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E os campistas descobrem Portugal

Na terra de Fernando Pessoa, os campistas são outras pessoas chegando como argonautas

Opinião
Por Redação
17 de junho de 2018 - 0h43

São muitas as influências portuguesas em Campos, a começar por ter sido o único país do velho mundo a instalar em Campos um vice-consulado que, com o tempo, se transformou em Casa Brasil-Portugal. Agora, o país do velho mundo que nos descobriu é um novo mundo que está sendo descoberto por campistas, na maioria jovens, em busca de sonhos.

Estão espalhados por todos os cantos lusitanos e se deliciam a margem do Tejo. Na terra de Fernando Pessoa, os campistas são outras pessoas chegando como argonautas, que chegam voando. Do vinho do Porto à dobradinha do Chiado, bairro bucólico de Lisboa, eles escutam um fato ao som do Alentejo.

Lisboa com seus suaves azulejos encanta, não como o império um dia encantou a colônia. Na verdade, os campistas, como milhares de brasileiros, estão desembarcando em busca de um sonho em tempos tão difíceis no Brasil. Uns vão sozinhos e sonham em constituir família por lá. Famílias prontas de Campos também estão indo, como mostra a reportagem Especial desta edição.

A cidadania portuguesa, assim como a italiana é mais flexível. A barreira da língua praticamente não existe e a estabilidade econômica é um convite para quem persegue um sonho e não é perseguido por isso. Portugal com os brasileiros e um país hospitaleiro, onde cada um tem seus direitos por inteiro.

No horizonte, os campistas que por lá estão já não têm mais a imagem dos canaviais e a paisagem são as avencas e os alecrins. Trocar o samba pelo fado não é uma tarefa fácil. Muitos campistas que foram descobrir essa terra discutem com a saudade, mas se sentem em casa.

Lendo, parece que Portugal é logo ali, embora existam léguas a nos separar, tanto mar, como disse Chico Buarque em uma de suas canções. É o que se pode chamar de Fado Tropical. Já tem campista trocando o “oi” pelo “pá”, mostrando que o sonho pode estar em qualquer lugar a se realizar.

Neste momento Portugal parece ser a melhor saída e ao mesmo tempo a melhor chegada para que tem um pouco de dinheiro e muita garra. Mas não se pode deixar de registrar que essa migração um dia tende a fazer o caminho contrário, pois ainda é possível sonhar com um Brasil melhor, embora um sonho difícil de se realizar em curto prazo.

Falar da terra de Fernando Pessoa, brota uma espécie de poesia fria de um tempo desencontrado, para os que vão voando ou na proa, onde o peito desabotoa, e a pessoa já nunca esquece a pátria de origem, e no caso de Portugal, nunca esquece a origem da Pátria. Eles agora são meio lusitanos.

Saltar as amarras e desbravar os mares foi o que aprendemos com os portugueses, e agora esses campistas fazem o percurso inverso, em busca do já falado sonho, traduzido em dias melhores, em oportunidades que parecem enormes. É da natureza portuguesa e da nossa também.