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Pela primeira vez, UFF cria vaga para transgênero, transsexuais e travestis em curso de pós-graduação

Cotas para o curso de Mestrado em Comunicação são apoiadas e analisadas por acadêmicos e ativistas pelos direitos humanos

Geral
Por Ocinei Trindade
20 de junho de 2018 - 16h25

Campus da UFF em Niterói (Foto: Reprodução)

A Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal Fluminense está com inscrições abertas até 29 de junho para o processo seletivo de ingresso no curso de Mestrado em Comunicação, para o ano de 2019. Ao todo, são oferecidas 18 vagas. São reservadas, no mínimo, 30% de vagas para candidatos que optarem por concorrer às vagas de políticas de ação afirmativa (PAA) para negros ou indígenas. Há também uma vaga adicional para candidatos transgênero, transexuais ou travestis. Esta última decisão do edital chamou a atenção do público, e rendeu elogios entre acadêmicos e ativistas pelos direitos LGBTQI.

De acordo com o edital da UFF, na inexistência de candidatos transgênero, transexuais ou travestis, a vaga será destinada à ampla concorrência. No ato da inscrição, será oferecida a todos os candidatos a opção de concorrer às vagas destinadas às PAA, condicionadas à sua auto identificação como (a) negro, (b) indígena, (c) transgênero, (d) transexual ou (e) travesti, Todos os candidatos serão submetidos a processo seletivo único, e todas as etapas são obrigatórias.

O jornalista Wilson Pinheiro elogia a medida (Foto: Reprodução)

Para o jornalista e ativista LGBT, Wilson Pinheiro, o edital da UFF é um avanço social:

“A iniciativa é maravilhosa e justa. O Brasil é o país que mais mata pessoas trans, segundo dados do Grupo Gay da Bahia. Transsexuais e travestis em sua grande maioria não têm acesso básico à educação. São expulsas de casa no período escolar. Segundo a Organização Mundial de Saúde, a expectativa de vida de uma travesti é de 35 anos. Então, essas vagas destinadas às pessoas trans é o pagamento de uma dívida que nossa sociedade tem com essa população”, disse Wilson.

O empresário e ativista pelos Direitos Humanos, Fael Borges, também elogiou o edital:

Fael Borges defende a inclusão de trans no sistema de ensino (Foto: Reprodução)

“A invisibilização das pessoas trans em ambientes escolares é uma realidade. Não se trata a temática nas salas de aula e, quando encontramos esse público sentado nas carteiras, fatalmente sofrerão com o ambiente hostil e opressor que aquele espaço — que deveria ser acolhedor — lhe causa. Essa medida dá voz à uma parcela da população LGBT que ainda luta para ser reconhecida como gente; para ter seus direitos positivados; para transitar nos espaços comuns sem sofrer violência.  Quantas transexuais estudaram na sua sala? Partindo dessa premissa, conseguimos enxergar a importância de falarmos dessas cotas e, muito além de apoiá-las, entender a profundidade dessa medida. Não é apenas a cota que resolverá este problema. É preciso investir na base da educação com programas que verbalizem a transfobia”, avalia Fael.

Para o pesquisador em formação da homocultura brasileira nas mídias, o doutorando em Cognição e Linguagem pela Universidade Estadual do Norte Fluminense, Jordan Alves, a nova cota para o público trans é positiva:

Jordan Alves é pesquisador e doutorando pela Uenf (Foto: Reprodução)

“Recebo com felicidade a noticia de inclusão de transsexuais, transgêneros e travestis no sistema de cotas da UFF. Essas pessoas foram excluídas e  silenciadas  de todo processo histórico e político da nossa nação, mas, felizmente, há um movimento forte e sistêmico que luta contra a discriminação e a LGBTfobia. Com certeza, é uma vitória importante para comunidade LGBTT”, considera.

Para a socióloga e professora de Sociologia Política da Uenf,  Luciane Silva, é difícil o fato de se conseguir isonomia de tratamento nas universidades brasileiras, algo já bastante ratificável em outros países. A oferta de vagas para transgênero, transsexuais e travestis no processo seletivo da UFF é importante, porque demonstra o reconhecimento do Estado em relação às diferenças e às diversidades:

A socióloga Luciane Silva defende a diversidade e representatividade na academia e universidade (Foto: Reprodução)

“Nós sabemos que isso não é uma solução, mas sabemos hoje que a representatividade é importante. A pauta identitária é relevante. Nesse sentido, a visibilidade trans deve ser assegurada. A questão racial é uma outra luta, em outro campo. Temos discutidos isto em várias publicações. As cotas raciais são um problema para ser discutido com muita calma. As cotas são absolutamente importantes para um meio, e não para um fim;  para os que elas representam em termos de universidade; é uma questão histórica de reparação em relação à política de inclusão. Elas são fundamentais, mas sobretudo pelo que elas possibilitam alterar, e muito, a produção de conhecimentos na universidade”, conclui.