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Guarus de frente para o crime

Dos 71 homícidios registrados em Campos até o dia 10 de abril, 57 foram cometidos no subdistrito, área mais perigosa do município

Campos
Por Redação
16 de abril de 2018 - 0h01

Cena comum nos bairros do subdistrito de Guarus com corpos estendidos no chão isolados pela fita da perícia

Não é nenhuma novidade que a violência no Estado do Rio de Janeiro está cada vez mais crescente e que a população de seus 92 municípios está cada vez mais refém da insegurança, que persiste se consolidar em qualquer lugar, seja na rua ou até mesmo dentro de suas próprias casas. Guerras entre facções rivais, balas perdidas, troca de tiros, assaltos. Tudo isso parece tornar o morador cada vez mais amedrontado e sem muitas opções de cumprir com suas rotinas e sem a certeza de que conseguirá voltar para casa.

Em Campos, por exemplo, a maior cidade do interior do Estado, a violência também toma conta da rotina das  pessoas. Somente até o dia 10 de abril o município já contabilizava 71 pessoas vítimas da violência. Nesse período, foram 57 assassinatos, sendo que 80% dos homicídios aconteceram no subdistrito de Guarus. O local, que hoje acolhe cerca de 200 mil moradores, é um espelho deste número que assusta a cada dia a população campista, com diversos bairros e muita disputa por pontos de tráfico de drogas. No subdistrito, os bairros que concentram os maiores números de crimes contra a vida são Santa Rosa e Eldorado, até mesmo pela disputa pelo tráfico de drogas, já que pertencem a facções criminosas rivais e contabilizam até dois homicídios por dia.

O Jornal Terceira Via ouviu o delegado titular da 146ª Delegacia Legal de Guarus, Luiz Maurício Armond. Para ele, o tráfico de drogas está realmente em maior incidência no subdistrito. “Guarus ainda é um local com bastante espaço e possibilidades de crescimento, então a questão socioeconômica, que não podemos negar, que também é bem abaixo da área central, acaba abarcando o tráfico de drogas. Para os adolescentes, por exemplo, o tráfico é um meio em que eles enxergam a chance de se tornarem mais respeitados, com um dinheiro que chega mais fácil e isso acaba fortalecendo ainda mais a criminalidade”, disse o delegado.

O delegado titular da 146ª Luis Maurício Armond enumera as causas da violência

Delegado
Ainda de acordo com Armond, se o tráfico não for combatido o quanto antes, a área central do município também sofrerá com um aumento de assaltos. “O tráfico de drogas se consolidando, a tendência é que a busca por dinheiro se dê na área central da cidade, já que nitidamente é mais privilegiado, então os números de assaltos a pedestres e comércios tendem a aumentar. Hoje, vejo que os adolescentes envolvidos na criminalidade tem uma completa alienação do futuro e presente deles. Me parece que eles não se importam com nada, nem em matar e nem em morrer. Eles só vivem o momento. Acredito também que nosso sistema judiciário estimula muito isso. Muitas vezes apreendemos o adolescente, mas a Justiça tenta de todas as formas evitar o encarceramento, então isso acaba dando uma confiança ao adolescente criminoso, que sabe que pode fazer o que for, que nada pode acontecer”, finalizou Armond.

Polícia Militar
Para o comando do 8º Batalhão de Polícia Militar (8º BPM), a disputa pelo tráfico de drogas é um dos maiores motivos para o grande número de homicídios registrados. Em nota, o comandante do batalhão, Fabiano Santos, informou que “a área de Guarus faz parte da 2ª Cia do 8º BPM e seu território é coberto por cinco setores de  patrulhamento além do GAT2 e do PATAMO2 para o policiamento ordinário. Fora esses, ainda existem o policiamento extraordinário, reforçado por viaturas que vem de outras Cias, intensificando patrulhamento e abordagens na área, retirada de barricadas, coibição de bailes e o container do bairro Eldorado, evitando não só homicídios como outras modalidades de crimes também.”

Questionado sobre a relação dos crimes com a prisão de Francio da Conceição Batista, conhecido como “Nolita”, um dos maiores chefes do tráfico de Guarus, a nota esclareceu que “houve um aumento no número de homicídios com relação ao mesmo período do ano passado, porém, não podemos precisar se foi somente pela prisão de um indivíduo, pois diversos fatores influenciam nesse tipo de acontecimento.”

Crimes em Guarus
No dia 22 de fevereiro, moradores da Rua Bartholomeu Lizandro, no Parque São Matheus, se assustaram com tiros disparados em plena luz do dia. Segundo informações da Polícia Militar, um policial de folga informou sobre o crime. Quando a equipe chegou ao local foram encontrados quatro cápsulas de munição nove milímetros e uma cápsula de munição calibre 380. Moradores do bairro informaram aos policiais que três suspeitos, em um carro Ecosport, preto, chegaram até a rua, em frente a um bar, e desceram com os rostos cobertos por camisas, disparando diversos tiros. Diogo Andrade da Silva, de 21 anos e Marco Aurélio Porto do Rosário foram socorridos e levados por populares para o Hospital Ferreira Machado (HFM). Diogo era funcionário do bar onde o crime aconteceu.

Outro crime que chocou os campistas foi o de uma adolescente que teve o cabelo raspado por traficantes, no Santa Rosa. Cinco suspeitos teriam sequestrado a vítima e a levado para uma casa. No momento em que seria abusada sexualmente, a adolescente conseguiu fugir e acionou uma equipe da PM, que estava em patrulhamento de rotina pelo bairro. Na busca, os policiais conseguiram deter três suspeitos do crime, sendo um menor de idade. A vítima, que possui uma tatuagem de uma facção criminosa, foi socorrida para o Hospital Ferreira Machado (HFM) e liberada após atendimento médico.