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Campistas em busca do sonho em Portugal

Eles cruzaram o oceano para estudar, trabalhar e viver no país que um dia nos descobriu e que agora está sendo descoberto

Geral
Por Redação
17 de junho de 2018 - 0h17

Por Ocinei Trindade, Ulli Marques, Girlane Rodrigues e Aloysio Balbi

A maioria é formada por jovens universitários que vão estudar, mas boa parte atravessa o oceano em busca de uma vida melhor e mais segura na terrinha lusitana (Foto: Arquivo pessoal)

Se alguém digitar a frase “morar em Portugal” no Google, em poucos segundos, o site de informações oferece quase 16 milhões de respostas com links e páginas na Internet.  No topo, aparecem canais com manuais para quem tem interesse em se mudar para o país que nos colonizou. Portugal está em alta. No turismo, é um dos destinos mais procurados na Europa. Artistas, como Madonna passam por lá. Brasileiros como Pedro Cardoso e Luana Piovani, além do cantor Neguinho da Beija Flor se mudaram ou estão de mudança. Nessa onda, muita gente nascida em Campos também optou por viver na terra lusa. Para uns, Portugal é logo ali.

A estudante de engenharia de gestão industrial Sophia Soares se mudou para Portugal, em 2017. Viajou em setembro do ano passado, período que se iniciam as atividades escolares na Europa. Nascida em Campos, estudava na Universidade estadual do Norte Fluminense, mas estava cansada de tantas greves e falta de perspectiva no Brasil. Ela conta que sempre quis ter uma experiência internacional. O irmão José Heitor Soares, já estava em Coimbra, famosa cidade universitária portuguesa. Como ele só elogiava a cidade e o país, aproveitou e foi também para lá.

 

Viver em Coimbra

Sophia e o irmão José Heitor são alguns dos muitos estudantes brasileiros que vivem em Coimbra. “Por enquanto, só estudo. No próximo semestre iniciarei o Mestrado na área de Engenharia. Há vários campistas estudando aqui e querendo vir para cá. A Universidade de Coimbra aceita o exame do Enem, por exemplo”, ela revela. Sophia tece muitos elogios à cidade de Coimbra. “É muito tranquila, festiva, possui muitos bares e praças e reúne estudantes do mundo inteiro. Trata-se de um ambiente muito agradável”.

No começo, Sophia Soares diz que foi bem difícil adaptar-se aos costumes muito diferentes, e à falta enorme da família e dos amigos que deixou em Campos.  Hoje, diz estar acostumada e tranquila, mas morre de saudades. “A maioria dos portugueses recebe bem brasileiros. Não tenho do que reclamar. Mas há histórias de gente que às vezes esbarra com preconceitos com estrangeiros. Talvez pela grande quantidade de brasileiros, não sei. Os portugueses em geral são muito gente boa. mas ainda há alguns machistas e intolerantes. A gente encontra isso em muitos lugares, infelizmente”.

Para os irmãos Soares, Brasil e Campos têm muito o que aprender com Portugal. “Aqui, o sistema público funciona muito bem: transporte, saúde, instituições de ensino. Acho que tudo tem a ver com a civilidade e com a educação que funcionam muito bem por aqui. São exemplares”, concordam.

Para Sophia, quem quiser ir para Portugal, ela aconselha conversar bem com quem mora lá, buscar informações sobre tudo. “É bom vir com a mente aberta e conhecer a cultura local. Há muitos brasileiros vindo para cá que não se adaptam. Estão engessados na cultura brasileira, acham que desse jeito é melhor e querem que os portugueses se adaptem à cultura brasileira, quando nós somos diferentes aqui. É bom estar disposto a mergulhar na cultura local, e realmente interagir com essa cultura”, sugere.

 

Geovane Mendes que mora em Porto vai com frequencia a Lisboa encontrar amigos (Foto: Arquivo pessoal)

Alegrias no Porto

Outro campista que escolheu Portugal para morar é o jornalista Geovane Mendes. Em 2016, ele foi viver em Miami, nos Estados Unidos para aprimorar o inglês. Lá, conheceu profissionais que o convidaram para atuar no setor de comunicação de uma empresa do setor alimentício na cidade do Porto. Ele não tem do que reclamar da rotina portuguesa. Diz ser apaixonado pelo Brasil, mas Portugal é o seu novo amor, e onde pretende continuar enquanto puder:

“Tenho 39 anos, sou muito feliz e orgulhoso pela minha Campos. Trabalhei em muitos veículos de comunicação. Fui viver em Niterói em busca de trabalho. Depois, EUA para aprender línguas e me aprimorar como profissional. Era para ser uma saída breve, mas as coisas foram acontecendo e eu fui ficando no exterior. Amo Portugal. A violência do Brasil e a crise econômica e política aumentam a vontade de eu permanecer no Porto. Portugal é um país rico, o mais seguro da Europa, um dos melhores destinos turísticos do mundo. A minha família mora no Parque João Maria, em Campos. Sempre digo que sou um filho amado de minha terra  que foi ali e já volta. Porém, por enquanto, não regresso. Vou cursar o Mestrado em Comunicação e Telejornalismo na Universidade do Porto em setembro próximo. Mato as saudades do Brasil encontrando muitos brasileiros por aqui”, diz Geovane.

