E aquela menina do interior de Minas, hoje, brinca com as letras com a mesma alegria, sem, contudo, esquecer da velha infância, a inspiração primeira.
INFÂNCIA
Nas colinas de Minas,
brinquei menina.
Professora, princesa
bruxa, rainha
de castelos inventados
sem coroa e reinado.
Subi em árvores,
jabuticabeiras e goiabeiras.
Caí de árvores,
ralei joelhos, quebrei braço.
Brincadeira e choradeira.
Chorei triste,
boneca esquecida,
na beira do poço
da velha casa.
A outra, olho afundado,
cabelo grudado.
Estudei ciências e geografia,
leitura e escrita.
Minha escola pequenina
forno de ideias,
meu mundo de descobertas
sem TV e computador.
Vesti chita e babados,
pouca renda,
algum calçado.
Vestido bordado
era sonho mais sonhado.
“Sabiá lá na gaiola
fez um buraquinho
voou, voou…
E a menina
que gostava tanto do bichinho
chorou, chorou…”
A barra do vestido
girava, girava
contando história do sabiá.
Minha infância leve, leve
rodopiava feliz
longe do mar.
Eliana Garcia
