A explosão de chikungunya em Campos preocupa as autoridades de saúde. Só no primeiro semestre, foram notificados quase 2400 casos, além de 95 notificações de dengue. O combate às doenças transmitidas pelo mosquito Aedes Aegypti passou a contar com reforço de pesquisadores do Laboratório de Ciências Químicas da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf). Repelentes e armadilhas foram desenvolvidos e disponibilizados. Uma parceria entre a prefeitura e a universidade pretende controlar e monitorar o mosquito.
De acordo com o químico Edmilson José Maria, responsável pelo Laboratório de Ciências Químicas da Uenf, a pesquisa para a criação de um repelente durável, barato, e que não afete o meio ambiente acontece há quatro anos. O produto foi aperfeiçoado nos últimos dois anos e é feito em barras com ingredientes para atuar, atrair e combater somente mosquitos. O uso do feromônios (substâncias químicas que, disseminadas entre seres de uma mesma espécie, promovem reações específicas em seus indivíduos) é um dos elementos utilizados no desenvolvimento de repelentes e armadilhas criadas para combater o mosquito:
“Além do repelente, criamos armadilhas que são feitas com um disco e papelão com cola. Nele, utilizamos os produto à base de feromônios e outras substâncias que vão atrair o Aedes Aegypti e outros mosquitos por conta do odor que imita o cheiro humano. Os insetos são capturados e presos ao papel com grude. Isto impede a utilização de carros fumacê, altamente danosos ao meio ambiente, pois o inseticida usado mata abelhas, besouros, formigas e até pássaros, causando um grande desequilíbrio ambiental”, explica Edmilson Maria.
Além dos repelentes e das armadilhas, os pesquisadores da Uenf desenvolveram um aplicativo de celular que ajuda agentes de endemias em atuações nas áreas afetadas pelo mosquito transmissor da dengue, chikungunya e zyka. “Trata-se de um recurso para georreferenciamento com informações de bairro, velocidade do vento, temperatura, hora onde são feitas as ocorrências de identificação de focos. Serve como um banco de dados”, destacou o químico.
Os produtos desenvolvidos pelos pesquisadores da Uenf foram divulgados entre representantes das áreas de saúde, endemias e zoonoses de nove municípios da região, durante um seminário na universidade. Segundo o químico Edmilson, o objetivo não é difundi-los ou comercializá-los entre a população, mas disponibilizá-los entre os gestores públicos como as prefeituras, responsáveis em combater e controlar a dengue.
“Estamos aguardando a viabilização de parcerias. Campos é o município onde mais há casos de chikungunya. É preciso minimizar o problema com prevenção, controle e monitoramento do mosquito transmissor. Acredito que a distribuição de nosso repelente em locais onde há infestação de mosquito, além da instalação das armadilhas são infinitamente mais baratos do que tratar de pessoas já infectadas. O custo de tratamento de cada paciente com dengue custa de R$730 a R$1800 por dia aos cofres públicos. O SUS não banca tudo, dividindo a conta com as prefeituras”, destaca.
Edmilson José Maria também fala das vantagens que a pesquisa oferece aos gestores municipais com produtos de baixo custo e com excelente resultados, segundo comprovações dos experimentos. “O investimento em prevenção é muito mais barato que combater epidemias e tratar pessoas doentes. Os programas nacionais divulgam a conscientização sobre os perigos do mosquito, mas não priorizam as ações que podem extinguir ou diminuir o problema”, defende.
Na quarta-feira (18), representantes da Uenf e do Centro de Controle de Zoonozes (CCZ), firmaram uma parceria. A partir da segunda quinzena de agosto, será disponibilizada à população de dois bairros, onde o índice de infestação do mosquito estiver mais elevado, a armadilha “GrudAedes”, que será confeccionada pelos especialistas da Uenf, em uma sala do CCZ. “Esta é uma parceria de extrema importância, pois temos oportunidade de proporcionar saúde por meio da pesquisa científica”, concluiu a diretora da Vigilância em Saúde, Andreya Moreira.