Não são só estudantes que estão indo para Portugal em busca de um diploma de requinte em universidades como a tradicionalíssima situada na cidade de Coimbra, e na fabulosa cidade do Porto. Entre outros campistas que partiram para Portugal, está Renata Sobral Marques. Ela é bisneta de portugueses e pertence a uma família tradicional de Campos. Formou-se na área de Informática no Brasil, mas quis mudar de vida fora do país. Um dia, ela e o marido, o advogado Ricardo Marques, decidiram afivelar as malas. Rumaram para uma vida definitiva em Portugal com os filhos João Victor e Maria Fernanda. O casal reside na cidade do Porto, no Noroeste de Portugal. É a segunda maior cidade do país, depois da capital, Lisboa.

Renata não se arrepende de ter se transferido de Campos para lá, e acha que fez a escolha certa. “O fato de ter a cidadania portuguesa facilitou bem. Assim como falar o mesmo idioma também ajuda. São muitos os brasileiros aqui e campistas também. Os campistas que aqui estão estudando certamente não retornarão”, aposta Renata.

 

Como conquistar a cidadania portuguesa

Campos é um município em que residem muitos descendentes de portugueses e, também são muitos os que desejam sair do Brasil e morar em Portugal. O que poucos sabem é que os trâmites necessários para a obtenção da cidadania portuguesa são relativamente simples de serem cumpridos, principalmente para filhos e netos de portugueses.

De acordo com o advogado Rafael Bastos, para aqueles que possuem familiares de origem lusitana, esse documento pode ser requerido em cartórios e consulados portugueses e demoram, em média, de três a quatro meses para serem autorizados. Outro caminho legal são os vistos, emitidos para estudantes e trabalhadores.

“No caso de estudantes é necessário comprovar o aceite da universidade; no caso de trabalho, é preciso que haja o convite de trabalho de uma empresa em Portugal. O visto, nesses casos, é mais burocrático, e tem prazo de validade de quatro meses. Passado esse período, o brasileiro pode solicitar a autorização de moradia, que permite o exercício contínuo do trabalho”, explicou Rafael. Há também a possibilidade de solicitar o visto de viagem comum e, já em Portugal, requerer a cidadania. Esse também é um processo simplificado e célere, segundo o advogado.

 

Portugal em alta

Portugal está entre os países mais procurados por brasileiros que querem morar na Europa. Estima-se que há cerca de meio milhão em Portugal, representando 25% dos imigrantes. O sonho de viver lá exige muita organização e planejamento, sobretudo financeiro. É preciso garantir um visto de permanência no país. Os tipos de visto mais comuns que são de estudo, trabalho, empreendedor, startup, visto de rendas próprias (aposentados, por exemplo), e Golden Visa (compra de imóvel).

Portugal é um país pequeno localizado na Península Ibérica, na fronteira com a Espanha. Possui um território que equivale aos estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo juntos. São cerca de 11 milhões de habitantes. De acordo com especialistas, há cidades de todos os tamanhos e estilos de vida que atraem imigrantes. As mais procuradas são Lisboa, Porto, Braga, Coimbra e Guimarães.

Desde que Portugal criou um visto especial para pessoas que possuem rendas próprias (aposentados ou não), o país tem recebido anualmente milhares de aposentados que veem naquele país a oportunidade de viver melhor, gastando menos do que gastavam no Brasil e com muito mais segurança. O custo de vida em Portugal pode ser até 50% mais barato se comparado ao Brasil. Aposentados brasileiros acabam conseguindo ter um conforto muito maior, além de se sentirem mais respeitados e acolhidos.

Lisboa e Porto são as cidades mais caras em Portugal, porém, são onde há mais  oportunidades de trabalho e os melhores salários.  Um casal sem filhos, vivendo em um apartamento bem localizado com um quarto, incluindo as contas básicas (água, luz, telefone, internet) e comida, o custo de vida por cidade equivale a 2 mil euros em Lisboa; 1,5 mil eurosem Porto; 800 euros em Braga; 700 euros em Coimbra e Guimarães. Trata-se de um levantamento aproximado em média, segundo especialistas em agenciamento de brasileiros que querem se mudar para Portugal.

 

Adeus, Campos

Em agosto, quem se despede da cidade rumo à cidade do Porto é o casal Cenira e Carlos Campos. Se mudarão com as filhas de sete e oito anos, respectivamente. Ninguém ainda pisou em Portugal, mas se informaram bastante com os amigos que já vivem por lá. Providenciaram os vistos e estão prontos para partirem.  A mudança foi motivada, principalmente, para oferecer qualidade de vida e segurança para criarem as meninas. O casal possui uma agência digital e trabalha com tecnologia da informação em Campos. Eles querem adquirir novos conhecimentos para aplicarem junto aos clientes do Brasil.

Cenira revela que as filhas estão ansiosas para a nova vida em Portugal. “Estamos apreensivos, mas muito confiantes. Não temos medo de ir, mas temos medo de estarmos no Rio de Janeiro, por exemplo. Aqui não é um lugar que gostaríamos de ver nossas filhas crescerem. Não temos segurança aqui. Nossas famílias nos apoiam, mas lamentam a distância. Lá, a vida é mais barata e uma de nossas filhas depende de um bom tratamento de saúde que Portugal pode nos oferecer sem um custo elevado como é no Brasil. Nossos amigos que estão lá vivem bem. E queremos isto para a nossa família. A vida vai seguir, e esperamos que seja boa para todo mundo, lá e cá”, conclui.