), para reprimir essas ações. Vale ressaltar que registros nas delegacias ajudam na confecção da mancha criminal”, afirmou a nota.

A Polícia Militar ressaltou que denúncias que auxiliem o trabalho do 8º BPM podem feitas pelo telefone (22) 2738-0867 e pelo WhatsApp (22) 99850-6004.

Caso recente de violência contra taxista (Arquivo)

Setembro

O caso mais recente aconteceu no último dia 17, quando um criminoso se passou por passageiro para roubar um taxista. O suspeito do crime embarcou no ponto do Hospital Geral de Guarus (HGG). Enquanto o taxista cruzava a Avenida José Carlos Pereira Pinto, em direção ao Centro, o homem anunciou o assalto. Ele deixou o taxista na rua Sete de Setembro e fugiu com o carro.

Um dia antes, um homem de 42 anos foi detido após roubar um táxi. O veículo, um Corolla cinza, foi levado na localidade do Km 13. O suspeito contratou uma corrida e, durante o percurso, sacou uma arma falsa e ameaçou o taxista. A vítima pulou do veículo, que foi levado pelo homem.

Também em setembro, no dia 4, o táxi de José Oliveira dos Santos, de 64 anos, foi encontrado às margens da BR-101, na altura da localidade de Ibitioca, com marcas de sangue. No mesmo dia, o corpo do taxista foi localizado em Rio Bonito, com os braços amarrados e uma perfuração por arma de fogo no pescoço. A vítima deixou a cidade de São Paulo por volta de 12h30 do dia 3, após ser contratado por duas famílias — dois casais e cinco crianças, sendo um bebê — para uma corrida até Campos. Ele recebeu essa oferta na rodoviária do Tietê. Já no dia 8, quatro suspeitos de participação na morte do taxista foram presos. Deviano Fernandes Lima, de 28 anos, foi detido na cidade de Vitória da Conquista, na Bahia, algumas horas após a polícia ter detido os comparsas dele em Serra, no Espírito Santo.

Agosto

Outro taxista teve o carro e pertences pessoais roubados na noite do dia 12. O veículo foi encontrado na manhã do dia seguinte, sem o taxímetro e o aparelho de som. À Polícia Militar, o taxista contou que os bandidos o abordaram, por volta das 22h, no ponto onde trabalha, ao lado do Hospital Ferreira Machado. Eles se passaram por clientes e pediram uma corrida até o Parque Aeroporto, em Guarus. Próximo ao destino, a dupla anunciou o assalto. Armados com uma pistola e uma faca, eles ordenaram ao taxista que descesse do Toyota Etios e fugiram levando o veículo e um celular.

No primeiro dia do mês, mais um taxista foi alvo de bandidos. Como nos demais casos, os criminosos se passaram por passageiros. Foram levados o carro, a carteira e o celular da vítima. Dois homens embarcaram e pediram que o taxista, de 43 anos, os levasse até Guarus. No Jardim Carioca, um dos passageiros desceu rapidamente e, ao retornar, solicitou que a dupla fosse levada até a BR-101. O assalto foi anunciado na altura do km 9, em Custodópolis. Os criminosos ordenaram que o taxista abandonasse o carro e fugiram levando os pertences da vítima.

Maio

Na madrugada do dia 16, um taxista de Campos foi assaltado e teve o carro roubado por falsos passageiros em frente à Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), na Avenida Alberto Lamego. A vítima, de 66 anos, foi abordada por dois homens na Rodoviária Roberto Silveira, que solicitaram uma corrida até o Centro de Evento Populares (Cepop). No caminho, um dos homens anunciou o assalto e encostou uma faca na barriga do taxista. O veículo foi encontrado pela manhã, sem o kit gás, sem adesivo, sem taxímetro e sem as placas. Os assaltantes também levaram celular e R$ 50.

Morte em 2017

Paulo César Rosa Ferreira Júnior, de 37 anos, foi morto a tiros e com uma paulada na cabeça em janeiro de 2017 durante um assalto. Os suspeitos são dois adolescentes, de 15 e 16 anos, que foram apreendidos logo após o crime. Segundo as investigações, os suspeitos entraram no táxi na Praça São Salvador e a vítima foi assassinada próximo ao distrito de Travessão de Campos. A Polícia Militar está com o policiamento intensificado. Os adolescentes foram encaminhados para a 146ª Delegacia de Polícia de Guarus e estão à disposição da Justiça.